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Finais forçados e outras drogas
André - 30 janeiro 2011 - 21:58

Amor e Outras Drogas (Love and Other Drugs)
3/5

Direção: Edward Zwick
Roteiro: Charles Randolph, Edward Zwick e Marshall Herskovitz, baseados no livro O Amor é O Melhor Remédio, de Jamie Reidy

Elenco
Jake Gyllenhaal (Jamie Randall)
Anne Hathaway (Maggie Murdock)
Oliver Platt (Bruce Winston)
Josh Gad (Josh Randall)

Estamos no ano de 1996. Jamie é um sujeito carismático e divertido que trabalha como representante de uma empresa farmacêutica. Maggie é uma moça carismática e divertida que, ao que parece, trabalha em um café ou algo semelhante. Eventualmente o caminho de ambos acaba se cruzando, e daí descobrimos que o irmão de Jamie foi chutado pela mulher, que Maggie tem Parkinson, que Jamie quer crescer na empresa, que os representantes farmacêuticos utilizam-se de diversas artimanhas, que o Viagra foi inventado, que a Anne Hathaway tem um corpo deslumbrante e que finais piegas continuam estragando bons filmes.

Quando fez o otimo Jerry Maguire (curiosamente em 1996), Cameron Crowe brincou com algumas convenções presentes em comédias românticas, incluindo aí o famoso discurso do "depois de duas horas de filme só descobri agora que realmente te amo" no final (se vocês já assistiram ao filme, sabem qual é a cena). Pois bem, se tivesse algum Cameron Crowe na produção, este O Amor e Outra Drogas poderia conquistar muito mais do que o título de comédia romântica legalzinha - afinal, a coisa segue por um belo caminho até o final, quando, no melhor estilo ROBERTO BAGGIO, o filme isola a pelota e perde a sua chance de ser relevante.

"Been there, done that" (Baggio, sobre Amor e Outras Drogas)

Não que tudo até lá seja uma conexão banda larga: tentando transitar entre ao menos quatro diferentes tramas (o romance dos pombinhos, o mal de parkinson, o crescimento na empresa e a família de Jamie), o roteiro tira a carta "Revés" na maior parte delas. Quando Jamie alcança alguma conquista profissional, por exemplo, a coisa parece tão fácil - já que o filme não gasta tempo suficiente na trama - que o espectador só consegue fazer aquele cara de mulher durante o sexo, tipo "mas já?". Da mesma forma, as crises de Parkinson só realmente atingem Maggie quando a história precisa de algum conflito dramático, sumindo da película assim que a vaca já foi pro brejo no relacionamento dela com Jamie. E a presença de Josh Randall, irmão de Jamie, só consegue ser uma tradução visual para a famosa sigla internética "WTF?", sendo responsável inclusive por uma das cenas mais bizarras de dispensáveis do ano (ok, o ano só começou agora, mas dizer "do ano" dá a força necessária pra frase).

Entretanto, e este é um grande "entretanto", quando se concentra na relação entre Jamie e Maggie o filme abre seu caminho à força até o coração do público. Pra início de conversa, a forma como as duas personagens são apresentadas já as tornam interessantes: Jamie surge como vendedor em uma loja, carismático, dançando e conquistando clientes; e Maggie surge com um dos seios de fora. A partir daí, Amor e Outras Drogas desenvolve entre ambos uma relação adulta, construída a partir de cenas que ilustram bem a intimidade do casal, como a conversa no sofá, as conversas na cama, e, claro, o sexo intenso. Ajuda bastante tudo ser fotografado em cores quentes como se não houvesse amanhã, transmitindo ainda mais o calor e a paixão entre o casal - e vejam como até mesmo o desorganizado apartamento de Maggie surge aconchegante, agindo como uma espécie de "refúgio" onde eles podem fazer o que quiserem, falar o que quiserem e conseguem viver em seu próprio mundinho, sem preocupações externas. Caberia dizer aqui também que tais cenas possuem uma lacrimejante mise en scène, mas, com Maggie nua ou seminua em quadro, isso não é mais um mérito do que uma obrigação.

Claro que a coisa só dá certo porque Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway venderam a alma ao diabo em troca da química perfeita e total, e parecem estar realmente possuir aquele laço único que une homem e mulher (além da gravidez, digo). Além disso, Gyllenhaal mostra-se bastante à vontade tanto em cenas mais intimistas como quando Jamie precisa TAGARELAR com médicos e secretárias, exibindo um ótimo timing cômico e carisma de sobra. Já Anne Hathaway desfila uma beleza arrebatadora pra lá e pra cá, fazendo com que não apenas o protagonista se apaixone perdidamente por ela, mas também o público. Cada piadinha, cada trejeito, cada sorriso são como uma injeção de CRACK que deixa a galera extasiada só em ver a atriz. Fico questionando que tipo de iluminação BÍBLICA usaram pra rodar as cenas, pois a moça deve eclipsar até o Sol, que dirá alguns holofotes fanfarrões.

Assim, é uma pena que Amor e Outras Drogas acabe de uma forma tão piegas que até os fabricantes do bombom "Sonho de Valsa" recusariam o terceiro ato como comercial para o produto. Mais do que isso, a película se mostra extremamente apelativa ao usar o mal de Parkinson como desculpa para causar um conflito que resulta no final piegas já citado. O resultado com certeza seria bem melhor se as tramas tivessem menos importância, deixando que a relação entre Jamie e Maggie fosse o único fio condutor da narrativa e a luta dela contra o Parkinson tivesse alguma relevância dramática. Ou se o diretor botasse mais cenas de Anne Hathaway como veio ao mundo.

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