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Vitória técnica
André - 07 fevereiro 2011 - 03:22

O Vencedor (The Fighter)
4/5

Direção: David O. Russel
Roteiro: Scott Silver, Paul Tamasy e Eric Johnson

Elenco
Mark Wahlberg (Micky Ward)
Christian Bale (Dicky Eklund)
Melissa Leo (Alice Ward)
Amy Adams (Charlene Fleming)

Micky Ward é um boxeador pacato, tranquilo e que, treinado por seu irmão Dicky Eklund, passou os últimos dez anos levando sarrafo atrás de sarrafo nas lutas. Totalmente dominado pela mãe empresária e pela família (eles possuem sete irmãs - sim, imagine como fica o carro deles com aqueles adesivos de família que viraram moda), Micky encontra na garçonete Charlene o início de um novo caminho. E no meio dessa balbúrdia toda, incluindo aí o vício de Dicky por crack, Micky tenta se superar cada vez mais para se tornar um grande boxeador e também porque histórias de superação costumam comover o pessoal do Oscar.

O Vencedor é menos uma história de ascensão de um boxeador e mais a história de uma família tão instável e disfuncional quanto o MSN Messenger. Tipo um The Osbournes sobre boxe, assim. Contando com um elenco que atinge níveis estratosféricos de qualidade, o filme foge de fórmulas tradicionais (ok, da maioria delas, pelo menos) e consegue soar pertinente dentro de sua proposta, mesmo que, aqui e ali, acabe caindo naquela grande armadilha de urso que é o clichê.

"Deixa eu botar minha roupa de Batman que acabo com esse desgraçado em dois bat-segundos!"

A película já começa mostrando o carisma de Dicky ao fazer a personagem caminhar pelas ruas da vizinhança cumprimentando todo mundo, enquanto uma equipe de TV segue atrás para fazer um documentário sobre o sujeito - e essa cena serve como exemplo da dinâmica familiar deles, onde Dicky é o centro das atenções e Micky, tal qual o Palmeiras, fica sempre relegado a segundo plano. A partir daí o filme constrói as tramóias com bastante cuidado, fazendo com que a família compactue com as ilusões de grandeza de Dicky mesmo quando é o irmão que está se preparando pra entrar no ringue. Graças a esse tipo de comportamento (como, por exemplo, quando estão saindo de uma luta onde Micky apanhou feito uma senhora de idade aprendendo a usar o computador e todos se importam mais em ouvir o irmão falar de como derrubou Sugar Ray Leonard), o público realmente sente que o protagonista está sendo injustiçado e sofre com ele - e o quando o sujeito se apaixona por Charlene, uma moçoila cativante e de personalidade forte ("eu não vou me esconder da sua família"), entendemos o motivo daquela atração e a importância que Micky dá ao fato de finalmente estar "em primeiro lugar" pra alguém. E ao invés de apelar pro dramalhão total, como poderia fazer, o filme investe em conflitos que se mostram inevitáveis, tornando a relação entre aquelas pessoas mais densa e palpável (principalmente Dicky e Mickey. Inclusive ambos, como irmãos, brigam e se reconciliam toda hora - quando Micky ajuda o irmão com os policiais, por exemplo, ou quando Dicky, mesmo após uma discussão forte, dá dicas de boxe a Micky).


O Vencedor ainda mostra um excelente jogo de pernas ao expor as estratégias do protagonista antes de algumas lutas ("Boxe é um jogo de xadrez") e a manipulação feita por empresários (tipo ao utilizar alguns lutadores menos dotados tecnicamente como "escada" para outros subirem). É uma pena, então, que em determinados momentos a película se atire nas cordas: a cena da prisão, por exemplo, é conveniente demais, soando tão falsa que poderia fazer parte do Big Brother Brasil; em um determinado conflito no ginásio, Micky muda de ideia rápido demais, como se o roteiro tivesse apontado uma arma pra cabeça dele e dito "seguinte, você tem que mudar de ideia agora pra iniciarmos a caminhada rumo ao clímax"; a ascensão de Micky ocorre muito rapidamente, e o público fica sem ter a dimensão da coisa toda; e até mesmo a tentativa de estabelecer um dos lutadores como um oponente "malvado" no final acaba dando com os burros na água. São coisas que não chegam a comprometer, mas tiram um pouco da força do filme.

Desde o início o diretor David O. Russel busca uma abordagem natural, com a câmera na mão e sem partir pra uma iluminação ou uma fotografia muito rebuscadas (em alguns momentos, inclusive, as imagens das lutas ficam meio distorcidas e com cores lavadas, como se estívessemos assistindo na televisão). Confiando no elenco SELECIONÁVEL que tem em mãos, utiliza planos mais longos, até mesmo para ilustrar a proximidade das personagens - e é interessante como Russel volta e meia coloca Micky no canto do quadro ou em uma marcação mais para o fundo da cena, ajudando a construir o deslocamento e a sensação de ficar em segundo plano que atingem Micky. Contribui também para o bom andamento da coisa toda uma direção de arte vitoriosa, que reconstrói com propriedade a época tanto em cenários quanto em figurinos (vejam como o apartamento de Micky é vazio, de alguém sem personalidade, e como o boné virado de Dicky ajuda a ilustrar a imaturidade da personagem), além de contar com uma excelente trilha sonora.

Mas a grande TORTA DE SORVETE do filme é mesmo seu elenco: sempre com uma postura contida, tom de voz controlado com um olhar cansado, Mark Wahlberg convence o espectador da passividade do protagonista, ao mesmo tempo em que possui carisma o suficiente para que torçamos por ele; Amy Adams encarna Charlene com energia, tornando a moça uma personagem forte e cativante, essencial para que o espectador entenda porque Micky se interessa por ela; e Melissa Leo faz de Alice uma personagem intensa, que, sempre a ponto de estourar, não economiza nos trejeitos na hora de expressar sua opinião. Entretanto, quem chega chutando tudo e assumindo a camisa 10 é Christian Bale. Sempre inquieto, enérgico e repleto de tiques (repuxa a boca, mexe os olhos, não consegue ficar com as mãos paradas), características que evidenciam seu vício, Bale faz de Dicky uma figura ao mesmo tempo carismática e trágica, que na sua empolgação infantil e auto-destruição conquista de vez o coração do espectador.

Apesar de uma ou outra falha, O Vencedor tem a alma pura e mostra-se digno do investimento feito nele. E consegue soar original mesmo trabalhando com aquela velha história de superação de problemas pessoais em prol de realizar algo grandioso. E, através dessa estratégia adotada, o resultado final do filme acaba fazendo jus ao seu título em português.

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