O Turista (The Tourist) 1/5
Direção: Florian Henckel von Donnersmarck Roteiro: Florian Henckel von Donnersmarck, Christopher McQuarrie, Julian Fellowes
Elenco Johnny Depp (Frank Tupelo) Angelina Jolie (Elise Clifton-Ward) Paul Betanny (inspetor John Acheson)
Elise é uma moça de lábios grossos que está sendo perseguida pela Interpol porque eles querem capturar o namoradinho da moça, um sujeito que andou sonegando impostos a torto e a direito por aí. Então ela acaba cruzando com um turista em Veneza e, a partir daí, os dois passam a ser perseguidos pela Interpol, embora quem realmente devesse cuidar do caso fosse a P.I.F.I.A (Polícia contra a Idiotice, Falta de Imaginação e Amadorismo em filmes).
Em 2002 Sr. e Sra. Smith, um filme de espionagem estrelado por duas grandes celebridades da época - sendo que ambos eram o sonho de consumo de seu respectivo sexo oposto - causou FRENESI por colocar frente a frente Brad Pitt e Angelina Jolie. No entanto, apesar de ter ficado nas manchetes mais pela questão de "será que o Pitt tá pegando a Jolie" do que qualquer coisa, Sr. e Sra. Smith funciona bem como diversão descompromissada e arrecadou baldes de dinheiro por esse mundão afora. Daí vieram com esse O Turista, substituindo Pitt por Depp e tentando fazer algo também DESCOLADO e CHARMOSO, mas conseguindo apenas chafurdar na lama do fracasso e cozinhar bolos recheados de derrota.
Precisava de um barco bem maior que esse pra impedir o filme de afundar, filha.
A trama simples não seria um problema caso ela não tropeçasse em pedras e caísse de fuça no chão o tempo todo (precisávamos mesmo de MAIS UM vilão matando um capanga seu que comete um erro? Aliás, por que a Interpol vai atrás do cara que sonega impostos mas nem se preocupa com um gângster que mata gente adoidado? E precisava alguém dizer que a esposa de Frank morreu se isso não será abordado NENHUMA vez ao longo da trama? E que reviravolta estapafúrdia é aquela no final, que contradiz muitas das coisas vistas na película?). Como se não fosse o suficiente, o público ainda tem que lidar com aquele que é provavelmente o casal mais desinteressante da história do cinema. Tipo, em nenhum momento Frank e Alice fazem absolutamente NADA que justifique o interesse que um tem pelo outro, como se estivessem juntos apenas por uma questão de "oh, somos os protagonistas do filme, temos que ficar juntos". O que é ainda pior, já que, quando juntos, eles apenas ficam tentando parecer misteriosos e profundos, dando com os burros na água todas as vezes - e diálogos constrangedores como "eu não me arrependo de ter beijado você" só pioram tudo.
Sabendo que tem em cena duas estrelas que homens e mulheres veneram, o diretor não economiza em closes, provavelmente na vã esperança de que olhar para o rosto dos atores por muito tempo fará o público esquecer a lambança que é o filme. Pensando bem, O Turista é meio que como um museu de cera, onde a ideia é apenas deixar as pessoas olhando pra famosos que não fazem nada além de serem olhados. A preguiça é tanta que nem as poucas cenas de ação conseguem ser interessantes (percebam que a perseguição no telhado possui enquadramentos dignos do seriado do BATMAN nos anos 60). E olha que a história se passa em Veneza, uma cidade fotogênica por natureza e que oferece uma pá de possibilidades pra fazer sequências inesquecíveis, tanto de ação quanto de romance.
Mas o cacique da tribo de problemas presente em O Turista está justamente na sua dupla de protagonistas: a falta de química entre Depp e Jolie é tão devastadora que, imagino, os atores gravaram suas cenas individualmente sem jamais contracenar um com o outro, sendo unidos apenas na pós-produção. Além disso, Jolie mantém sempre a expressão de "eu sou gostosa", tornando sua personagem ainda mais murrinha e totalmente apática ao que acontece (apenas ter lábios grossos não é o suficiente pra ser sensual, moça). Já Depp, infinitamente mais talentoso, mantém o tom de voz baixo e uma postura contida que combinam perfeitamente com a situação na qual Frank se encontra - mas, apesar de ser o responsável pelos raríssimos momentos de humor (aliás, "raríssimos" não define a situação tão bem quanto "correndo risco de extinção"), o ator pouco pode fazer com uma personagem que não faz nada em uma história que simplesmente não acontece.
Ao que tudo indica a ideia da película era basicamente ser uma edição de Caras com movimento, mostrando duas pessoas famosas em uma cidade européia bonita, e tentar se passar por filme inteligente com aquela reviravolta no final. Acontece que a virada realmente pega o espectador de surpresa, mas apenas porque ele já havia imaginado aquela hipótese e a descartado por ser um mar de implausibilidade com ondas de contradição. E fecha a história de forma tão patética e novelesca que, no lugar de Jolie e Depp, talvez o filme devesse ter colocado nomes como Toni Ramos e Glória Pires. Marcadores: Peliculosidade |