Hoje eu fui até o Iguatemi pra assistir a O Discurso do Rei (mais tarde posto a crítica em algum lugar). Ah sim, abro aqui um parênteses pra dizer que, apesar de ótimo filme, a indicação dessa película pra nada menos que doze Oscars é é uma metáfora sobre como a humanidade está tomando o caminho errado, e fecha parênteses. Enfim, Iguatemi. Matando tempo antes do cinema, dei uma circulada pelo shopping. E me ocorreu que não apenas eu sou indiferente à maioria das lojas do recinto, mas também que as ligeiramente atraentes me intimidam. Elas são bonitas demais, organizadas demais. Repletas de protocolos a serem seguidos, o que enterra aquela ideia de que toda ação provoca uma reação, pois nessas lojas cada ação provoca o início de uma das regras do manual dos vendedores.
Sei que criticar a artificialidade de um shopping center é tão pertinente quanto dar bóias a um peixe ou chuteiras a um Robinho. Mas o ponto aqui não é o consumismo, e sim a feiúra decorrente desses protocolos e arquiteturas e paisagismos e etcéteras. Tudo tão milimetricamente calculado que não faz efeito. Tudo tão impunemente branco que chega a ser risível. É como uma daquelas gurias que realmente é bonita, só que daí chega na formatura e ela tenta traduzir o photoshop pra vida real, tomando um porre de maquiagem e cortes de cabelo na tentativa de ficar perfeita, quando tudo que consegue é uma passagem de trem para a estação "eu achava que ela era gata, mas olhando bem agora...". Uma feiúra tão ridícula, tão desgraçadamente óbvia que eu fico parado ali na frente, pensando se devo entrar na loja e me submeter a um determinado número de procedimentos que teoricamente me levariam até a compra, mas só me afastam dela. Vejam bem, o problema não é a artificialidade do ambiente; o problema é ver tudo tão metodicamente arrumado para gerar determinado tipo de reação, tentando vender o status de vitória, quando tudo aquilo na verdade representa apenas pessoas sem imaginação se comunicando com outras pessoas sem imaginação. A chatice em nível Defcon 1.
Lição de casa a todos: desenhar por cima das linhas. |