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The kids aren't allright
André - 01 fevereiro 2011 - 16:20

Inverno da Alma (Winter's Bone)
5/5

Direção: Debra Granik
Roteiro: Debra Granik e Anne Rosellini, baseados no livro de Daniel Woodrell

Elenco
Jennifer Lawrence (Ree Dolly)
John Hawkes (Teardrop)
Shelley Waggener (Sonya)

Ree é uma garota de 17 anos, bonita, inteligente e que por acaso mora numa região desolada, áre provavelmente planejada pela DEPRESSÃO ENGENHARIA LTDA e decorada pelo escritório de design TRISTEZA TOTAL. No meio dos caipiras que vivem em casas afastadas lá, a moçoila precisa cuidar dos irmãos mais novos e de sua mãe doente. Mas pra não facilitar as coisas e deixar sua filha mimada, o pai de Ree sai da prisão sem pagar a fiança, obrigando a garota a lidar com pessoas perigosas e barbudas na tentativa de encontrar o sujeito e, assim, evitar que a casa onde sua família mora seja tomada de assalto pelo governo.

Inverno da Alma tem bastante semelhanças com, bem, com um pedaço de concreto: é um filme áspero, pesado, denso e atinge o espectador com uma força descomunal. Só que também é uma emocionante e cativante história de sobrevivência, daquelas que fazem as pessoas saírem do cinema repensando seus valores e conceitos - pelo menos até serem atingidas pelas luzes do shopping, quando então toda reflexão some feito canetas que caem no chão.

As mães certamente repensarão aquele papo de "levar as crianças pra brincar na rua é mais saudável do que ficar jogando videogame".

A trama é bastante simples, mas narrada com intensidade. E o filme já começa acertando todos os alvos possíveis ao nos apresentar à rotina de Ree, que consiste em levar os irmãos à escola, cozinhar, cortar lenha e outras coisas que eu, guri de apartamento, nem sei o que são. Isso é importante não apenas para estabelecer a personagem como uma garota madura e determinada, mas também para situar o espectador naquela realidade dura e triste. A partir daí, conforme a história vai se desenvolvendo, Inverno da Alma atira o público sem piedade em diálogos secos, crus, cheios de orgulho e de raiva. É como um lugar onde a galera cresceu sem ter acesso a nenhum filme da Disney. As pessoas são tão duras e tortas quanto as árvores que decoram a paisagem, e a naturalidade com que Ree desfila no meio dessa GENTALHA é quase dolorosa - afinal, graças às já citadas cenas iniciais nós acabamos por gostar dela, nos importar com ela, e então acabamos realmente chorando pitangas por ela fazer parte dessa realidade sofrida. Uma construção de personagem sensacional, complexa, que enterra a sete palmos debaixo da terra as concessões fáceis e felizes (Ree ensina seus irmãos a matar e ESTRIPAR um esquilo como se estivesse ensinando a jogar Mario 64!).

Para acompanhar essa atmosfera de repartição pública, a diretora puxa as cores sempre pra tons de ciano, enfatizando a desolação e frieza da região (que são ainda mais realçadas com essas cores fazendo parte do "Clube da Dessaturação Absoluta"). Sempre instável, a câmera acompanha Ree a certa distância, buscando evidenciar a solidão da garota através de planos abertos onde, enquadrada em um dos cantos, a moça surge sozinha naquele ambiente hostil. Aliás, a direção de arte é uma das grandes vitórias da película, pois cria a ambientação definitiva para a jornada da protagonista: além das árvores de galhos tortos constantemente cercando tudo e todos, os cenários são sempre sujos, cheios de lixo, pedras, pneus, madeira e outros elementos atirados pra tudo que é canto. Até mesmo as roupas das personagens estão sempre meio rasgadas e sujas, ajudando a criar aquele clima meio selvagem, de viver quase sempre no limite e tal. Completa a balbúrdia uma trilha minimalista, que, tal qual a sorte, surge bem de vez em quando, além de muitas vezes se originar do próprio filme.

O elenco homogêneo atua com a qualidade e entrosamento do time do Barcelona, evitando cair em interpretações caricaturais que poderiam comprometer a seriedade da coisa. Mas seria crime federal passar por este tópico sem citar a atuação sensível de Jennifer Lawrence: mantendo uma postura serene e um tom de voz controlado, ela se integra com perfeição àquele mundo, reforçando a imagem de Ree como uma garota criada em um ambiente hostil e que o aceita como seu habitat natural. Por isso os poucos e pequenos sorrisos são tão cativantes, acendendo uma esperança de que a garota não tenha se tornado tão fria quanto um escritório de advocacia. E por isso as poucas cenas onde ela se entrega às emoções, mesmo que não tenham exatamente uma explosão dramática, passam o coração do espectador por um moedor de carnes.

Assim, Inverno da Alma é uma longa, dolorosa e solitária caminhada, mas uma que nos apresenta a uma personagem inesquecível. É impossível sair do cinema sem a sensação de ter sido atingido por um caminhão carregando uma bomba atômica que explodiu com o impacto. Entretanto, ao invés de simplesmente ficar jogando sofrimento atrás de sofrimento na tela, como fazem o filme Biutiful do Iñarritu e a defesa do Grêmio, a película se propõe a contar uma história assaz emocionante. Uma história de força, luta e sobrevivência.

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