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Immortality
André - 14 janeiro 2011 - 10:58
Immortality sempre me intrigou bastante. É uma das músicas mais tristes do Pearl Jam e possui uma das letras mais elaboradas da banda. Muitos inclusive dizem que é sobre Kurt Cobain. E embora Eddie Vedder meio que tenha negado isso, o vocalista admitiu alguns paralelos entre ele e o ex-líder do Nirvana, dizendo que a música pode oferecer esse tipo de leitura. Então, para fins de análise, vamos assumir que Immortality não é uma canção sobre o Kurt Cobain em si, e sim sobre o que aconteceu com ele e como isso afetou Vedder, que estava sob uma pressão semelhante e possivelmente deveria assumir o manto de "novo Kurt Cobain" após o suicídio do ex-vocalista do Nirvana (essa hipótese ganha força quando lembramos que o tema da exploração da mídia é bastante recorrente no disco Vitalogy). Então aqui vocês encontram a letra original, logo abaixo há um vídeo da canção e, após isso, os versos da música traduzidos, cada um com sua respectiva análise:



Abandonar é a palavra
Vingança não tem lugar perto dela
Não consigo encontrar um conforto nesse mundo

No primeiro verso Eddie deixa clara o paradoxo da solidão quando se é famoso. Sente-se abandonado, pois não há mais como distinguir entre, por exemplo, amizade real e amizade por interesse - algo tão desolador que nem mesmo o sentimento de vingança consegue ser tão cruel. Isolados dentro de sua "bolha de sucesso", Eddie e Kurt não sabem a quem recorrer ou no que se agarrar para se manterem estáveis.

Lágrima artificial
Vaso quebrado, que venha o próximo voluntário
Vulnerável, a sabedoria não pode participar

Aqui Eddie ilustra a falsidade da mídia, que chora de forma politicamente correta por um artista que se foi, mas que, como o pote de ouro se quebrou, está apenas à espera do próximo Kurt Cobain para sugá-lo e satisfazer seus bolsos. E que dentro desse mundo artificial, repleto de imediatismos, tendências e exploração, não há espaço para sentimentos verdadeiros.

Um rebelde acha um lar
E um desejo ao qual se apegar
Mas há uma armadilha no sol
Imortalidade

Vindos de famílias disfuncionais, Eddie e Kurt encontraram na música um lugar para se sentirem seguros, algo que eles amam incondicionalmente. Entretanto, a meteórica ascensão das duas bandas revelou diversos aspectos desse mundo que eles até então desconheciam e que podem derrubá-los (os temas de exploração, solidão, superficialidade, e todos os outros tratados nessa canção).

Tão privilegiado quanto uma prostituta
Vítimas em demanda para um espetáculo público
Varrido pra fora pelas frestas debaixo da porta

Mais uma ilustração da pessoa enquanto produto: a indústria suga deles o que quer, oferece ao público o circo de celebridades que tanto gosta (impossível não pensar na relação entre Kurt e Courtney aqui) e depois, quando não há mais o que explorar, joga os artistas fora como uma prostituta após uma noite de sexo (o que também abrange a questão de se vender). E joga fora de forma silenciosa, sem alarde, aos poucos varrendo do mainstream aquilo que não mais interessa.

Mais sagrado que tu, como?
Rendido e executado de qualquer jeito
Rabisco dissolvido, caixa de cigarros no chão.

Neste verso Eddie continua interrogando sobre as prioridades da indústria e imprensa, onde a imagem mais vendável de determinada pessoa subjuga o que ela realmente é (isso fica claro na canção Corduroy, do mesmo disco, onde Eddie canta Take my hand / not my picture. Atualmente o verso encontra respaldo na cantora Amy Winehouse e na atriz Lindsay Lohan: ninguém sabe se elas são ou não talentosas, apenas que entram em confusões dia após dia). A segunda frase completa o "varrido pra fora pelas frestas debaixo da porta" do verso anterior, enquanto o final mostra que Eddie e Kurt eram pouco mais do que rabiscos, prontos para serem apagados assim que fosse necessário.

Um rebelde acha um lar
E um desejo ao qual se apegar
Mas há uma armadilha no sol
Imortalidade

Mesma coisa do primeiro refrão.

Eu não consigo interromper o pensamento
Estou correndo no escuro
Vem se aproximando uma bifurcação
Todos os bons rebeldes precisam decidir

Assim como Kurt, Eddie estava preso a essa posição de quase messias, de porta-voz de uma geração, preso a essa fama absoluta que lhe privava de coisas importantes, que o deixava no escuro com relação a tudo que realmente faz a diferença na vida. Então chegou o momento de decidir: ou se afasta e deixa toda essa loucura para trás, ou se deixa levar e é engolido pelo furacão do mainstream que arrasa tudo que vê pela frente.

Oh, despojado e vendido, mãe
Antebraço leiloado
E pêlos de barba na pia

Aqui a coisa começa a ficar cada vez mais intensa, e Eddie ilustra todos os temas do quarto verso (imagem x conteúdo) de forma mais brutal, mais direta. Nada é sagrado, qualquer parte que possa ser vendida por algum valor é leiloada, e o comportamento precisa ser adequado ao que a indústria necessita (no caso, tirar a barba é deixar um visual mais limpo, mais acessível, mais vendável, além de uma metáfora pra reprimir instintos naturais e apará-los de acordo com a proposta comportamental vigente).

Rebeldes seguem em frente
Não podem ficar por muito tempo
Alguns morrem apenas para viver

No último e mais triste verso, Eddie diz que optou por se afastar da loucura, pois ficar muito tempo nessa estrada cobra um preço alto demais - o que refletiu em todo o comportamento do Pearl Jam ao longo da carreira (quebra de contrato e processo contra a Ticketmaster, boicote à imprensa, ausência de videoclipes e entrevistas, comunicar-se com os fãs diretamente através de canais como o fã-clube, etc). Já a última frase da canção faz clara alusão a alguém que não conseguiu se distanciar, que foi soterrado pelo sucesso. E preso nesse mundo artificial, repugnante, onde ninguém pode ser quem realmente é, a única forma que Kurt Cobain encontrou de viver consigo mesmo foi se matar. Assim termina o paralelo entre Eddie e Kurt: um conseguiu se manter, o outro, mesmo após sua morte, continua explorado de forma impiedosa por quem, na superfície, finge que o venera.
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