tag:blogger.com,1999:blog-194175942024-03-13T14:24:20.928-03:00Cataclisma 14Uno, dos, tres, 14.Unknownnoreply@blogger.comBlogger1611125tag:blogger.com,1999:blog-19417594.post-25469920656823046232015-03-30T22:36:00.000-03:002015-03-30T22:36:19.359-03:00Elsa estava certa<div style="text-align: justify;">
Falei há um tempo que, mesmo atualizando apenas a cada filme novo do Terrence Mallick, manteria o blog aqui para ser um veículo de desabafo de ideias e dicas e informação e qualquer coisa que viesse na telha. E é o que vou fazer, com exceção da parte do "aqui": após sofrer um bullying terrível por parte de amigos designers, que chicotearam o layout do blog e disseram que é muito difícil de ler e basicamente esmirilharam a diagramação, decidi trocar tudo lá para o <a href="https://melhornada.wordpress.com/"><b>Melhor que Nada</b></a>. A mesma coisa, as mesmas bobagens, o mesmo conteúdo, agora mais fácil de ler (o que talvez não seja uma vantagem tão grande).</div>
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<br /></div>
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Foram quase dez anos postando aqui. Mas a vida tem esses momentos em que as coisas que a gente gosta ficam encurraladas no canto da tela do monitor, dificultando a leitura, e precisamos seguir em frente. O Cataclisma fica aqui, pra quem quiser acessar, mas, pelo menos para mim, é hora de tentar algo que não machuque fisicamente os olhos das outras pessoas. Então, estou de mudança. É difícil, dolorido, é ruim, mas a Elsa de <b>Frozen </b>estava certa: Let it Go.</div>
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</script></div>Andréhttp://www.blogger.com/profile/10420753899305402177noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-19417594.post-90661543480441217652015-01-12T20:59:00.001-02:002015-01-12T20:59:52.736-02:00Diário de Leitura: Graça Infinita - 12/01/2015<div style="text-align: justify;">
Minhas andanças pela maratona de caracteres do David Foster Wallace me levaram apenas até a página 183 por enquanto (e mais umas quinze das notas de rodapé, que são notas mas não estão no rodapé). Gosto muito dos capítulos, "capítulos", mas não tenho nem ideia de como as coisas vão se interligar se é que vão se interligar se é que tudo vai fazer sentido um dia. Também não sei dizer sobre o que é o livro. "O que tu tá lendo?", "Graça Infinita", "sobre o que é?", "fralda geriátrica". Entro de férias segunda-feira, quando poderei me dedicar à tarefa em tempo integral e completar o processo de aceitação de que sou um analfabeto funcional. Até aqui, a rápida descrição das baratas foi hilariante. O final do segundo parágrafo da p.89 é uma aula. E o intervalo entre a p.162 e a p.175 é uma narração tão brilhante que tive que ler usando óculos escuros, um nocaute em qualquer ambição escritística do leitor, um daqueles nocautes em que a mão martela o queixo e a baba voa em câmera lenta e o nocauteado está tão nocauteado que parece que ele não consegue cair porque está alheio às leis da física e o chão é que vem com tudo e acerta a cabeça dele fazendo um som oco. Mas essas passagens podem vir a ser obliteradas, afinal, ainda há muita fralda geriátrica pela frente e os dois marcadores de páginas estão a anos-luz de distância um do outro.</div>
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</script></div>Andréhttp://www.blogger.com/profile/10420753899305402177noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-19417594.post-13416260186906534782014-11-16T16:21:00.000-02:002014-11-16T16:22:13.370-02:00Breves comentários sobre os últimos livros que li<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-WqSnCQhPKlA/VGjp7_koOnI/AAAAAAAABrE/cBBsz-oUdPU/s1600/A_GANGUE_DO_PENSAMENTO_1318242276P.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-WqSnCQhPKlA/VGjp7_koOnI/AAAAAAAABrE/cBBsz-oUdPU/s1600/A_GANGUE_DO_PENSAMENTO_1318242276P.jpg" height="200" width="133" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A Gangue do Pensamento - Tibor Fischer</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Gosto muito da escrita desse cidadão. A Gangue do Pensamento não chega a ter a criatividade de O Colecionador de Colecionadores, mas puxa o leitor pelo colarinho com a trama interessante, as personagens absurdas (Hubert é praticamente uma monografia de nonsense) e caracteres cuidadosamente escalados na posição correta. A atmosfera geral é divertida e descontraída, e Tibor Fischer leva a coisa fugindo do óbvio e com um humor inspirado, fruto de quem manja do riscado - por exemplo: após cerca de 150 páginas elegantes, uma inesperada infantaria de palavrões quebra completamente a expectativa do leitor. Gargalhei.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-jLx00xAZTJ4/VGjp8TpC_jI/AAAAAAAABrI/h6wjW0yRPrs/s1600/9788525418999_1_.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-jLx00xAZTJ4/VGjp8TpC_jI/AAAAAAAABrI/h6wjW0yRPrs/s1600/9788525418999_1_.jpg" height="200" width="131" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<b>Armagedom em Retrospecto - Kurt Vonnegut</b></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Já conhecia parte do trabalho de Vonnegut através de citações aleatórias de seus livros no Twitter, mas Armagedom em Retrospecto é a primeira obra que realmente leio. É uma coletânea de contos daquela época em que Hitler decidiu que era o dono do campinho e saiu por aí exigindo coisas. É também bastante satírico e mordaz, indo de curiosos pequenos retratos dos campos de batalha (em Armas Antes de Manteiga três prisioneiros conversam sobre culinária e os pratos que querem provar após voltarem para casa enquanto quebram pedras) a mergulhos na alma humana tão profundos que é recomendável ter cuidado com a descompressão (Pilhagem é um pequeno relato que deixa grandes estragos).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-7uMJbYEmEUU/VGjp9mPEo3I/AAAAAAAABrs/Xr7g4zIIows/s1600/o%2Bprofessor%2Bdo%2Bdesejo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-7uMJbYEmEUU/VGjp9mPEo3I/AAAAAAAABrs/Xr7g4zIIows/s1600/o%2Bprofessor%2Bdo%2Bdesejo.jpg" height="200" width="133" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>O Professor do Desejo - Philip Roth</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Mais uma daquelas jornadas de Philip Roth repletas de questões sexuais e humor. O talento e a capacidade que o sujeito tem de construir situações continuam me deixando com inveja (não "inveja branca". Inveja ruim. Do tipo "eu queria ter isso e não me importa o que seria necessário para alcançar"), e O Professor do Desejo pinta um baita panorama do jovem David Kepesh, cujas atribuladas desventuras sexuais - da infância no hotel ao quartinho em Londres - criam uma personagem complexa e interessante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-YKPBZ2DS51w/VGjp9ac3hyI/AAAAAAAABrk/-D4gw2bV8kI/s1600/kelly%2Boxford.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-YKPBZ2DS51w/VGjp9ac3hyI/AAAAAAAABrk/-D4gw2bV8kI/s1600/kelly%2Boxford.jpg" height="200" width="131" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Everything is Perfect When You're a Liar - Kelly Oxford</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Conheci a moça através das postagens inspiradas no perfil <a href="https://twitter.com/kellyoxford">@kellyoxford</a>, o que por si só já torna o Twitter a melhor rede social de todas. É um livro autobiográfico. Ou uma ficção escrita com uma abordagem autobiográfica, já que coisas como viajar do Canadá até Los Angeles na esperança de encontrar o Leonardo DiCaprio parece bem coisa de ficção (se bem que não sei, né, a vida às vezes é mais nonsense do que o próprio nonsense). Everything is Perfect When You're a Liar não tem nada muito profundo ou revolucionário, mas é realmente divertido e bem escrito. Apesar das elipses entre alguns capítulos confundirem um pouco e da maciça referência à cultura pop (que não me incomoda, só que algumas passam batido), Kelly tem uma voz própria bem distinta e engraçada, tornando a leitura fluida como o xixi que ela fez nas calças em um posto de gasolina (ou disse ter feito).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-Ryr_AEp3t80/VGjq2UWpStI/AAAAAAAABsE/9JYjSQYEJoQ/s1600/guerra%2Bcivil.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-Ryr_AEp3t80/VGjq2UWpStI/AAAAAAAABsE/9JYjSQYEJoQ/s1600/guerra%2Bcivil.jpg" height="200" width="165" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Guerra Civil - Uma pá de gente</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Na verdade, Guerra Civil é uma saga envolvendo diversas revistas da Marvel durante um certo período de tempo, mas botei aqui porque considero quadrinhos uma arte tão relevante quanto literatura "séria" (além do mais, talvez botar a Marvel aqui traga mais visitas). A ideia do registro dos super-heróis vai de encontro a muita coisa de ética e privacidade discutida hoje em dia, e a divisão em tudas turminhas opostas vai de encontro a praticamente tudo que acontece hoje em dia em qualquer lugar e em qualquer setor. A Marvel não ficou com medo de botar consequências pesadas na disputa e a saga toda possui uma atmosfera tensa pairando sobre ela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-UkJ9MALkrOw/VGjp88Q2z3I/AAAAAAAABrc/Z197MN1B1mM/s1600/barba_ensopada_sangue_capa.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-UkJ9MALkrOw/VGjp88Q2z3I/AAAAAAAABrc/Z197MN1B1mM/s1600/barba_ensopada_sangue_capa.jpg" height="200" width="135" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Barba Ensopada de Sangue - Daniel Galera</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma obra agridoce que nos permite acompanhar a jornada de autodescobrimento do protagonista - não aquele autodescobrimento COMER REZAR AMAR, pontuado por biscoitos da sorte e lições edificantes, mas sim uma descoberta de como a personagem reage às coisas, faz as coisas, quer fazer as coisas. Daniel Galera é um excelente contador de histórias e, em Barba Ensopada de Sangue, cada passagem é aproveitada com cuidado para que possamos nos banhar em uma leve melancolia enquanto acompanhamos o protagonista quebrando paredes, pedalando, cuidando do cachorro. É daqueles livros que te deixam olhando para a parede ao final por muito tempo - um final tão interessante que devorei as últimas quarenta páginas como um gordo em um buffet.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-0ByZmK7L1UM/VGjp8fo6drI/AAAAAAAABrM/caejcJ1nYkM/s1600/Capa_GarotaExemplar-483x620.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-0ByZmK7L1UM/VGjp8fo6drI/AAAAAAAABrM/caejcJ1nYkM/s1600/Capa_GarotaExemplar-483x620.jpg" height="200" width="155" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Garota Exemplar - Gillyan Flinn</b></div>
<div style="text-align: justify;">
A trama de Garota Exemplar é excelente, envolvente, repleta de reviravoltas e revelações acachapantes. E Gillyan Flinn bota tudo no papel com um ritmo ágil, jamais deixando o livro descambar para o finalzinho de tarde de um domingo. Entretanto, como narradores, Nick e Amy são espertinhos demais, malandros demais, sempre desconstruindo tudo com sarcasmo e desprezo. Qualquer coisa é imediatamente captada e julgada por eles, que na narração se colocam acima de tudo. Essa onisciência afasta o leitor e tira muito o impacto dos eventos, tornando Garota Exemplar uma ótima história, mas completamente estéril com relação à suas personagens.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-JcMQXn-eLBY/VGjp8iM7iAI/AAAAAAAABrQ/w9mr3IuEbsU/s1600/a-vinganca-do-timao.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-JcMQXn-eLBY/VGjp8iM7iAI/AAAAAAAABrQ/w9mr3IuEbsU/s1600/a-vinganca-do-timao.jpg" height="200" width="133" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A Vingança do Timão - Carlos Morais</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Já tinha comentado aqui sobre <b><a href="http://cataclisma14.blogspot.com.br/2014/03/breves-comentarios-sobre-os-ultimos.html">Agora Deus Vai Te Pegar Lá Fora</a></b>, primeira obra do autor que li e uma aula de como ser cativante. A Vingança do Timão é um livro um pouco menor, menos ambicioso, mas estão lá o doutorado em sensibilidade de Carlos Morais e sua capacidade de criar personagens com as quais nós nos importamos. Seguindo uma turma de garotos do interior com a destreza dos dribles do Dorinho, o escritor constrói um universo rico em eventos, dúvidas, aprendizados, erros, desconfianças, acertos, e, claro, futebol. Passagens genuinamente engraçadas ("um chute que fez o Mudinho Nicolor gritar pela mãe") sentam para tomar café em harmonia com outras mais melancólicas, resultando em uma narrativa belíssima que dá uma abraço bem apertado no coração do leitor.</div>
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</script></div>Andréhttp://www.blogger.com/profile/10420753899305402177noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19417594.post-38707398671025359992014-09-26T12:42:00.002-03:002014-09-26T12:46:28.370-03:00O dia em que eu fiquei trancado no elevadorAnteontem fiquei trancado em um elevador no trabalho. Eis a sequência de acontecimentos:<br />
<br />
<b>08h05m:</b><br />
Entro sozinho no elevador e aperto o botão do décimo sétimo andar. Pouco antes do fechamento das portas, uma Morena Voluptosa (MV a partir de agora) se junta a mim vestindo roupas adequadas ao calor senegalesco. Como bom cavalheiro, fui extremamente discreto ao olhar para o decote.<br />
<br />
<b>08h05m35s:</b><br />
Durante a subida, subitamente as luzes se apagam e o elevador para. O susto resulta em um grito feminino estridente, mas logo me recomponho.<br />
<br />
<b>08h06m:</b><br />
MV e eu rapidamente nos rendemos ao primeiro estágio de ficar preso no elevador, a negação. Enquanto ela bota as mãos no rosto e diz "não pode ser", eu aperto todos os botões do painel como se fossem plástico-bolha.<br />
<br />
<b>08h08m:</b><br />
Nem sinal da energia voltar. Pergunto a MV se ela tem sinal de celular, questionamento respondido com a típica risada irônica de quem sabe das limitações de sinal de operadora. Ela faz a mesma pergunta e respondo que consegui acessar o Facebook.<br />
<br />
<b>08h09m:</b><br />
Posto no Facebook dizendo que estou preso em um elevador. Ninguém aparece para ajudar. Descubro depois que a postagem recebeu 32 "curtir".<br />
<br />
<b>08h10m:</b><br />
O sinal do 3G se vai e leva embora a esperança.<br />
<br />
<b>08h11m:</b><br />
Nada de energia, nada do elevador andar. MV e eu ficamos trocando olhares constrangidos. Ela pergunta se isso já tinha acontecido comigo. Respondo que sim, troco olhares constrangidos desde que tinha oito anos. Ela não ri.<br />
<br />
<b>08h14m:</b><br />
Entramos naquele estágio das convenções sociais conhecido como "formulário", onde as pessoas trocam informações sobre a natureza de seus trabalhos, tamanho das famílias, faculdade que cursaram, time para o qual torcem, tamanho do busto etc.<br />
<br />
<b>08h16m:</b><br />
Descubro que MV cursa medicina e vejo minhas chances desaparecerem como lágrimas na chuva.<br />
<br />
<b>08h17m:</b><br />
Ainda nada de elevador. Consigo encaixar umas duas piadas boas sobre medicina e subverto trinta anos de comportamento condicionado ao não erguer a mão solicitando um high-five.<br />
<br />
<b>08h18m:</b><br />
MV parece um pouco mais à vontade e se empolga conversando sobre as aulas, disciplinas, professores e o aprendizado. Após a quarta expressão em latim, começo a cantar a música de Frozen na minha cabeça.<br />
<br />
<b>08h20m:</b><br />
Percebo que nem mentalmente consigo atingir o tom de Elsa e volto à conversa, agora um solilóquio um tanto melancólico sobre ex-namorados. Sem saber direito o que está acontecendo e não querendo me comprometer, interajo através de um aceno de cabeça híbrido entre vertical e horizontal e que, tenho certeza, já vi em uma coreografia dos Backstreet Boys.<br />
<br />
<b>08h22m:</b><br />
Minhas declarações compreensivas de desdém pela ala masculina e uma piada envolvendo o ex-namorado de MV, um bisturi, uma posição do Kama Sutra e muita dor parecem desarmá-la ainda mais. A conversa flui como se MV não fosse esculpida em mármore sexy e eu não estivesse vestindo uma camiseta do Batman.<br />
<br />
<b>08h26m:</b><br />
A narrativa sobre ex-namorados cresce em intensidade. Começo um movimento para passar o braço ao redor dos ombros dela, mas ele é subitamente repelido por trinta anos de "a vida não é assim".<br />
<br />
<b>08h30m:</b><br />
MV interrompe o fluxo de decepções masculinas e fala que sou um ótimo ouvinte, alisando meu braço. Sorrio e sou simpático enquanto penso se no prédio há algum estabelecimento onde eu possa emoldurar o braço.<br />
<br />
<b>08h32m:</b><br />
MV começa a me perguntar das minhas ex-namoradas e rir das respostas e das experiências. Por tudo que eu já li a respeito e vi em filmes e séries, tenho quase certeza de que estamos flertando.<br />
<br />
<b>08h32m32s:</b><br />
Tiro o celular de canto e procuro por "flerte". Sem sinal.<br />
<br />
<b>08h33m:</b><br />
Como sempre acontece diante de possibilidades épicas, espero o inevitável momento em que o mundo vai acabar.<br />
<br />
<b>08h35m:</b><br />
Sento no canto do elevador e ela senta ao meu lado. Conversamos sobre qualquer coisa que nos permita dar risadinhas e olhar um ao outro. Há um indício de tensão sexual no ar.<br />
<br />
<b>08h35m16s:</b><br />
Sorrateiramente procuro por "tensão sexual" no Google. Sem sinal.<br />
<br />
<b>08h40m:</b><br />
A conversa se intensifica. Pouco importa o que estamos dizendo, porque as palavras parecem povoar o espaço entre nós apenas para puxar um mais perto do outro. O contato físico entre as pernas dispostas lado a lado já é natural. Os olhares parecem mais tímidos, como que tentando esconder algo. A pele do meu braço roça na pele do braço dela, macia, lisa, e há uma certa eletricidade no ar. Viramos o rosto e nos olhamos, agora sem desviar. Os lábios entreabertos dela são o único indício de vulnerabilidade, e não precisa de mais do que isso. Estamos os dois aqui, só os dois, só nós existimos nesse universo paralelo, só nós existimos nessa realidade em que nos conectamos.<br />
<br />
<b>08h40m8s:</b><br />
As luzes se acendem e o elevador volta a funcionar.<br />
<br />
<b>08h42m:</b><br />
Levantamos com o movimento do elevador, dando risadas constangidas e sem saber direito como agir. Aqui jaz um clima romântico. Fico olhando para MV e toda sua voluptosidade e percebo que ainda há uma conexão. Penso em todas as vezes que não assumi o risco, que fugi para a zona de conforto e em tudo que não fiz e poderia ter feito. Trocamos mais um olhar e percebo que não quero MV na minha lista de "e se...?". Ela me observa com uma curiosidade juvenil, um sorriso no rosto, uma expressão de expectativa, enquanto me aproximo do painel de botões. Viro o rosto na direção dela e lanço um olhar sedutor, perigoso, enquanto me obrigo a fazer algo digno de cinema e abro o painel e aberto o botão de trancar o elevador para que o universo congele por mais um instante para nós dois.<br />
<br />
<b>08h42m20s:</b><br />
MV tem um faniquito bíblico e dispara um discurso ríspido sobre como acabamos de passar horas no elevador e que a situação era perigosa e finalmente temos a oportunidade de sair e respirar ar puro e eu arrisco botar tudo a perder trancando o elevador e que tipo de demente faria uma coisa dessas? e palavrões.<br />
<br />
<b>08h43m:</b><br />
Aperto o botão e o elevador volta a andar normalmente enquanto fico tão vermelho de vergonha que minha pele começa a descascar.<br />
<br />
<b>08h45m:</b><br />
MV desce no décimo primeiro andar com a expressão de raiva ainda tatuada no rosto, sem sequer um "tchau" de reconhecimento ou um sexo de despedida.<br />
<br />
<b>08h46m:</b><br />
Reflito rapidamente sobre homens, mulheres, amor, nossas expectativas, nossos desejos, nossos corações quebrados, nossa impossibilidade de aceitar alguém que nos ama e decido desistir do compromisso e ir comprar cerveja.<br />
<br />
<b>08h47m:</b><br />
Durante a descida, subitamente as luzes se apagam e o elevador para. Um grito feminino estridente rasga o ar.<br />
<br />
<br /><div class="blogger-post-footer"><script type="text/javascript"><!--
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</script></div>Andréhttp://www.blogger.com/profile/10420753899305402177noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-19417594.post-29773058095339645892014-08-18T00:26:00.000-03:002014-08-27T00:29:59.151-03:00Os sanduíches às duas da manhãUm sanduíche tem um sabor diferenciado quando feito às duas da manhã. Acredito que seja pelo fato de destoar, de que sanduíches adornam cafés da manhã e almoços e jantas e lanches da tarde e refeições de última hora quando compromissos importantes estão batendo na porta, mas o frio e frequentemente alcoolizado véu da madrugada não é seu habitat natural (provavelmente por alguma questão envolvendo a quantidade de carboidratos nos ingredientes e a vontade que as pessoas têm de conseguir um abodmen trincado). Assim, entre os momentos em que o sol se deita e acorda de ressaca, as fortalezas de pão recheadas com queijo e gostos pessoais se tornam visitantes ocasionais, abrindo espaço para culinárias mais práticas como nuggets, comidas requentadas no microondas e miojos. Às duas da manhã, cortar uma fatia daquele queijo muito bom e impossível de cortar (lembrando sempre que a a qualidade do queijo e a facilidade de cortar fatias são inversamente proporcionais) é uma odisseia, e tais empecilhos tornam o sanduíche uma figura um tanto mítica durante a madrugada, uma aurora boreal culinária que surge frente às maravilhadas testemunhas para saciar sua fome de... bem, de fome mesmo.<br>
<br>
Claro, os filisteus podem argumentar que o sanduiche das duas da madrugada é o mesmo das duas da tarde, que o pão contém a mesma quantidade de farinha e trigo, que o horário não influencia nos processos pelos quais os ingredientes passaram e que toda essa história é apenas impressão. Mas a realidade existe apenas da forma como a percebemos, e certamente o mesmo sanduíche vai ativar sinapses e funções diferentes no córtex cerebral se consumido de tarde ou de madrugada. A calma e a quietude da noite são preenchidas pelos sabores da refeição com mais intensidade. Há mais espaço para o sanduíche desdobrar suas expressões gustativas e olfativas, o mundo para por um momento para ver o que aquele intruso, aquele coadjuvante que normalmente surge como produto das circunstâncias - pouco tempo para comer uma refeição completa, um lanche para degustar assistindo a algum programa, uma alternativa comestível que abraça a praticidade -, pode realizar quando alçado à condição de protagonista sob a auspiciosa vigília da lua.<div><br></div><div>Lembram de Proust comendo o biscoito, não lembram? É a mesma ideia, mas, ao invés de resgatar sentimentos passados, o sanduíche das duas da manhã interage com a ausência dos elementos que costumeiramente vê ao seu redor, criando novas sensações. Ao invés de ativar a lembrança, cria a lembrança. E nos deixa ali, sentados, reflexivos, imaginando que há muito mais entre o céu e a Terra do que imagina nossa vã culinária.</div><div class="blogger-post-footer"><script type="text/javascript"><!--
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</script></div>Andréhttp://www.blogger.com/profile/10420753899305402177noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-19417594.post-44933829727912485542014-06-19T15:36:00.000-03:002014-06-19T15:36:09.449-03:00O dia em que eu fui à Copa do Mundo<div style="text-align: justify;">
O futebol visto ao vivo não é nada glamouroso. Sem os enquadramentos cinematográficos, a montagem ágil, a narração empolgada, a câmera lenta, os replays, os gráficos, as análises, tudo se resume a uma visão ampla do campo, longe dos supercloses que captam olhos marejados e da edição que confere drama às coreografias involuntárias. Ao vivo, o futebol é despido de quaisquer adornos carregados de significado e retorna a uma forma simples, rústica, onde precisa conquistar as pessoas apenas pelo impacto das jogadas e comportamento da torcida, sem intermediários cujo trabalho é tentar tornar a partida o mais envolvente possível. Ao vivo, o futebol deixa de ser espetáculo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O inacreditável míssil disparado por Tim Cahill aos vinte e um minutos do primeiro tempo, tatuando o travessão e empatando a partida contra uma equipe mais forte e que havia recém marcado, foi algo fora do comum. Talvez porque fosse uma partida fora do comum, repleta de jogadores fora do comum, torcidas fora do comum, importância fora do comum. Os primeiros passos em um Beira-Rio dividido entre o laranja pulsante dos holandeses e o incompreensível sotaque dos autralianos já indicavam se tratar de um jogo à parte, composto por uma atmosfera que há vinte anos eu vejo na televisão mas que só ontem realmente descobri: é a Copa do Mundo (dispenso o "FIFA" no final) criando um universo que só é possível acessar de quatro em quatro anos, que não existe fora desses trinta dias enlouquecidos de futebol e que, para alguém que desejava mais do que tudo ter visto ao vivo o gol genial de Hagi contra a Colômbia, o chute de Branco contra a Holanda, a subida de Romário contra a Suécia, a arrancada de Michael Owen contra a Argentina, os passes cirúrgicos de Beckham e Scholes, o domínio perfeito de Bergkamp em cima de Ayala, o trenzinho de Felipão após superar Van Basten, o toque simples e brilhante de Pirlo para Grosso, a redenção de Materazzi, os pênaltis quase seguidos entre Espanha e Paraguai, a maior defesa de todos os tempos realizada por Suárez, a cavadinha vitoriosa de um El Loco que fez jus ao seu apelido e o chute mais importante da história da Espanha desferido por Iniesta, possui um significado de mais de vinte anos de "imagina se eu estivesse lá".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Quando Cahill bombardeou o gol holandês aos vinte e um minutos, dois australianos sentados atrás de mim pularam e gritaram e se abraçaram e nos abraçaram e desceram as arquibancadas correndo. O gol - talvez o mais bonito da Copa até aqui - foi marcado no lado da goleira onde eu estava sentado, e, mesmo a dezenas de metros de distância, vi ele muito mais de perto do que qualquer superclose de câmera poderia conseguir: vi ele das arquibancadas de uma Copa do Mundo, envolvido pelos gritos das torcidas, testemunhando a bola percorrer todo o caminho até sacudir as redes e mudar um país inteiro e, pela primeira vez na vida, sem precisar imaginar como seria estar ali. Porque ao vivo, quando deixa de ser espetáculo, é que o futebol se torna verdadeiramente espetacular.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<a href="http://2.bp.blogspot.com/-SloY3v5U2DQ/U6MtUfWuIrI/AAAAAAAABic/u2hEVoXxhCQ/s1600/BqckLXaIAAE0x8v.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-SloY3v5U2DQ/U6MtUfWuIrI/AAAAAAAABic/u2hEVoXxhCQ/s1600/BqckLXaIAAE0x8v.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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</script></div>Andréhttp://www.blogger.com/profile/10420753899305402177noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19417594.post-24295016125592831062014-05-19T00:11:00.000-03:002014-05-19T00:11:29.942-03:00Ginástica de hardware<div style="text-align: justify;">
Comprei um notebook há pouco mais de um ano com aquela fantasia de mobilidade, de que poderia sair com ele e sentar em alguma praça bonita com uma cerveja ao lado e escrever uma obra-prima, enquanto uma Melanie Laurent qualquer passa de boina e segundas intenções na minha frente. O notebook era a promessa de liberdade, o fim da ditadura de ter que ficar sentado em frente a uma mesa e olhando sempre para a mesma paisagem feita de gesso e pintura descascando.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Após a aquisição descobri que, no mundo do hardware, não há espaço para a praticidade. Certo, o equipamento é leve, eficiente, com dimensões compactas o suficientes para permitir sua realocação para basicamente qualquer lugar, mas essa expectativa de "a qualquer hora e em qualquer lugar" não leva em consideração a outra parte do hardware: o corpo. O corpo não é leve, não é eficiente e muito menos compacto, além de ser composto por um milhão de materiais diferentes que, se não forem colocados sob condições específicas de suporte, pressão, distensão e diagramação, insistem em doer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Porque não existe realmente uma posição cem por cento ideal ou confortável para fazer uso do notebook. Deixar ele no colo parece ser a solução mais lógica, e até funciona por algum tempo, mas logo o esquadrão formigamento ataca e é preciso remanejar as pernas, aniquilando completamente a estabilidade do equipamento - e tentar digitar uma frase sequer sem estabilidade é um convite à insanidade. A cama surge como uma alternativa promissora, com seu colchão macio e suas lembranças das comoventes sonecas tiradas ali, só que não faz muito bem para a máquina e, se você deitar ao lado do dito-cujo, mantendo-se no primeiro estágio da posição "conchinha" (e sem a preocupação de não saber onde alocar o braço livre), perceberá após sete ou oito minutos que precisará de fisioterapia; se deitar e repousar o notebook em cima do peito, perceberá após sete ou oito segundos que precisará de uma massagem no pescoço.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Urge a necessidade de criarmos uma versão do Kama Sutra com notebooks, catalogar as posições confortáveis, prazerosas, relaxantes que podem ser realizadas para ter o equipamento ao alcance e totalmente operacional. Acredito que isso aumentará a produtividade de humanidade em cerca de<i> todos os por cento</i>, criando uma situação ideal onde podemos aproveitar ao máximo tudo que um equipamento poderoso nos oferece. Pois até aqui, depois de anos de experimentações, tentativas e frustrações, descobri que, amarga ironia, o melhor lugar para trabalhar com o notebook é em cima da mesa.</div>
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</script></div>Andréhttp://www.blogger.com/profile/10420753899305402177noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-19417594.post-73015464582381329182014-04-06T02:15:00.002-03:002014-04-06T02:15:27.157-03:00Samson<div style="text-align: justify;">
Ando bastante viciado nessa canção "Samson", da Regina Spektor. Não entendo muito de música, mas percebo ali uma harmonia incrível entre as notas do piano e a voz - não só a questão de estarem afinadas uma com a outra, mas algo um pouco além, como se tivessem sido concebidas ao mesmo tempo, algumas notas criadas pela voz e alguns vocais pelas teclas, como se fossem exatamente a mesma coisa expressa de formas diferentes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas tem um momento ali, onde ela canta "stars came falling on our heads", que a voz da moça subitamente começa a ficar mais baixa, quase sussurrada, de uma cumplicidade comovente, e é nesse momento que eu sinto toda a doçura e intimidade envolvidos e consigo imaginar as luzes amarelas bruxuleando ao redor de lençóis improvisados, onde duas pessoas se submetem uma à outra em uma escolha que era impossível não fazer, enquanto lá fora as estrelas caem e os vulcões explodem e espadas e machados dançam por entre corpos de heróis e martires que jamais serão reconhecidos. Mas ali dentro tudo que importa é o que está ali e o que vai acontecer ali, como se o universo tivesse congelado naquele momento e tudo que existisse coubesse nessa canção onde uma voz doce e sensível canta sobre uma pausa momentânea do mundo e todos percebessem que talvez isso seja o máximo que se consegue e aceitassem que tudo bem, a vida não nos deve nada e qualquer momento de felicidade é tão importante quanto qualquer outro momento de felicidade..</div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-pn0zoOOj66U/Uxy_KLjbA3I/AAAAAAAABfE/qORY2_DyWAQ/s1600/Entrevistas+da+Paris+review.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-pn0zoOOj66U/Uxy_KLjbA3I/AAAAAAAABfE/qORY2_DyWAQ/s1600/Entrevistas+da+Paris+review.JPG" height="200" width="133" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>As Entrevistas da Paris Review</b> - Vários</div>
<div style="text-align: justify;">
Como toda boa coletânea, <b>As Entrevistas da Paris Review</b> tem altos e baixos. É extremamente divertido ver Hemingway admitindo que dera uma resposta estúpida mas apenas porque a pergunta também era estúpida, ou Faulkner descartando os escritores e dizendo que só a obra é importante, mas a entrevista com W. G. Auden passa batida e a verborragia de Ian McEwan fica entediante às vezes. No fim das contas, a melhor é a de Amón Oz, de quem curiosamente nunca li nada - tirando do páreo a entrevista com Borges, claro, que não posso avaliar porque ainda não descobri o que veio antes: Borges ou a escrita.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-Od2GwflT0XQ/Uxy_bfjzMsI/AAAAAAAABgI/dPKtV7H4YV0/s1600/vida+querida.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-Od2GwflT0XQ/Uxy_bfjzMsI/AAAAAAAABgI/dPKtV7H4YV0/s1600/vida+querida.jpg" height="200" width="133" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Vida Querida </b>- Alice Munro</div>
<div style="text-align: justify;">
Esse é um dos poucos vencedores do Nobel de Literatura que li, o que indica como sou desqualificado para falar qualquer coisa sobre o assunto. É um livro que sempre mantém um nível alto, não tem nenhum conto ali que faça o leitor lamentar não ter investido o dinheiro em cerveja, e sempre com uma sensibilidade tocante - que atinge níveis lacrimejantes em <i>Amundsen </i>e <i>O Olho</i>, entre outros. Ainda assim, confesso que no panorama geral não tive uma sensação NOBELÍSTICA, o que me faz pensar que talvez tenha levado o prêmio pela regularidade de qualidade nos contos, o que me faz pensar que o Nobel é um grande torneio de pontos corridos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-vBTswKt_15Y/Uxy_ZBWEf7I/AAAAAAAABgM/gxnqnTLrTNA/s1600/agora+deus+vai+te+pegar+la+fora.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-vBTswKt_15Y/Uxy_ZBWEf7I/AAAAAAAABgM/gxnqnTLrTNA/s1600/agora+deus+vai+te+pegar+la+fora.jpg" height="200" width="134" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Agora Deus Vai te Pegar Lá Fora </b>- Carlos Morais</div>
<div style="text-align: justify;">
Esse na real eu já tinha lido, mas ficou ainda melhor na releitura. É uma daquelas obras carismáticas ao extremo, que certamente seriam extremamente populares em um eventual colégio de livros. Engraçada sem apelar, envolvente sem apelar, com uma galeria de personagens incrivelmente criativa e uma melancolia doce que despeja sentimentos no coração do leitor, <i>Agora Deus Vai Te Pegar Lá Fora</i> é uma daquelas surpresas literárias às quais a gente se apega e quer levar junto para sempre.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-LkeQ6ES0AaI/Uxy_YzJZqeI/AAAAAAAABfc/okr6exrxxx8/s1600/Condenada-Capa.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-LkeQ6ES0AaI/Uxy_YzJZqeI/AAAAAAAABfc/okr6exrxxx8/s1600/Condenada-Capa.jpg" height="200" width="128" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Condenada </b>- Chuck Palahniuk</div>
<div style="text-align: justify;">
Sou um grande fã do Chuck Palahniuk (embora sempre tenha que conferir o nome dele no Google antes de escrever), tenho <i>Clube da Luta</i> tatuado no meu CÉREBRO, admiro muito a subversão e a forma com que ele jamais julga as personagens, mas <i>Condenada </i>parece um esforço menor. É extremamente eficiente e uma plataforma perfeita para a imaginação cruel do CHUCKÃO, que consegue ser criativo mesmo em momentos mais óbvios (como o do telemarketing), mas ainda assim soa um pouco contido demais, derrapando no tradicional em alguns pontos (estamos falando do cara que escreveu o conto <i>Guts</i>, afinal). Além disso, a personagem parece espertinha demais e fala de forma espertinha demais para alguém com 13 anos. Vale a leitura, entretanto, especialmente se você quiser conhecer o maligno sistema de telemarketing.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-tpHi4L0xqeU/Uxy_Y1a-SlI/AAAAAAAABfk/Z9SQPqejYow/s1600/a+ilusao+da+alma.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-tpHi4L0xqeU/Uxy_Y1a-SlI/AAAAAAAABfk/Z9SQPqejYow/s1600/a+ilusao+da+alma.jpg" height="200" width="133" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A Ilusão da Alma: Biografia de uma Ideia Fixa </b>- Eduardo Giannetti</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Esse é um daqueles "livros que fazem pensar". A batalha de um sujeito tentando se desvencilhar da ideia de que seus pensamentos não são realmente seus, mas sim fruto de reações químicas, é envolvente e vai dar um nó no cérebro do leitor (mas um nó bom, não um nó no sentido "não tou entendendo nada aqui é melhor deixar o livro de lado e entupir o cérebro com álcool"). Uma jornada extremamente interessante e que vai te deixar pensando se o que você está pensando é realmente o que você está pensando.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-RpBoDfN38Uk/Uxy_anN4UmI/AAAAAAAABgE/602d6ArAeqs/s1600/os+quatro+grandes.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-RpBoDfN38Uk/Uxy_anN4UmI/AAAAAAAABgE/602d6ArAeqs/s1600/os+quatro+grandes.jpg" height="200" width="129" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Os Quatro Grandes </b>- Agatha Christie</div>
<div style="text-align: justify;">
Mais uma daquelas grandes tramas de assassinato e mistério da tia Agatha, dessa vez envolvendo também uma grande conspiração. Sei que vou SECAR NA TOALHA, mas a capacidade da escritora de manipular as circunstâncias e levar a história até situações imprevisíveis é brilhante. Além disso, tem Hercule Poirot e o capitão Hastings, o que já é 90% da qualidade necessária para um livro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-c78tXU8XTm4/Uxy_Z3DkkoI/AAAAAAAABfw/M93cRUekjsA/s1600/o+que+aconteceu+ao+cavaleiro+das+trevas.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-c78tXU8XTm4/Uxy_Z3DkkoI/AAAAAAAABfw/M93cRUekjsA/s1600/o+que+aconteceu+ao+cavaleiro+das+trevas.jpg" height="200" width="130" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Batman - O Que Aconteceu Ao Cavaleiro Das Trevas?</b> - Neil Gaiman</div>
<div style="text-align: justify;">
Essa é uma daquelas histórias surpreendentes, com rompantes de criatividade e genialidade surgindo a todo momento. Mostra com dramaticidade e intensidade a relação das personagens de Gotham City com o homem-morcego, construindo, ao longo do caminho, revelações importantes sobre a personalidade do próprio Batman e a forma com que as pessoas o veem. E aquela sensibilidade no final da história é de sentar no cantinho e chorar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-m25MYYV0G_4/Uxy_ZSp8YJI/AAAAAAAABfs/GAxmVA5DSRo/s1600/dama_do_cachorrinho.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-m25MYYV0G_4/Uxy_ZSp8YJI/AAAAAAAABfs/GAxmVA5DSRo/s1600/dama_do_cachorrinho.jpg" height="200" width="121" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A Dama do Cachorrinho</b> - Tchekov</div>
<div style="text-align: justify;">
Tive uma experiência muito, digamos, de entender que nunca soube escrever após ler a coletânea de contos <i>O Beijo</i>, do Tchekov, esse russo cujo superpoder é visão de raio-x das almas das pessoas. Entretanto, esse <i>A Dama do Cachorrinho</i> não me deixou muito impressionado: alguns contos (como o que dá nome ao livro) realmente se destacam, mas outros, como <i>A Morte do Funcionário</i> e <i>O Enxoval</i>, me deixaram com uma expressão meio "é, tudo bem" no rosto. Queremos mais <i>Enfermaria Nº6</i>, galera. Mais <i>Enfermaria Nº 6</i>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-2fd-BBq0A7Q/Uxy_YdJVhkI/AAAAAAAABfU/7i6XThCEW1c/s1600/UmEstudoEmVermelho.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-2fd-BBq0A7Q/Uxy_YdJVhkI/AAAAAAAABfU/7i6XThCEW1c/s1600/UmEstudoEmVermelho.jpg" height="200" width="140" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Um Estudo em Vermelho</b> - Sir Arthur Conan Doyle</div>
<div style="text-align: justify;">
Após ficar completamente em chamas com a série Sherlock, decidi revisitar o mundo literário de Sir Arthur Conan Doyle. E <i>Um Estudo em Vermelho</i> funciona muito bem como apresentação de personagens e trama de mistério, tornando o processo investigativo sempre interessante por causa daquele lance onde o Sherlock pega umas coisas totalmente nada a ver e desenterra alguma conexão brilhante com o crime. O revés fica por conta dos cinco primeiros capítulos da parte 2: ainda que bem escritos pacas, sua importância para a história é questionável e o único sentido de sua existência parece a encheção de linguiça. Não chega a atrapalhar, apesar de ser um "mas o que diabos...?" de Wikipédia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-oQg9vz1lNJE/Uxy_aaMft-I/AAAAAAAABgA/ReDRygr3Wqo/s1600/o-lobo-do-mar-capa.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-oQg9vz1lNJE/Uxy_aaMft-I/AAAAAAAABgA/ReDRygr3Wqo/s1600/o-lobo-do-mar-capa.jpg" height="200" width="138" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>O Lobo do Mar</b> - Jack London</div>
<div style="text-align: justify;">
Uma poderosa narrativa envolvendo náufragos, navios, pancadaria e palavras legais como "estibordo". A atmosfera tensa da escuna Ghost, tomada de personagens peculiares e de um comportamento quase primitivo, atinge seu ápice no capitão Wolf Larsen: extremamente violento, impiedoso e materialista, ele é também um filósofo da condição humana, refletindo a respeito das escolhas possíveis e optando pelo caminho do tocar o terror em todo mundo alucinadamente porque é o que mais se assemelha à nossa existência animal. Os diálogos entre ele e van Weyden são sempre interessantes, e acabam elevando <i>O Lobo do Mar</i> para outro nível.</div>
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<b>O que é o futebol americano?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
É como aquele momento onde um grupo de pessoas percebe um ladrão correndo e se atira em cima do cara para impedir que fuja, mas com patrocinadores. O esporte consiste em dois times - geralmente compostos por híbridos entre seres humanos/whey protein - se empurrando até que alguém faça a bola (que não é uma bola) cruzar uma linha a um monte de jardas de distância. Tal qual acontece com solteiros, os jogadores só usam a mão para atingir seus objetivos - qualquer um pode participar de qualquer jogada, entretanto, desde que tenha mais de cem quilos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Se só pode usar a mão, por que chamam de "futebol"?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Não sei. Eles também medem a distância em jardas, então imagino que seja simplesmente dislexia (há um tal de field goal onde é permitido bicar a bola (que não é uma bola), mas vamos lá, é uma solução paliativa).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Quem vai jogar no Super Bowl desse ano?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Denver Broncos e Seattle Seahawks (sim, os times da NFL são nomeados de acordo com nenhum critério). Há um grande bafafá porque são os dois primeiros estados a legalizarem o uso da maconha para fins recreativos - isso significa que seu amigo maconheiro vai incorporar "a planta possui propriedades que incrementam o desenvolvimento do esporte" ao seu discurso pró-erva.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Quais são os destaques de cada time?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
No lado do Denver Broncos o destaque é o quarterback Peyton Manning, que superou diversas situações difíceis ao longo da carreira, como uma operação no pescoço e no braço em 2011 e o fato de que quase tem o nome de uma parte do corpo humano. O destaque de Seattle eu não sei. Eddie Vedder...?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>O que é um quarterback?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Em linhas gerais, quarterback é o jogador que atira a bola o mais pra frente possível. É a glamourização do zagueiro limitado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Quem vai tocar no intervalo?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Bruno Mars. E os Red Hot Chilli Peppers também. Que só devem ter marcado presença por causa do lance da maconha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Quanto tempo dura?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
São quatro tempos de quinze minutos. Mas o jogo para a todo momento para os técnicos revisarem estratégias e fingirem que existe ciência e matemática naquele desembarque da Normandia em campo, então a janela de duração vai de algumas horas até a próxima fragmentação dos continentes do planeta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Como é a contagem de pontos?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Bem, o touchdown vale seis pontos, com a possibilidade de um ponto extra na tentativa de chute ou dois pontos em uma nova tentativa de cruzar a linha. E o field goal vale três pontos, e não um, porque sim. E um tal de safety vale dois. Ou seja, ninguém sabe, e é bem possível que a posição dos astros influencie na contagem. Por via das duvidas, comemore só quando a bola cruzar a linha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Ok, existe algum motivo para assistir ao Super Bowl?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Sim: cheerleaders.</div>
<br />
<center>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/4PGB8x46P-A" width="420"></iframe><br />
<i>Não é futebol americano. Mas alguém realmente se importa?</i></center>
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<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street)<br />5/5<br />
<br />
<b>Direção</b>: Martin Scorsese<br /><b>Roteiro</b>: Terence Winter, adaptado do livro de Jordan Belfort<br />
<br />
<b>Elenco</b><br />Leonardo DiCaprio (Jordan Belfort)<br />Jonah Hill (Donnie Azoff)<br />Margot Robbie (Naomi Lapaglia)<br />Matthew McConaughey (Mark Hanna)<br />
<br />
Nos anos 80, quando Wall Street era uma terra de charme, dinheiro e cocaína, Jordan Belfort se junta aos corretores do distrito financeiro mais famoso do mundo. Logo ele começa a ter sucesso, usar drogas, transformar o escritório em um pardieiro e, basicamente, viver a vida da forma mais ensandecida possível.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não fosse a troca para a tecnologia digital, qualquer pessoa poderia achar que o copião de <b>O Lobo de Wall Street</b> foi revelado em uma latinha de energético: o filme é intenso, forte, rápido, divertido, engraçado e completamente empolgante. É, assim como <b>Cassino </b>(também dirigido por Scorsese), uma história de crescimento financeiro baseado em atividades no limbo entre o legal e o ilegal - só que a nova película troca a violência pela loucura da riqueza, consumismo e luxúria. De certa forma, imagino que <b>O Lobo de Wall Street</b> seja o equivalente fílmico a cheirar cocaína, o que faz sentido, visto que esta é um elemento importante da película.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-0f1RVwp3Tx4/UuWb1TacZHI/AAAAAAAABd8/Gwt5RAE82Ow/s1600/15-outrageous-scenes-in-martin-scorseses-wolf-of-wall-street-we-cant-wait-to-see.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-0f1RVwp3Tx4/UuWb1TacZHI/AAAAAAAABd8/Gwt5RAE82Ow/s1600/15-outrageous-scenes-in-martin-scorseses-wolf-of-wall-street-we-cant-wait-to-see.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Assim como anões.</i></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Para isso, Martin Scorsese cria uma atmosfera enlouquecida não só na <i>mise-en-scène</i> - onde tudo é intenso e gritado e gestual e acaba de alguma forma com mulheres nuas -, mas também na forma, com a montagem ágil e a câmera constantemente em movimento (naqueles travellings elegantes que o Scorsese sabe fazer muito bem). É uma construção assaz inspirada, que se aproveita da quebra da quarta parede, câmera lenta, tela congelada e flashbacks rápidos (o do carro e o do avião, por exemplo) para tornar a coisa toda mais dinâmica - claro, o diretor usa esses recursos com parcimônia, sem exagero, para não tirar a atenção do que está acontecendo em quadro. É importante que a forma reforce a atmosfera da cena, e não chame a atenção para si mesma (imaginem um filme desses dirigido por Guy Ritchie e vocês terão uma ideia).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E é uma decisão mais do que acertada para companhar a trajetória de Jordan Belfort, que, com frases do tipo "e eu fiquei puto da cara porque era menos de um milhão por semana", personifica toda a loucura que sempre se imaginou de Wall Street. Claro, o roteiro faz questão de mostrar o quanto ele é dedicado, competente (a cena onde todos param para ver ele trabalhar) e patologicamente apaixonado pelo que faz (as conversas por telefone onde ele fica gesticulando para o interlocutor), transformando-se em uma pessoa arrogante o suficiente para achar que pode subornar dois agentes federais - um comportamento que divide com Donnie, mais um tresloucado repleto de falas épicas ("<i>quer cheirar carreiras de fermento, é isso?</i>") e que ajuda Jordan a transformar a Stratton Oakmont no pardieiro definitivo. Percebam que as características dos dois são tão fortes que, a partir de certo momento, aceitamos toda a balbúrdia da empresa como algo natural. A megalomania da dupla, regada a muita cocaína e quaaludes, é ilustrada de forma brilhante por situações completamente absurdas e que, muitas vezes, humilham a palavra "épico" (aquela cena envolvendo os quaaludes poderosos sem dúvida constará de qualquer lista de melhores momentos em 2014. E recém estamos em janeiro).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Além disso, a narração em off é bem utilizada para explicar e avançar a história sem jamais ser excessivamente didática, o que acaba a tornando mais um dos elementos divertidos do filme ("<i>é como tomar sol antes dele aparecer</i>"). Mas o problema é que, no meio dessa diversão total e absoluta, não há muito espaço para caracterizar as personagens: praticamente todas falam do mesmo jeito e reagem do mesmo jeito e buscam a mesma coisa. Ok, dá para entender isso como uma generalização ao espírito de Wall Strett, uma declarção de que todos ali eram fora da casinha, mas isso diminui o envolvimento com qualquer situação mais pessoal (o drama de Jordan no final, por exemplo). Aliás, há uma tentativa de arco dramático extremamente desnecessária, colocando o protagonista inicialmente como alguém buscando trabalhar de forma honesta: a caracterização inicial, "do bem", e tão rápida e superficial que jamais gera impacto, tornando frases como "<i>você virou uma pessoa completamente diferente</i>" soam deslocadas feito a canela do Anderson Silva.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já o elenco surge completamente em chamas, terraplanando tudo e todos à sua frente com atuações poderosas. Começa com <b>Matthew McConaughey</b> (o grande "como assim?!" de 2013) construindo um Hanna gestual e amalucado - mas repleto de carisma - e continua com <b>Jonah Hill</b>, que encarna Donnie com a intensidade de um gordinho tentando se vingar de tudo que os gordinhos sofraram na infância, criando sequências memoráveis (como a do peixe) e utilizando sua habilidade ímpar de xingar para tornar tudo ainda mais megalomaníaco (além de usar trejeitos um pouco mais femininos, denunciando a dubiedade da sexualidade do sujeito). E se <b>Margot Robbie</b> consegue encantar com seus olhares e sorrisos e beleza (certamente a atriz foi feita no Photoshop e criada usando uma impressora 3D), <b>Leonardo DiCaprio</b> tem a grande atuação de sua carreira, transformando Jordam em uma força da natureza, a energia em forma de pessoa, sempre falando alto, sempre tendo certeza de sua posição e sempre doando 100% de tudo que tem (um contraste interessante com o Jordan mais jovem, que chega para conversar com Hanna falando de forma bem mais tranquila e baixa). O ator ainda tem certa dificuldade de se perder na personagem, especialmente nos momentos mais íntimos, mas é seguro dizer que carrega <b>O Lobo de Wall Street</b> de forma épica.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto isso, a parte técnica pode se comportar de forma tão megalomaníaca quanto Jordan, pois atinge níveis definitivos de qualidade - e é uma pena que os efeitos especiais do filme, completamente "escondidos", talvez jamais tenham o reconhecimento que merecem. E boa parte da função deles é em prol da direção de arte, que se encarrega de mostrar os exageros daquele mundo, com cenários sempre grandiosos e luxuosos, decorados quase como palácios, ao mesmo tempo em que transforma o escritório em um ambiente despojado ao variar os tipos de terno e colocar alguns figurantes sem o paletó (e é interessante perceber que, quando era "honesto", Jordan vestia um terno cinza claro, ao passo que depois que a "sujeira" começa as cores ficam escuras). Como se não fosse o suficiente, a trilha inspirada consegue marcar o ritmo da brincadeira e ainda atuar de forma simbólica (por exemplo, os versos de Everlong "if anything could ever feel this real forever") são ouvidos logo antes da vaca ir pro brejo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, <b>O Lobo de Wall Street</b> é uma grande e frenética vitória por parte de seus realizadores. Scorsese tira de letra a dificuldade de filmar exageros sem soar caricatural ou destoante, e isso em uma história cujo protagonista leva uma vida tão intensa que é capaz de dormir pilotando um helicóptero. Repleta de grandes sacadas, cenas inesquecíveis e Margot Robbie pelada, a produção é mais um acerto para a carreira do diretor, cujo talento e capacidade continuam tinindo. Em determinado momento, Hanna fala que ninguém sabe nada de como as ações vão se comporta na bolsa de valores, mas uma coisa é certa: apostar em Scorsese é garantia de retorno.</div>
</div>
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Bares, restaurantes e outros recintos culinários mundo afora se aproveitam do fato de que, nessa realidade de temperos e acompanhamentos, há só uma unidade métrica para a quantidade de comida no prato: a porção. E ela está sempre presente. No happy hour, na janta, na entrada, na saída, no "beliscar alguma coisa". O prato principal é o líder, é por ele que praticamos o capitalismo desenfreado, mas o dito-cujo é sempre seguido cegamente por diversas porções - arroz, pão, batata-frita -, que, juntas ou separadas, estão sempre gravitando em torno do prato principal (que provavelmente tem medo de ficar sozinho. É a versão alimentícia de uma tia tomando uísque com Red Bull).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O grande problema, claro, é que ninguém sabe exatamente quanto é uma porção. Não existe uma medida pré-definida. Tal qual a arte e os horários de ônibus em Porto Alegre, a porção é subjetiva. É uma unidade de medida que significa uma coisa para cada pessoa, depende do que essa pessoa acredita, existindo assim em um plano puramente espiritual e desprovido de evidências materiais - basicamente, é uma questão de fé (talvez a porção tenha surgido na repartição do pão na última ceia. Reflitam). O engajamento da sociedade em tal métrica inexistente é tão demente que inventaram até a meia porção, uma metade de algo que não se sabe o que é, cinquenta por cento do infinito, como alguém que dá direções dizendo "ah, claro, sim, isso fica logo ali passando o exato centro geográfico do universo".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A conclusão inevitável é que a porção falha miseravelmente em sua empreitada métrica, servindo apenas como ornamento para as expressões pessoais que vão realmente definir o quanto foi servido ("é bem servido", "vem pouco", "dá pra duas pessoas", "é tipo uma rave pra gordos"). Ainda existem aqueles que tentam encontrar alguma luz nessa escuridão, mas, data a já comentada subjetividade de coisa, acho que podemos aplicar aqui a lógica do copo: se a pessoa acha que uma porção é pouco, é pessimista; se acha que é bastante, é otimista.</div>
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Sou uma pessoa de pele branca. Tipo, bem branca. Já pediram minhas fotos 3x4 pra usar na escala Pantone, assim. Mas não é só questão dos genes monocromáticos, que buscaram dentro das bilhões de combinações possívels entre células e DNAs a exata combinação para criar uma configuração definida pela embaraçosa expressão "pele sensível": alem do revés genético, tenho a tendência a encarar calor e situações envolvendo sol demais e ar-condicionado de menos como vilões da Disney - por exemplo, idas à praia só acontecem quando envolvem futebol ou cerveja com amigos. Sim, eu vejo o litoral da Tailândia como um grande campo de futebol e o arquipélago do Havaí como um conjunto de bares.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como vocês podem imaginar, sou vítima de diversas provocações por não estar adequado à cor de maior status social (que parece ser algo entre um leve laranja e ouro azteca). Alguns conhecidos já disseram que eu pareço uma folha de papel, alguns conhecidos designers já me disseram que eu pareço um #ffffff. Nada traumático ou que tenha causado grandes problemas na minha vida, exceto pela vez em que meus amigos não me deixavam comprar nada no Rio de Janeiro porque achavam que as pessoas iam me ver como um estrangeiro (e cobrar mais pelos produtos, claro. A primeira providência a ser tomada diante de um estrangeiro é cobrar mais), algo certamente contraprodutivo, mas sem grandes danos. É só uma questão que surge de vez em quando, e eu mesmo branco, digo, brinco com isso quando surge a oportunidade, já que humor auto-depreciativo é tudo que as mulheres querem em um homem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas tava pensando aqui. Em uma sociedade tão interessada na produtividade, que julga as pessoas pelos seus feitos, seus empregos, seus salários, uma sociedade onde as pessoas postam no instagram fotos exaltando o trabalho árduo de empurrar uma máquina por três séries de doze repetições, uma sociedade que olha com desdém para o ócio e não hesita em condenar aqueles que cometeram o crime inafiançável de não fazer nada, prontamente taxando essa galera de "preguiçosos" e colocando ela à margem do resto (que Deus me livre nunca foi e jamais será assim), as pessoas estão se gabando de terem <i>deitado debaixo do sol por horas a fio</i>?</div>
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Joguei GTA V para o Xbox 360 e gostei. É divertido na maior parte do tempo, tem ótimos diálogos, missões alucinadas e momentos engraçados. A história é bem forçada, mas ok, não esperava nenhum Aaron Sorkin ou Charlie Kaufman ou qualquer Oscar de roteiro do gênero, e algumas partes expõem claramente que foram boladas nas horas extras de uma madrugada de sábado para domingo (a de fazer ioga e a de dirigir a família até o psiquiatra, especialmente).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, apesar de ter curtido pacas a jornada, não sou daqueles que pegam a caixinha do jogo e saem por aí bradando que GTA V é a resposta a todas as nossas preces. Na verdade, analisando algumas opiniões e reviews, percebi que boa parte da veneração em torno dessa liberação videogamística do ID vem pelas coisas que o jogador pode fazer: ele pode jogar tênis, pode pular de páraquedas, pode dirigir um avião ou um helicóptero, pode fazer ioga, pode escolher entre fazer a missão de forma mais discreta ou chamando no Duro de Matar, enfim, ele pode. Mas a coisa parece ficar por aí, no fato de que é possível. Ninguém comenta se em GTA V é legal jogar tênis (é chato), pular de páraquedas (é legal), dirigir um avião ou helicóptero (chato), fazer ioga (chato) ou se as opções alternativas de realizar as missões são divertidas (o modo Duro de Matar normalmente é divertido, o modo discreto normalmente é chato).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Logo abandonei a exploração do tal mundo aberto e me foquei nas missões principais, essas sim trazendo momentos épicos de motos pulando em cima de trens, prédios do FBI sendo invadidos, rapel, tiroteio desenfreado e outras situações das quais John McLane poderia participar. Ali que toda a diversão se concentrava, e o ato virtual de pular com uma moto virtual em cima de um trem virtual era realmente épico, ao contrário de apenas soar épico quando alguém fala que o jogo permite que o cara pule de moto em cima de um trem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ou seja, aquilo era o GTA V (ao menos pra mim). E, como cada uma dessas missões que soa bem na conversa e mal no controle ocupa espaço que poderia ser usado para as partes legais, e no geral todos as definem como o grande diferencial e a grande atração do jogo, acho que aqui podemos aplicar a lógica do queijo suíço: quanto mais GTA, mais aulas de ioga virtual e derivados; quanto mais aulas de ioga virtual e derivados, menos GTA; assim, quanto mais GTA, menos GTA.</div>
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Toda vez que alguém comenta que comeu/está comendo/vai comer sushi, eu lembro de um filme que assisti em uma aula do colégio, "A Guerra do Fogo", onde uma tribo precisa enfrenta diversas intempéries para conseguir uma nova tocha depois que a sua apagou, já que eles não manjam de fazer o fogo e tal. E não é a determinação que leva eles a superarem as coisas, mas sim o instinto de sobrevivência, já que o fogo afasta predadores, aquece, ilumina e, além disso tudo, torna os alimentos infinitamente mais saudáveis e saborosos. Foi o fogo que possibilitou invenções humanas essenciais à vida, como o canelone.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Milhares de anos depois, as pessoas desdenham de todas essas conquistas e resolvem comer carne crua. Vê se pode.</div>
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Há um tempinho, a Sony chegou no Brasil com o seu terno Armani e dentes de ouro e anunciou, para o infortúnio de milhões de, abre aspas, <i>gamers</i>, fecha aspas (porque <i>gamers </i>não é a mesma coisa que jogadores. <i>Gamers </i>é descolado. É maroto. É passível de ser vendido em camisetas e adesivos) que o seu <b>Playstation 4</b> custaria R$ 3.999 na terra do futebol e da garrafada d'água no Justin Bieber. Claro que a galera chiou e protestos foram organizados e hashtags foram criadas e a Sony, ciente da incapacidade canarinho de resistir ao consumismo por mais que o produto custe uma faculdade, manteve o preço e divulgou uma <a href="http://exame1.abrilm.com.br/assets/images/2013/10/333997/size_590_Sony_usa_infogr%C3%A1fico_e_d%C3%A1_explica%C3%A7%C3%A3o_vaga_para_pre%C3%A7o_do_PS4.jpg?1382377585">equação matemática</a> dizendo que infelizmente eles estão de mãos atadas, que a culpa é dos impostos, das estradas, dos custos, que e é isso aí, que estão fazendo o melhor, que são as vítimas e que bola pra frente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Entretanto, o que à primeira vista parece um movimento onde a Sony baixa as calças do usuário e passa vaselina e toma quinze viagras se mostra na verdade um panfleto que é basicamente um passo a passo de como a vaca vai pro brejo. Pensem a respeito. O valor do videogame é ridículo, e não digo aqui ridículo como um sinônimo estranho/hipérbole de caro, mas sim ridículo no sentido de patético mesmo, quase engraçado (dá até pra imaginar uma fictícia cena de um fictício <i>Corra Que a Polícia Vem Aí</i> onde o saudoso <i>Frank Drebin</i> vai comprar um videogame, descobre que ele custa quatro mil e pergunta "Quatro mil? Mas por que é tão caro?" e o cara responde "Porque tem um 4 no nome ao invés de um 3"). A taxação em cima do produto é claramente e desproporcionalmente exagerada. Os custos de distribuição, graças à ausência de um Velho Oeste tupiniquim que inevitavelmente obrigaria a construção de ferrovias, exibem uma logística intrincada para algo simples, característica bem típica das personagens de comédias pastelão. A cara de pau da Sony em ter a cara de pau de fazer uma explicação bastante questionável enquanto embolsa uma margem morbidamente obesa, claramente não dando a mínima para o que quer que seja, é a cereja nesse bolo de desvirtualização total. A coisa toda é tão absurda que olhos mais desatentos poderiam pensar se tratar de uma sátira.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas claro, nada de sátiras, a Sony está tão séria quanto possível e os consumidores também (deve ser o maior número de gente séria quando do anúncio de algo divertido da história). Afinal, estamos falando de mercado, de salários, de status, de poder de aquisição, de justo e injusto, e não dá para encarar todas essas coisas importantíssimas como um jogo - perdão, um <i>game</i>.</div>
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Acredito que esse tópico já tenha sido abordado e ilustrado com metáforas metidas a engraçadinhas aqui no blog, mas a situação parece que perdeu o controle, tipo, é situação agora é uma caminhonete sem freios e com a barra de direção quebrada e com Kaiser Chiefs tocando no rádio, e parece imperativo erguer uma bandeira com os dizeres "não mais". Porque ando com a sensação de que tudo, até as coisas mais subjetivas e abstratas, precisam ser justificadas através de números - um vídeo de timelapse não é bonito ou sensacional, ele é um vídeo que foi feito com mais de cinco mil fotos e cinquenta horas de pós produção em três semanas; um mochilão nunca é uma experiência envolvente por novas culturas, é uma viagem que percorreu nove cidades em três países em um período de vinte dias; uma festa grandiosa não é uma festa grandiosa pelo que acontece, mas pelo número de chopes consumidos e de garrafas vazias que podem ser contadas, empilhadas e fotografadas para que uma postagem no Facebook informe a todos os números da festa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não que essas informações não possam ou não devam ser divulgadas, o objetivo aqui não é incitar uma multidão furiosa com tochas às casas de matemáticos do mundo inteiro. Apenas refletir se essa obsessão por estatísticas não mostra uma visão de mundo limitada, ou, pior, uma necessidade tão grande de não estar errado que qualquer dubiedade tem sua bunda prontamente chutada pela linguagem matemática - se eu jogo os números ali, estou garantindo a minha posição frente a quaisquer questionamentos de que o vídeo não é sensacional ou a viagem não foi tão intensa ou a festa não foi tão épica. É a resposta fácil, preguiçosa, o relatório de resultados da firma invadindo as vidas pessoais e transformando o cotidiano em corporativo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ou, como Calvin e Haroldo colocaram a questão (de forma muito superior):<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-A-fNaEkpjws/Ul9OO6HiICI/AAAAAAAABc8/S2HZ7e03OYE/s1600/ItMeansYou'reHavingMoreFun.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="125" src="http://1.bp.blogspot.com/-A-fNaEkpjws/Ul9OO6HiICI/AAAAAAAABc8/S2HZ7e03OYE/s400/ItMeansYou'reHavingMoreFun.png" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br />
Assim, não tenho escolha a não ser rejeitar a frase "a cidade que nunca dorme". Porque, por tudo que me vez viver e sentir e experimentar, compreendo que a cidade de Nova Iorque exista eternamente enquanto um sonho.<div class="blogger-post-footer"><script type="text/javascript"><!--
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<br />
Mas em 2013 parece que uma fagulha está se acendendo. O Caxias, finalmente, começou bem a Série C, alterna agora altos e baixos, mas não sai da zona de classificação. Semana passada ganhou do Guarani de Campinas, no Brinco de Ouro, e assumiu a liderança do grupo B. Neste final de semana, perdeu para o Mogi Mirim, mas continua entre os 4 classificados para a fase seguinte (lembrando que passam 4 por grupo, 8 no total. Os que passarem, fazem um mata-mata, para decidir os 4 que sobem à Série B).<br />
<br />
E hoje, o Juventude bateu o Londrina, no Jaconi, e mantém os 100% em casa na Série D. O resultado de 3x1 reverteu o 0x1 no jogo contra o Londrina no final de semana passado, no Paraná. Foi um dos confrontos da 2ª fase, ou oitavas de final. Agora, nas quartas, o Ju pega o Metropolitano de Santa Catarina. Passando, está na Série C.<br />
<br />
Ouvi este jogo pela Rádio Caxias AM. Foi emocionante porque até a metade do segundo tempo o jogo estava 1x0 e iria para os pênaltis. Como não tem emissora alguma transmitindo a Série D, imagino a <i>cagada </i>feita do zagueiro do Ju, pela forma como foi transmitida pela Rádio, e que resultou no gol do Londrina. O Juventude, em função do gol contra qualificado, teria de fazer 2 gols. Até os 40 minutos finais, ainda estava 1x1. Num pênalti e no abafa, o Ju conseguiu fazer 2 gols e passou. E a torcida gritava "Lisca Maluco!!" ao final do jogo para o técnico do Ju, que respondia "Papo maluco!!". Um pouco depois, mais calmo, desabafou: "O Juventude está sem dinheiro, vendeu 18 jogadores e mesmo assim a gente chegou aqui!", e parabenizou os jogadores. Bacana.<br />
<br />
Tomara que, sim, nossos times do interior, entrem nos eixos e cheguem, <i>pelo menos</i>, à Série B, porque aquilo ali está virado num Campeonato Catarinense e, convenhamos todos, Campeonato Catarinense é chato pra caramba!<div class="blogger-post-footer"><script type="text/javascript"><!--
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<br />
E como me irritam os vídeos de tanta gente que fala com tamanha propriedade bobagens sobre coisas óbvias. Sobre a Copa União de 1987, um dia quem sabe, faço um capítulo especial, de um livro falando quem realmente ganhou cada campeonato nesse país desde 1959. Mas de tudo que eu li e acompanho no nosso futebol até hoje, dá pra fazer um belo resumo pra você que não entende a história sobre quem afinal é o Campeão Brasileiro de 1987.<br />
<br />
A CBF, meus amigos, fez muitas bobagens na sua história, bobagens que começaram lá com a CBD (Confederação Brasileira de Desportos), sua precursora. Mas não pretendo destacar nada a mais do que 1987 agora. Neste ano citado, a CBF, simplesmente, não conseguia juntar dinheiro para bancar um campeonato com quase 100 times na primeira e única divisão (porque não tinha segundona até ali, ok), assim como o Sarney distribuía concessões de TV pelo Brasil a fora, só para agradar alguns e privilegiar a outros.<br />
<br />
O que fazer? A CBF chamou os principais clubes e falou: "Olha só, a bagaça é com vocês, eu fiz m**** e não tenho dinheiro pra cobrir. Vocês bancam o campeonato pra gente?". E os clubes responderam: "Bom, se é assim, deixa que a gente monta tudo e fica com a grana, se não, te f***! A coisa tá preta pra gente mesmo, mas estamos vendendo bastante jogador pra Itália, então damos um jeito".<br />
<br />
Como era a CBF que detinha o direito OFICIAL de organizar os campeonatos, bem que ela tentou segurar, mas com a brecha dada, a Globo fechou acordo com os 13 clubes grandes do Brasil, assim ela transmitia só jogos bons e ganhava vendendo propaganda pela audiência na TV.<br />
<br />
Chegou a data de começar e como a CBF não fez nada... começou! E a CBF viu que, mesmo sem ela, os clubes se viraram, e se viraram bem. Com menos clubes pra se preocupar (e com menores exigências também), a CBF tocou o campeonato com o que restou de clubes, chamou o Eurico Miranda (presidente do Vasco) e acertou com ele que o campeonato dos clubes grandes iria valer, mas no final eles tinham que cruzar com os times do campeonato da CBF. Eurico, que não é bobo, não deve ter assinado por nada, mas assinou, e deixou a bomba pra depois.<br />
<br />
No final, os clubes que organizaram o campeonato próprio ficaram sabendo que o campeonato deles não teria validade nenhuma porque o Eurico Miranda assinou um papel, em nome deles, mandando ter um cruzamento com os clubes que venceram o torneio da CBF. E eles não iriam cruzar, porque isso foi um jeitinho que a CBF achou pra não bancar o torneio antes e dizer que, no fim de tudo, quem manda nos torneio de futebol do Brasil, de fato, era ela. E ficou assim.<br />
<br />
Resultado:<br />
Vamos e convenhamos, o campeão brasileiro de 87 é o Flamengo, todo mundo sabe, todo mundo viu, torceu, vibrou, chorou e tudo mais. Agora, <u>se for contar os torneios da CBF</u> (que ela oficialmente fez) o campeão é o Sport. Os clubes e seus interessados ficam discutindo uma coisa tão idiota, que cansa, a gente precisa dizer, escrever, pra ver se as pessoas interessadas compreendem de uma vez por todas: De um lado, o Flamengo diz que é o Campeão Brasileiro de 1987, de outro o Sport Recife diz que tem um documento da CBF dizendo que o legítimo campeão...<br />
<br />
<b>PORRA!! É claro que a CBF vai mandar um documento pro Sport porque foi o Sport quem ganhou o torneio que ELA organizou, mas o Flamengo ganhou o Campeonato Brasileiro que todo mundo acompanhou, esse <u>não era o campeonato da CBF</u>!!</b><br />
<br />
<b><u>E ninguém precisa dessas entidades pra dizer que é campeão ou não de alguma coisa, o que precisamos é do SENSO COMUM!! </u></b><b><u>Vamos aos fatos:</u></b><br />
<br />
A <b>Fifa </b>acha que o Corínthians foi o primeiro Campeão do Mundo!!! Fazia, em 2000, 40 anos que o MUNDO INTEIRO acompanhava mundial interclubes. Já havia uns 20 times CAMPEÕES DO MUNDO. Inclusive, o Boca Juniors, que decidiu o mundial no Japão em dezembro daquele ano, como há anos se fazia e continuaram fazendo por um bom tempo por lá, e ganhou. Tanto é que a própria Fifa teve que abandonar a idéia de torneio dela em 2001 porque ninguém entendia aquele torneio maluco, abraçando o mundial no japão junto à Toyota em 2005... <b>Alguém precisou da Fifa pra saber isso?</b><br />
<br />
O Campeão Brasileiro de 2000 foi o Vasco da Gama e não foi a CBF quem organizou o campeonato (mesmo depois tendo acatado). E todo mundo entendeu que o Vasco foi o campeão na mesma hora em que ele ganhou. Sem contar a história do Fluminense... <b>Alguém precisou da CBF pra saber isso??</b><br />
<br />
Em 1967, não foi a CBD (precursora da CBF) quem organizou o Robertão, mas a CBF decidiu unificar os títulos e disse que o Robertão de 67 valeu como Brasileirão, mesmo jogando somente convidados de 5 estados, sendo que no mesmo ano teve Taça Brasil. Com isso tivemos 2 campeões brasileiros no mesmo ano (???).... <b>A decisão da CBF vale pra você??</b><br />
<br />
Em 1968 a Taça Brasil nem acabou, 2 dos 7 times finalistas desistiram, 1 time foi desclassificado de propósito, e a decisão só aconteceu em 4 de outubro de 69 (OUTUBRO DE 69!)... e só pra dizer que alguém ganhou, porque já haviam decidido que o Robertão de 68 valeria como principal torneio, herdaria as vagas da libertadores de 69 (se houvesse) e, na verdade, até já havia passado para o comando da CBD... e no final ninguém ficou sabendo mais daquela Taça Brasil, porque não teve mais... e a CBF disse que valeu como Brasileirão (???)... <b>A decisão da CBF vale pra você??</b><br />
<br />
CHEGA DE BALELA, a tal Taça das Bolinhas NÃO É DO FLAMENGO, porque a Taça é dada pela CBF. Mas o Flamengo É O CAMPEÃO BRASILEIRO DE 87, porque o torneio que O SENSO COMUM acompanhou como Campeonato Brasileiro chama-se COPA UNIÃO, não foi organizado pela CBF, capisce?<br />
<br />
<br />
<br /><div class="blogger-post-footer"><script type="text/javascript"><!--
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<br />
Entretanto, a humanidade foi construída e moldada sob um dos aspectos mais edificantes da existência: teimosia. Assim, parto amanhã para encarar Las Vegas, Nova Iorque e Los Angeles nos olhos e dizer "truco!". Espero voltar com muitas fotos e palavras (as fotos ficarão melhores).<div class="blogger-post-footer"><script type="text/javascript"><!--
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</script></div>Andréhttp://www.blogger.com/profile/10420753899305402177noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19417594.post-84532938035689389152013-07-27T18:07:00.000-03:002013-07-27T18:07:45.788-03:00Onde defendo as temperaturas de um dígito.Porto Alegre entrou em uma semana temática da era glacial, atingindo temperaturas de um dígito cuja sensação térmica é exatamente a de incredulidade sobre o aquecimento global. Isso perturbou profundamente as pessoas, que, do alto de três ou quatro blusões de lã, bradam impropérios contra o frio e o inverno e o vento e a sensação térmica e o governo (mas o governo é em qualquer estação), tornando o inverno basicamente uma versão com cachecóis do Twitter.<br />
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Mas há uma peculiaridade no frio, uma que jamais é analisada pelos nazistas da temperatura que exigem sempre um calor com sol ariano: ele desempenha um processo fundamental na formação do nosso ego. De acordo com aquele barbudo safado do Freud (acho que foi o Freud, pelo menos. Foi um desses psicanalistas aí, Freud, Lacan, Felipão, sei lá), esse processo começa quando terraplanamos o Complexo de Édipo, praticando bullying com o ID e reconhecendo e nos adaptando aos comportamentos sociais e à exigência deles.<br />
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O inverno é a solidificação absoluta disso tudo. Imaginem uma segunda-feira, seis e meia da manhã, termômetro na rua marcando quatro graus. O despertador toca e, após apertar três vezes o botão "soneca", uma pessoa percebe que é hora de dar início ao dia (se arrumar para o trabalho/aula/escolinha de futebol/etc). Mas é inverno. O frio desestimula e a cama cativa a alma da pessoa em um abraço quente e confortável, e de repente os quatro cobertores se tornam uma barreira intransponível com desenhos divertidos. Então, por um instante, por um abstrato e consternado instante, essa pessoa é possuída pela esperança de que algo aconteça para permitir que ela fique na cama - uma paralisação dos motoristas de ônibus, um blecaute de luz na cidade inteira, o dia do juízo final, qualquer coisa. É uma esperança fantasiosa, infantil, assumindo que o mundo é regido pela nossa vontade, e não pela vontade do destino, esse guri que toca a campainha das casas e sai correndo.<br />
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Inevitavelmente a pessoa percebe que o mundo está olhando para ela e dizendo "é, acho que não", que nada mágico vai acontecer para permitir o insólito romance entre cama e acamado, e levanta da cama para peitar o dia. O instinto de permanecer debaixo das cobertas e a fantasia de que a realidade é capaz de abrir uma exceção são suprimidos, resultando em um indivíduo que reconhece a causalidade como lei universal, entende que suas ações terão consequências, sabe pesar essas consequências e aceita seu papel como membro inequívoco da sociedade. Ele (ou ela) deixa a fantasia infantil para trás (talvez tenha uma recaída em algum filme da Pixar, mas acontece) através de um evento que ocorre quase diariamente durante a temporada.<br />
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Ou, como bem resumiu um dos maiores filósofos do nosso tempo (o pai do Calvin): frio forma caráter.<div class="blogger-post-footer"><script type="text/javascript"><!--
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</script></div>Andréhttp://www.blogger.com/profile/10420753899305402177noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-19417594.post-5463315812226743132013-07-08T21:37:00.001-03:002013-07-08T21:37:54.360-03:00O tempo em duas pernas e quatro rodas.Sou uma pessoa que gosta de caminhar. Mais quando se tem um destino definido, do ponto A ao ponto B, e menos quando se fica andando em círculos em uma praça, por exemplo, pois isso é por demais parecido com a vida. Os fones de ouvido e a capacidade intrínseca do celular de tocar músicas (de longe a característica mais essencial de qualquer telefone. De qualquer coisa no mundo, na real) tornam a atividade uma espécie de videoclipe em primeira pessoa, o que deixa tudo tão agradável que fico pensando quanto tempo vai levar até alguém transformar isso em uma aula de academia com nome em inglês e cobrar cento e dez reais de mensalidade (mas se você fizer o plano de seis meses fica apenas oitenta por mês). Ultimamente tenho inclusive colocado meu sedentarismo em risco ao ir a pé até o trabalho de manhã cedo - e, embora isso tome mais tempo (e mais cartilagem dos joelhos), cria um espaço interessante para ter ideias, pensar sobre as coisas, observar, analisar ou simplesmente ouvir música mesmo.<br />
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Daí hoje, indo de carona, envolvido no cenário automobilístico, presenciei muitas buzinadas e ultrapassagens e sinais vermelhos recebendo menos atenção do que a amiga feia e por aí vai. E o fato de tais situações acontecerem com o mínimo do mínimo de provocação, onde a simples possibilidade de demorar cinco ou dez segundos a mais transforma todo mundo em participantes da Corrida Maluca, leva a apenas uma conclusão: o interior de um carro é um limbo. A vida nunca acontece ali. Quando em um automóvel, as pessoas estão sempre ausentes - ou elas já saíram ou ainda não chegaram. Mas o momento no veículo em si jamais é louvado ou aproveitado, e ou ele é descartado com uma crueldade sem precedentes (ficar feliz que uma viagem foi rápida é ficar feliz que não foi necessário passar muito tempo no automóvel) ou se torna um dos grandes nêmesis da humanidade (qualquer um que já enfrentou um engarrafamento reconhece isso e admite através de gritos, socos no volante ou postagens no Twitter). Basicamente, a impressão geral é a de que o tempo que alguém passa no carro é desperdiçado, minutos e horas que esse alguém está deixando de passar no lugar onde realmente deveria estar.<br />
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Assim, levando em consideração o quadro geral da maioria das cidades, onde o principal objetivo de obras e planejamentos e reestruturações é beneficiar a circulação dos carros, e não se preocupar muito com os pedestres, parece bem claro que prefeituras e cidadãos estão investindo em perda de tempo.<div class="blogger-post-footer"><script type="text/javascript"><!--
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Eu poderia até fazer comparações com rivalidades de time de futebol, onde os mais radicais torcem mais pela derrota do outro do que pelo próprio time, mas acho que isso soaria muito apartidário.<div class="blogger-post-footer"><script type="text/javascript"><!--
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