Quando eu era pequeno e ia ao circo - e na época o circo era formado por artistas, e não por jornalistas -, uma das atrações que mais me impressionavam era o Globo da Morte. Basicamente, era um enorme globo gradeado e recheado com um grande número de pessoas pilotando MOTOCAS ali dentro (ou seja, gente andando em círculos, o que me leva a concluir que o único nome mais pertinente do que "Globo da Morte" é "vida"). E, como vocês podem imaginar, o grau de perigo da atração era algo próximo a invadir o Iraque com um ESTILINGUE ou usar transporte coletivo, pois os caras andavam pra cima e pra baixo do globo em velocidades absurdas, faziam looping, ficavam de lado, tudo isso perfeitamente sincronizado pra que as motos não se batessem. Eu saía de lá impressionado, porque mesmo com todas as seguranças e medidas de precaução os sujeitos estavam arriscando a vida ali. Presenciar um ato de tamanha coragem e bravura é estonteante, e eu tinha bastante certeza que, no caso deles, Deus não colocara nenhuma colher de "medo" na formação desse grande buffet que é o caráter.
Hoje em dia fico imaginando essas pessoas caminhando na rua, indo pagar contas, esperando o sinal fechar pra atravessar a rua, fazendo as coisas normais que todos nós fazemos. E estou certo de que, ao ver o que os motoqueiros fazem no trânsito atualmente, esses paladinos da coragem, que arriscavam a vida diariamente, sacodem negativamente a cabeça e pensam "esses caras são loucos". |