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O dia em que eu achei a minha alma
André - 17 fevereiro 2011 - 01:20
Num desses domingos que não poderiam ser mais domingo, onde o tédio se espalha pela humanidade feito vídeos de animais fazendo coisas engraçadas, resolvi que ia fazer algo útil, algo que tornasse minha vida mais prática. E então decidi encontrar a minha alma.

Eu sei, eu sei, parece algo totalmente implausível,dada a minha capacidade praticamente nula de achar qualquer coisa. Mas ei, quão longe uma alma pode ir, certo? Tipo, quase cem por cento de chances que estivesse aqui em casa, mesmo. Alma não é o tipo de coisa que a gente simplesmente perde sem querer na rua, tal qual moedas ou a virgindade.

Eu não havia exatamente traçado um plano de exploração, então resolvi começar pelo óbvio: as prateleiras da estante aqui do quarto que sustentam meus livros, meus filmes e meu óculos escuro parecido com os dos xerifes norte-americanos (sequer considerei a hipótese dela estar no óculos, entretanto, pois não ostento um bigode parecido com os dos xerifes norte-americanos). Dei uma olhada superficial por tudo, mas em vão. Só o que achei nessa primeira inspeção foram notas de dinheiro presas em uma ratoeira no lugar onde deveria estar o livro Clube do Filme. Talvez uma abordagem mais direta e mais específica fosse necessária. Então, esperançoso, peguei o Ficções, do Borges, virei na horizontal e folheei rapidamente as páginas para ver se algo caía dali. E caiu, mas era só um cupim intelectual que se aventurava por talentosos ensaios e crônicas. Contudo, confesso que isso não chegou a ser uma grande decepção, ou uma surpresa negativa. Eu sabia que era uma tentativa fadada ao fracasso. Afinal, encontrar uma alma comum e infame no meio das palavras arrebatadoras de Borges é algo tão provável quanto vencer a loteria da Babilônia.

Eis que, lembrando dos valorosos ensinamentos de Hollywood, apostei no clichê e puxei triunfante o DVD de Clube da Luta, o qual tem - ou ao menos deveria ter - escrito à caneta na lateral os dizeres "Projeto Bíblia". Era algo tão óbvio que não havia como não estar ali. Por isso talvez tenha sido uma coisa boa o fato de realmente não estar ali, pois indica que eu ainda consigo surpreender a mim mesmo. Tudo que achei dentro da caixinha do DVD foi o meu alterego imaginário, que parece como eu gostaria de parecer, fode como eu gostaria de foder, é inteligente, capaz, e, mais importante, é livre de todas as formas que eu não sou. Sujeito bacana ele, apesar de ligeiramente esquizofrêncio.

Dei uma vistoria caprichada no Xbox, onde vi apenas um punhado de conquistas virtuais, nas latinhas de cerveja, que abrigavam única e exclusivamente histórias embaraçosas, e na mesa de botão, que guardava nas imperfeições de sua velha madeira uma infância inteira, mas desconhecia totalmente as desilusões de uma vida  adulta. Por um momento imaginei tê-la encontrado por entre as camisetas de futebol, e cheguei a dar uma volta olímpica pela casa em comemoração. Entretanto, ao pegar a camiseta da seleção da Espanha, lembrei que ela não possuía o número 10 nem o nome Fábregas às costas, e me dei conta de que, por ser ela mesma incompleta, minha alma jamais se esconderia em um lugar também incompleto.

Fui verificando todos os cantos, todas as possibilidades, dando voltas e voltas pela casa, mas eram sempre buscas infrutíferas. E, tal qual acontece com todos que tentam realizar algo no domingo, desisti. Simplesmente deitei na cama, frustrado. Eu parecia estar quase lá, perto o suficiente pra senti-la, distante o suficiente para não alcançá-la. Só que faltava algo, e esse algo não me deixava completar a busca.

Foi quando uma última possibilidade seduziu minha mente. Uma bastante simples e óbvia, admito, mas nem por isso menos interessante. Então, tomado por uma sensação que todos conhecemos bem, olhei debaixo da cama. E sorri, comemorei, levantei os braços, dei pulos de alegria. Eu a havia encontrado: uma palheta. Puxei ela e a segurei entre os dedos, sentindo o som praticamente ecoar sozinho daquele pequeno objeto. Com a mão livre peguei o violão, que guarda nas imperfeições de sua madeira os exageros da adolescência e a divertida maturidade de um início de vida adulta. Demorei tempo suficiente afinando ele, me certificando de que cada nota soaria exatamente como deveria soar. Testei alguns acordes, batendo a palheta de leve nas cordas já desgastadas. E comecei a tocar Thunder Road.
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