Incontrolável (Unstoppable) 3/5
Direção: Tony Scott Roteiro: Mark Bomback
Elenco Denzel Washington (Frank) Chris Pine (Will) Rosario Dawson (Connie) Trem
Graças a uma série de situações digna de uma comédia de erros - ou da seleção francesa -, um trem carregando diversos vagões com acetato de clichêssio (ou seja, típica substância química hollywoodiana que está louca pra explodir) sai desgovernado tocando o terror trilhos afora. É então que dois empregados da companhia TREMZÍSTICA, o experiente Frank e o novato Will (com a ajuda da Connie na sala de controle), decidem acabar com a balbúrdia e partem pra tentar parar o trem.
Nos últimos anos, o diretor Tony Scott e sua namorada Denzel Washington estiveram juntos em diversos filmes, explorando sempre o mesmo tema: o mal de Parkinson (única explicação possível para a eterna câmera sacolejante que Scott usa até quando grava o aniversário de seus filhos). Entretanto, apesar da trama simples, Incontrolável conta com um elenco carismático e um roteiro com mais acertos do que erros, transformando-se no melhor trabalho do diretor desde o ótimo Jogo de Espiões, de 2001.
A SACOLEJÂNCIA da câmera é tanta que até as imagens paradas do filme estão em movimento.
O roteiro começa tentando descarrilhar tudo ao construir a situação de uma maneira forçada, apostando que, só porque o espectador acredita em discursos de políticos, então vai acreditar na série de eventos forçados que levam ao início do FUZUÊ. Da mesma forma, aparentemente pouco à vontade com a falta de adrenalina por muito tempo, Mark Bomback coloca cenas de ação sem nenhum sentido, como a dos cavalos na frente do trem e carros capotando aos quatro ventos. Entretanto, quando o filme se apega mais nos bastidores, nos planejamentos, nas decisões, funciona e funciona bem. Os diálogos são rápidos e urgentes, transmitindo ao público a tensão da galera, e a dinâmica entre Frank e Will (e entre estes e Connie), apesar de batida, dá conta do recado. Nada espetacular, mas cativante e crível o suficiente para que o público enxergue as personagens como mais do que "coadjuvantes do trem que pode explodir".
Mais uma vez Scott aparentemente filmou tudo durante um TERREMOTO, pois a câmera a todo tempo fica balançando e os cortes são tão rápidos que por diversas vezes quebram a barreira do som. Está lá também aquela tradicional fotografia dessaturada, granulada, ajudando a dar um clima de realismo e urgência à coisa toda. Mas a verdade é que esse tipo de direção acaba mais atrapalhando do que ajudando, já que deixa o espectador meio perdido durante as cenas de ação - e, se o público não sabe exatamente o que está acontecendo, o suspense que a cena poderia criar é desperdiçado (e muitos planos acabam se repetindo). Ainda assim é interessante a ideia de mostrar diversos eventos pelo visão das câmeras de jornalistas e emissoras de TV, conferindo dinâmica a um trama que, em sua essência, não possui muitas reviravoltas (não há como chegar no final e dizer algo tipo "minha nossa, o trem também era um fantasma!").
Mas a força da película reside mesmo na dinâmica do elenco: se por um lado Chris Pine não consegue fazer muito como o "novato durão e metido a herói que possui uma história de fundo extremamente forçada", por outro Denzel Washington se encarrega de distribuir carisma e experiência a torto e a direito (percebam como seu tom de voz controlado reforça a impressão de que ele sempre sabe o que fazer). Mas é Rosario Dawson que cria uma empatia maior com o espectador ao liderar a operação, sofrer com os percalços, se preocupar com Frank e Will, e por aí vai. A moça transborda naturalidade no papel, e acaba se tornando o centro emocional com o qual o público se identifica.
Isso tudo dá um pouco mais de vida a Incontrolável, já que o foco não é apenas no trem descontrolado, mas também nas pessoas descontroladas tentando parar o trem descontrolado. Uma abordagem muito mais coerente e divertida, que transforma a película em um bom passatempo e coloca o cinema de Tony Scott novamente NOS TRILHOS. Marcadores: Peliculosidade |