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Falha de Titãs
André - 23 maio 2010 - 20:08
Fúria de Titãs (Clash of the Titans)
1/5

Direção: Louis Leterrier
Roteiro: Travis Beacham, Phil Hay e Matt Manfredi (refilmagem do clássico de 1981)

Elenco
Sam Worthington (Perseu)
Liam Neeson (Zeus)
Pessoas que morrem

Cansada do mal-trato dos deuses, a humanidade resolve retrucar e declara guerra contra eles. Cansados da insolência dos humanos, que declararam guerra contra os deuses, Zeus e sua PATOTINHA resolvem tocar o terror nos homo sapiens - pra isso, botam toda sua confiança em Hades, um sujeito traído, que mora no inferno e que veste preto, ou seja, do mal, e a coisa degringola. Basicamente, é uma comédia romântica épica onde os humanos são a mulher e os deuses são o homem.

Quando o DISTINTIVO da Warner sumiu da tela, pensei "o filme vai começar com uma narração em off", o que de fato aconteceu (a propósito, os números da próxima loteria são 4-8-15-16-23-42). É de praxe que blockbusters épicos comecem assim (A Sociedade do Anel, por exemplo) ou com alguma personagem explicando a história antes de um flashback descomunal (Alexandre, por exemplo). Dessa forma, o espectador já fica a par da FOFOCAIADA e o filme pode desenvolver apenas a parte que mais lhe apraz. O problema é que Fúria de Titãs faz isso como se não houvesse amanhã.

"Larguei essa porra de mão. Vou tentar vaga na produção de 'O Hobbit'" (Perseu, após assistir ao filme)

Tipo, tem o Perseu, o protagonista. E o que sabemos dele? Que a família dele foi assassinada por um deus, que ele é um semideus, que ele precisa ficar com a outra semideusa da história no final, e que ele aos poucos se torna o líder da expedição de soldados. Isso não é exatamente um rompante de originalidade, certo? Pois Fúria de Titãs acha que a familiaridade do espectador com essa abordagem é o suficiente, que apenas atirar uma situação X no lugar onde a situação X deveria estar é bacana, e joga no fundo do poço aquela ideia subestimada de que FILMES PRECISAM DESENVOLVER A PORRA DA HISTÓRIA! Assim, quando um dos estereótipos chega pro Perseu e diz "você nos trouxe até aqui," o espectador só consegue pensar "mas tudo que o Perseu fez até agora foi matar um ESCORPIÃO VITAMINADO"; quando Perseu chora oceanos pela morte de uma personagem feminina, o espectador só consegue pensar "quem é essa mesmo?"; e assim sucessivamente. Basicamente, é transferir a seleção brasileira para o cinema: tem uma dúzia de volantes que mal sabem que a bola pode rolar, e mesmo assim o técnico/diretor espera que ela chegue nos atacantes.

Claro, nada disso devia fazer diferença, pois nesse caso a história é apenas uma terra fértil onde foram plantadas sementes de cenas devastadoras de ação, ou pelo menos assim a galera espera. Infelizmente, nesse quesito o filme também deu com os burros alados na água. As cenas de ação são extremamente comuns, a câmera chacoalha alucinadamente (eu te amaldiçôo, Riddley Scott!), as coreografias são MURRINHAS, a Medusa parece ter sido produzida para um jogo de Playstation 2 e nem mesmo o Kraken, um Godzilla com tentáculos, soa ameaçador o suficiente. Já o design de som investe no bom e velho ALTO PRA CARALHO, enquanto a direção de arte consegue ser um pouco mais criativa (a aparência do barco do Caronte, cheia de pontas irregulares, é assustadora e imponente; o covil da Medusa é repleto de escudos e lanças no chão, além de passarelas semidestruídas, ilustrando o grande número de batalhas que ocorreram por lá; a montanha das bruxas é escura e toda deformada, e assim por diante). E a trilha sonora até tenta ser heróica por alguns instantes, mas sucumbe ao velho ditado "não se pode tirar leite de pedra".

Como Perseu, o competente Sam Worthington (de Exterminador do Futuro: A Salvação e Avatar) não pode fazer nada além de cara de mau e carregar uma espada pra cima e pra baixo, enquanto solta gritos aqui e ali pra parecer alguém cheio de dor e angústia e, por consequência, complexo. O resto do elenco simplesmente está ali, uns para morrerem, outros para morrerem de forma mais heróica, e outros pra morrerem quando o Kraken ataca a cidade.

Fúria de Titãs é o tipo de filme que mostra um grupo de pessoas caminhando por uma gigantesca planície desértica, depois corta para uma outra cena e, ao voltar para estas pessoas, elas estão em uma floresta, como se tivessem percorrido um continente a pé em questão de horas. É o tipo de filme que olha para o espectador e diz "ei, vamos mandar um e-mail para ele com uma conta falsa a pagar, fazer o pagamento cair direto pra nós e enganar o trouxe para ganhar dinheiro". O tipo de filme que faz o público sentir inveja da Medusa quando ela tem a cabeça cortada e não precisa assistir a toda a película.

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