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Feliz Segunda-Feira
André - 28 fevereiro 2011 - 04:12
Natalie Portman, vencedora do Oscar 2011 de Melhor Atriz por Cisne Negro.
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Diálogos em inglês que gostaríamos de ver
André - 22 fevereiro 2011 - 18:54
- What movie did you see?
- Saw 2.
- Oh, ok, what movieS did you see, then?
- Just Saw 2!
- I HEARD IT, but what were the titles of the movies?
- SAW 2!
- For fuck's sake, why don't you tell the fucking titles of the fucking movies? Are you a fuckin' scratched disc?
- Fuck you, you deaf son of a bitch. Can you hear me saying "fuck you"?
- That's it, you little prick. I wanna see you talk that way to my fucking friend here, the FUCKING COLT 45!
- Hahaha, Colt 45 is a pussy gun. What are you, a little girl?
- One more fucking word and I'll make you suffer like those guys at that movie full of tortures and blood and stuff.
- What movie?
- Saw 2!
- Oh, fuck.
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Entendam o mundo atual
André - 20 fevereiro 2011 - 22:01
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O dia em que eu achei a minha alma
André - 17 fevereiro 2011 - 01:20
Num desses domingos que não poderiam ser mais domingo, onde o tédio se espalha pela humanidade feito vídeos de animais fazendo coisas engraçadas, resolvi que ia fazer algo útil, algo que tornasse minha vida mais prática. E então decidi encontrar a minha alma.

Eu sei, eu sei, parece algo totalmente implausível,dada a minha capacidade praticamente nula de achar qualquer coisa. Mas ei, quão longe uma alma pode ir, certo? Tipo, quase cem por cento de chances que estivesse aqui em casa, mesmo. Alma não é o tipo de coisa que a gente simplesmente perde sem querer na rua, tal qual moedas ou a virgindade.

Eu não havia exatamente traçado um plano de exploração, então resolvi começar pelo óbvio: as prateleiras da estante aqui do quarto que sustentam meus livros, meus filmes e meu óculos escuro parecido com os dos xerifes norte-americanos (sequer considerei a hipótese dela estar no óculos, entretanto, pois não ostento um bigode parecido com os dos xerifes norte-americanos). Dei uma olhada superficial por tudo, mas em vão. Só o que achei nessa primeira inspeção foram notas de dinheiro presas em uma ratoeira no lugar onde deveria estar o livro Clube do Filme. Talvez uma abordagem mais direta e mais específica fosse necessária. Então, esperançoso, peguei o Ficções, do Borges, virei na horizontal e folheei rapidamente as páginas para ver se algo caía dali. E caiu, mas era só um cupim intelectual que se aventurava por talentosos ensaios e crônicas. Contudo, confesso que isso não chegou a ser uma grande decepção, ou uma surpresa negativa. Eu sabia que era uma tentativa fadada ao fracasso. Afinal, encontrar uma alma comum e infame no meio das palavras arrebatadoras de Borges é algo tão provável quanto vencer a loteria da Babilônia.

Eis que, lembrando dos valorosos ensinamentos de Hollywood, apostei no clichê e puxei triunfante o DVD de Clube da Luta, o qual tem - ou ao menos deveria ter - escrito à caneta na lateral os dizeres "Projeto Bíblia". Era algo tão óbvio que não havia como não estar ali. Por isso talvez tenha sido uma coisa boa o fato de realmente não estar ali, pois indica que eu ainda consigo surpreender a mim mesmo. Tudo que achei dentro da caixinha do DVD foi o meu alterego imaginário, que parece como eu gostaria de parecer, fode como eu gostaria de foder, é inteligente, capaz, e, mais importante, é livre de todas as formas que eu não sou. Sujeito bacana ele, apesar de ligeiramente esquizofrêncio.

Dei uma vistoria caprichada no Xbox, onde vi apenas um punhado de conquistas virtuais, nas latinhas de cerveja, que abrigavam única e exclusivamente histórias embaraçosas, e na mesa de botão, que guardava nas imperfeições de sua velha madeira uma infância inteira, mas desconhecia totalmente as desilusões de uma vida  adulta. Por um momento imaginei tê-la encontrado por entre as camisetas de futebol, e cheguei a dar uma volta olímpica pela casa em comemoração. Entretanto, ao pegar a camiseta da seleção da Espanha, lembrei que ela não possuía o número 10 nem o nome Fábregas às costas, e me dei conta de que, por ser ela mesma incompleta, minha alma jamais se esconderia em um lugar também incompleto.

Fui verificando todos os cantos, todas as possibilidades, dando voltas e voltas pela casa, mas eram sempre buscas infrutíferas. E, tal qual acontece com todos que tentam realizar algo no domingo, desisti. Simplesmente deitei na cama, frustrado. Eu parecia estar quase lá, perto o suficiente pra senti-la, distante o suficiente para não alcançá-la. Só que faltava algo, e esse algo não me deixava completar a busca.

Foi quando uma última possibilidade seduziu minha mente. Uma bastante simples e óbvia, admito, mas nem por isso menos interessante. Então, tomado por uma sensação que todos conhecemos bem, olhei debaixo da cama. E sorri, comemorei, levantei os braços, dei pulos de alegria. Eu a havia encontrado: uma palheta. Puxei ela e a segurei entre os dedos, sentindo o som praticamente ecoar sozinho daquele pequeno objeto. Com a mão livre peguei o violão, que guarda nas imperfeições de sua madeira os exageros da adolescência e a divertida maturidade de um início de vida adulta. Demorei tempo suficiente afinando ele, me certificando de que cada nota soaria exatamente como deveria soar. Testei alguns acordes, batendo a palheta de leve nas cordas já desgastadas. E comecei a tocar Thunder Road.
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Feliz Segunda-Feira
André - 14 fevereiro 2011 - 15:48
Nicole Kidman
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Não comprei a ideia
André - 12 fevereiro 2011 - 12:44
Hoje eu fui até o Iguatemi pra assistir a O Discurso do Rei (mais tarde posto a crítica em algum lugar). Ah sim, abro aqui um parênteses pra dizer que, apesar de ótimo filme, a indicação dessa película pra nada menos que doze Oscars é é uma metáfora sobre como a humanidade está tomando o caminho errado, e fecha parênteses. Enfim, Iguatemi. Matando tempo antes do cinema, dei uma circulada pelo shopping. E me ocorreu que não apenas eu sou indiferente à maioria das lojas do recinto, mas também que as ligeiramente atraentes me intimidam. Elas são bonitas demais, organizadas demais. Repletas de protocolos a serem seguidos, o que enterra aquela ideia de que toda ação provoca uma reação, pois nessas lojas cada ação provoca o início de uma das regras do manual dos vendedores.

Sei que criticar a artificialidade de um shopping center é tão pertinente quanto dar bóias a um peixe ou chuteiras a um Robinho. Mas o ponto aqui não é o consumismo, e sim a feiúra decorrente desses protocolos e arquiteturas e paisagismos e etcéteras. Tudo tão milimetricamente calculado que não faz efeito. Tudo tão impunemente branco que chega a ser risível. É como uma daquelas gurias que realmente é bonita, só que daí chega na formatura e ela tenta traduzir o photoshop pra vida real, tomando um porre de maquiagem e cortes de cabelo na tentativa de ficar perfeita, quando tudo que consegue é uma passagem de trem para a estação "eu achava que ela era gata, mas olhando bem agora...". Uma feiúra tão ridícula, tão desgraçadamente óbvia que eu fico parado ali na frente, pensando se devo entrar na loja e me submeter a um determinado número de procedimentos que teoricamente me levariam até a compra, mas só me afastam dela. Vejam bem, o problema não é a artificialidade do ambiente; o problema é ver tudo tão metodicamente arrumado para gerar determinado tipo de reação, tentando vender o status de vitória, quando tudo aquilo na verdade representa apenas pessoas sem imaginação se comunicando com outras pessoas sem imaginação. A chatice em nível Defcon 1.

Lição de casa a todos: desenhar por cima das linhas.
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Levando na conversa
André - 10 fevereiro 2011 - 00:37
Sou total e completamente iletrado na arte de conversa furada (ou conversa de elevador, small talk, seja lá como chamam). Provavelmente, quando eu nasci, Deus substituiu essa parte do meu cérebro pela turma de neurônios que me permite saber de cor a escalação da seleção da República Tcheca que jogou a Euro 2004 (Cech; Grygera, Rozenhal, Ujfalusi e Jankulovski; Galasek, Poborsky, Rosicky e Nedved; Baros e Koller). Ou talvez seja efeito colateral de bater tantas vezes a cabeça na parede durante partidas de videogame. Seja qual for o motivo, não estou apto a realizar tal tipo de conversa.

Isso, claro, faz com que eu acabe frequentemente em situações que exigem a habilidade de prosear levianamente, ou seja, exigem uma carga descomunal de conhecimento sobre assuntos que são tão importantes para mim quanto, digamos, o povo é importante para um governo. Novelas, reality shows, tempo, animais de estimação, trânsito, responsabilidades da prefeitura, entre outros, são temas mais do que comuns nesse tipo de conversa. Temas que, ao entrar na minha cabeça, são sumariamente caçados, capturados e executados, sem nenhum perdão ou espaço para fuga. Sem sobreviventes. Sem testemunhas. Eu até poderia colocar um pouco do meu interesse em cada assunto, mas convenhamos, taxistas gostam de falar sobre o tempo que vai fazer durante o fim de semana, e não paradoxos temporais que podem resultar no fim do universo.

Portanto, venho aqui declarar que sou incompatível com a humanidade. Aceito que me levem para uma ilha deserta, longe de tudo, e me deixem lá para que vocês possam conversar em paz e eu possa fazer desenhos do Sonic na areia em paz. Tudo que eu exijo é que eu possa levar comigo alguma distração, algo pra me manter ocupado durante épocas difíceis - a Scarlett Johansson tá de bom tamanho.
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Feliz Segunda-Feira
André - 07 fevereiro 2011 - 03:35
Aimee Teegarden
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Vitória técnica
André - - 03:22

O Vencedor (The Fighter)
4/5

Direção: David O. Russel
Roteiro: Scott Silver, Paul Tamasy e Eric Johnson

Elenco
Mark Wahlberg (Micky Ward)
Christian Bale (Dicky Eklund)
Melissa Leo (Alice Ward)
Amy Adams (Charlene Fleming)

Micky Ward é um boxeador pacato, tranquilo e que, treinado por seu irmão Dicky Eklund, passou os últimos dez anos levando sarrafo atrás de sarrafo nas lutas. Totalmente dominado pela mãe empresária e pela família (eles possuem sete irmãs - sim, imagine como fica o carro deles com aqueles adesivos de família que viraram moda), Micky encontra na garçonete Charlene o início de um novo caminho. E no meio dessa balbúrdia toda, incluindo aí o vício de Dicky por crack, Micky tenta se superar cada vez mais para se tornar um grande boxeador e também porque histórias de superação costumam comover o pessoal do Oscar.

O Vencedor é menos uma história de ascensão de um boxeador e mais a história de uma família tão instável e disfuncional quanto o MSN Messenger. Tipo um The Osbournes sobre boxe, assim. Contando com um elenco que atinge níveis estratosféricos de qualidade, o filme foge de fórmulas tradicionais (ok, da maioria delas, pelo menos) e consegue soar pertinente dentro de sua proposta, mesmo que, aqui e ali, acabe caindo naquela grande armadilha de urso que é o clichê.

"Deixa eu botar minha roupa de Batman que acabo com esse desgraçado em dois bat-segundos!"

A película já começa mostrando o carisma de Dicky ao fazer a personagem caminhar pelas ruas da vizinhança cumprimentando todo mundo, enquanto uma equipe de TV segue atrás para fazer um documentário sobre o sujeito - e essa cena serve como exemplo da dinâmica familiar deles, onde Dicky é o centro das atenções e Micky, tal qual o Palmeiras, fica sempre relegado a segundo plano. A partir daí o filme constrói as tramóias com bastante cuidado, fazendo com que a família compactue com as ilusões de grandeza de Dicky mesmo quando é o irmão que está se preparando pra entrar no ringue. Graças a esse tipo de comportamento (como, por exemplo, quando estão saindo de uma luta onde Micky apanhou feito uma senhora de idade aprendendo a usar o computador e todos se importam mais em ouvir o irmão falar de como derrubou Sugar Ray Leonard), o público realmente sente que o protagonista está sendo injustiçado e sofre com ele - e o quando o sujeito se apaixona por Charlene, uma moçoila cativante e de personalidade forte ("eu não vou me esconder da sua família"), entendemos o motivo daquela atração e a importância que Micky dá ao fato de finalmente estar "em primeiro lugar" pra alguém. E ao invés de apelar pro dramalhão total, como poderia fazer, o filme investe em conflitos que se mostram inevitáveis, tornando a relação entre aquelas pessoas mais densa e palpável (principalmente Dicky e Mickey. Inclusive ambos, como irmãos, brigam e se reconciliam toda hora - quando Micky ajuda o irmão com os policiais, por exemplo, ou quando Dicky, mesmo após uma discussão forte, dá dicas de boxe a Micky).

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Branco no preto
André - 06 fevereiro 2011 - 01:14

Cisne Negro (Black Swan)
5/5

Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Mark Heyman, Andres Heinz e John Mclaughlin

Elenco
Natalie Portman (Nina Sayers)
Mila Kunis (Lily)
Vincent Cassel (Thomas Leroy)
Barbara Hershey (Erica Sayers)
Winona Rider (Beth Macintyre)

Nina é uma bailarina tímida e reprimida que pensa, vive e respira sua arte (exatamente o que os homens fazem com relação ao sexo, só que com balé). Buscando um lugar de maior destaque na sua companhia, ela acaba alçando vôo (trocadilho obrigatório) até ser a estrela principal no espetáculo O Lago dos Cisnes, interpretando o Cisne Branco e o Cisne Negro. Mas, ao mergulhar no papel (trocadilho obrigatório), Nina começa a ceder à pressão de se soltar, de se libertar, de conseguir interpretar os dois lados - além de sentir inveja de uma bailarina novata, Lily, que consegue justamente ser solta e ASSANHADA como Nina gostaria de ser. E o medo de ser substituída por Lily só faz com que a moça entre ainda mais em parafuso.

O balé é uma arte bela, encantadora, cheia de movimentos graciosos e apresentações delicadas. Enfim, coisa de mulherzinha. Mas em Cisne Negro o diretor Darren Aronofsky nos leva além desse mundo aparentemente branco e singelo, atirando o espectador em uma viagem intensa e devastadora à mente de Nina, aos sacrifícios que ela precisa fazer, a tudo que ela precisa renegar, construindo uma obra tão visceral e cheia de simbolismos que o filme faz um violento jogo de rúgbi soar como uma partida de Paciência no computador. E faz isso de forma tão complexa que, ao final da projeção, é impossível não levantar da cadeira, correr pela sala do cinema fazendo aviãozinho e depois tatuar "Natalie Portman" no coração.

Na lagoa da minha cidade os cisnes não são assim.

Concebido com o mesmo cuidado e atenção que um adolescente concede ao seu videogame, o roteiro de Cisne Negro é uma sucessão interminável de vitórias. Já no início somos apresentados à dedicação de Nina ao ver que, assim que sai da cama, a pimpolha vai direto ensaiar e arrumar sua roupa de balé na frente do espelho. Aliás, os cuidados do filme ao mostrar algumas artimanhas e rotinas da área (como quando Nina arruma a sapatilha para dar mais estabilidade, ou quando ela faz uma massagem após o ensaio e vemos o preço que a dedicação cobra do corpo da moça) dão ainda mais verossimilhança à história e ajudam a tragar o espectador até aquele mundo. É aos poucos também que a personalidade de Nina vai sendo construída através da presença constante e castradora da mãe (em pessoa ou ligando pelo celular), da admiração excessiva por Thomas, do medo de perder o papel de Rainha Cisne e, principalmente, da tentativa de ser perfeita em cada movimento (tanto que várias personagens sugerem à protagonista ela que trabalhe menos e relaxe mais. Infelizmente ninguém citou O Iluminado com "só trabalho sem diversão fazem de Jack um bobalhão". Fracos). E é interessante notar como pequenos momentos e elementos (um olhar de Thomas pra Lily; os momentos de preocupação excessiva da mãe; a visão de Nina de que o papel de Rainha Cisne é mais imprtante do que o Santo Graal, ilustrada muito bem em uma determinada visita à Beth; entre outros) aos poucos vão ganhando mais dimensão, mais urgência. E tudo isso faz com que o público realmente sinta quando a coisa toda começa a rachar e Nina se entrega a um "eu" que ela jamais havia conhecido antes.

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A internet enquanto televisão
André - 03 fevereiro 2011 - 21:31
É incrível que até mesmo a internet, com todo o seu potencial de democratização e disseminação, fique de joelhos e se renda à cultura das celebridades. Às vezes parece que muita gente encara a web como uma televisãozona, onde o importante é ser citado no blog do fulano, no tuíte do ciclano, no que seria o equivalente internético a aparecer em um programa de rede nacional. Pior ainda é que o conteúdo produzido por tais celebridades é disseminado sem a menor análise: cada "oi" ou "bom dia" da Ivete Sangalo ou do Luciano Huck no Twitter recebe 40, 50 retuítes, em uma manifestação tão descerebrada por parte de seus fãs que muitos deles deveriam deixar a categoria homo sapiens e entrar pra categoria homo celebs. E como desgraça nunca vem sozinha, ainda vieram em anexo as webcelebridades. Gente como Danilo Gentili, Marcelo Tas, Felipe Neto, cujo talento limitado é propagado aos quatro ventos apenas porque fazem parte de uma patotinha que se auto-promove, transformando os fãs de um em admiradores do outro. Parece que quanto mais as coisas mudam, mais elas continuam as mesmas.

Alguém tem o telefone do Tyler Durden?
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The kids aren't allright
André - 01 fevereiro 2011 - 16:20

Inverno da Alma (Winter's Bone)
5/5

Direção: Debra Granik
Roteiro: Debra Granik e Anne Rosellini, baseados no livro de Daniel Woodrell

Elenco
Jennifer Lawrence (Ree Dolly)
John Hawkes (Teardrop)
Shelley Waggener (Sonya)

Ree é uma garota de 17 anos, bonita, inteligente e que por acaso mora numa região desolada, áre provavelmente planejada pela DEPRESSÃO ENGENHARIA LTDA e decorada pelo escritório de design TRISTEZA TOTAL. No meio dos caipiras que vivem em casas afastadas lá, a moçoila precisa cuidar dos irmãos mais novos e de sua mãe doente. Mas pra não facilitar as coisas e deixar sua filha mimada, o pai de Ree sai da prisão sem pagar a fiança, obrigando a garota a lidar com pessoas perigosas e barbudas na tentativa de encontrar o sujeito e, assim, evitar que a casa onde sua família mora seja tomada de assalto pelo governo.

Inverno da Alma tem bastante semelhanças com, bem, com um pedaço de concreto: é um filme áspero, pesado, denso e atinge o espectador com uma força descomunal. Só que também é uma emocionante e cativante história de sobrevivência, daquelas que fazem as pessoas saírem do cinema repensando seus valores e conceitos - pelo menos até serem atingidas pelas luzes do shopping, quando então toda reflexão some feito canetas que caem no chão.

As mães certamente repensarão aquele papo de "levar as crianças pra brincar na rua é mais saudável do que ficar jogando videogame".

A trama é bastante simples, mas narrada com intensidade. E o filme já começa acertando todos os alvos possíveis ao nos apresentar à rotina de Ree, que consiste em levar os irmãos à escola, cozinhar, cortar lenha e outras coisas que eu, guri de apartamento, nem sei o que são. Isso é importante não apenas para estabelecer a personagem como uma garota madura e determinada, mas também para situar o espectador naquela realidade dura e triste. A partir daí, conforme a história vai se desenvolvendo, Inverno da Alma atira o público sem piedade em diálogos secos, crus, cheios de orgulho e de raiva. É como um lugar onde a galera cresceu sem ter acesso a nenhum filme da Disney. As pessoas são tão duras e tortas quanto as árvores que decoram a paisagem, e a naturalidade com que Ree desfila no meio dessa GENTALHA é quase dolorosa - afinal, graças às já citadas cenas iniciais nós acabamos por gostar dela, nos importar com ela, e então acabamos realmente chorando pitangas por ela fazer parte dessa realidade sofrida. Uma construção de personagem sensacional, complexa, que enterra a sete palmos debaixo da terra as concessões fáceis e felizes (Ree ensina seus irmãos a matar e ESTRIPAR um esquilo como se estivesse ensinando a jogar Mario 64!).

Para acompanhar essa atmosfera de repartição pública, a diretora puxa as cores sempre pra tons de ciano, enfatizando a desolação e frieza da região (que são ainda mais realçadas com essas cores fazendo parte do "Clube da Dessaturação Absoluta"). Sempre instável, a câmera acompanha Ree a certa distância, buscando evidenciar a solidão da garota através de planos abertos onde, enquadrada em um dos cantos, a moça surge sozinha naquele ambiente hostil. Aliás, a direção de arte é uma das grandes vitórias da película, pois cria a ambientação definitiva para a jornada da protagonista: além das árvores de galhos tortos constantemente cercando tudo e todos, os cenários são sempre sujos, cheios de lixo, pedras, pneus, madeira e outros elementos atirados pra tudo que é canto. Até mesmo as roupas das personagens estão sempre meio rasgadas e sujas, ajudando a criar aquele clima meio selvagem, de viver quase sempre no limite e tal. Completa a balbúrdia uma trilha minimalista, que, tal qual a sorte, surge bem de vez em quando, além de muitas vezes se originar do próprio filme.

O elenco homogêneo atua com a qualidade e entrosamento do time do Barcelona, evitando cair em interpretações caricaturais que poderiam comprometer a seriedade da coisa. Mas seria crime federal passar por este tópico sem citar a atuação sensível de Jennifer Lawrence: mantendo uma postura serene e um tom de voz controlado, ela se integra com perfeição àquele mundo, reforçando a imagem de Ree como uma garota criada em um ambiente hostil e que o aceita como seu habitat natural. Por isso os poucos e pequenos sorrisos são tão cativantes, acendendo uma esperança de que a garota não tenha se tornado tão fria quanto um escritório de advocacia. E por isso as poucas cenas onde ela se entrega às emoções, mesmo que não tenham exatamente uma explosão dramática, passam o coração do espectador por um moedor de carnes.

Assim, Inverno da Alma é uma longa, dolorosa e solitária caminhada, mas uma que nos apresenta a uma personagem inesquecível. É impossível sair do cinema sem a sensação de ter sido atingido por um caminhão carregando uma bomba atômica que explodiu com o impacto. Entretanto, ao invés de simplesmente ficar jogando sofrimento atrás de sofrimento na tela, como fazem o filme Biutiful do Iñarritu e a defesa do Grêmio, a película se propõe a contar uma história assaz emocionante. Uma história de força, luta e sobrevivência.

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