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Da megalomania bem aplicada
André - 20 dezembro 2009 - 21:37
Avatar
5/5

Direção: James Cameron
Roteiro: James Cameron

Elenco
Sam Worthington (Jake Sully)
Zoe Saldana (Neytiri)
Sigourney Weaver (Dra. Grace Augustine)
Michelle Rodriguez (mina gostosa e durona)

No distante planeta Pandora, uma pá de humanos faz de tudo para conseguir botar as mãos em um valiosíssimo metal chamado McGuffin unobtanium. Entretanto, a primitiva espécie local, um bando de primos altos do Noturno dos X-Men chamados Na'vi, não curte muito a idéia e faz um sacode para defender seu lar. No meio da dança, um ex-fuzileiro se inscreve no programa Avatar, onde, através de uma MÁQUINA DE TOMOGRAFIA, ele pode pilotar o corpo de um Na'vi criado especialmente para o seu DNA. E eventualmente, ao se misturar com os nativos, o sujeito acaba se apaixonando por uma mina azul logo quando a guerra está prestes a estourar.

Ao longo dos últimos anos [/redação de vestibular], a indústria cinematográfica, assim como a fonográfica, vem sofrendo com o, digamos, fácil acesso a produtos culturais através da rede mundial de computadores. As pessoas sovinas trocaram a salona de cinema pela comodidade e GRATUIDADE do lar. Tentando reverter a situação, as redes começaram a buscar novas formas de atrair a galera, como o famoso IMAX, as projeções 3D e os combos pipoca + refrigerante que poderiam alimentar um rinoceronte. Mas os resultados ainda eram um pouco tímidos.

Eis que James Cameron aplicou uma grandiosa rasteira nos baixadores de filmes. E depois chutou o saco deles. E depois fez cócegas em seus sovacos. Porque, após quatro anos de desenvolvimento, produção e megalomania, Avatar é uma colossal experiência que PRECISA ser conferida no cinema. Sinceramente, o site oficial da obra poderia colocar o filme inteiro pra download, e provavelmente ninguém se interessaria.

Em termos visuais, nenhuma língua inventou adjetivos suficientes para definir a grandiosidade da coisa. Várias vezes, ao longo da projeção, amaldiçoei a mim mesmo por não ter levado uma máquina fotográfica pra registrar o que se passava na telona. Os óculos 3D ficaram embaçados de tanto que eu chorava. E as pessoas não entenderam quando, ao final, pedi que todos dessem as mãos e, juntos, orássemos em agradecimento. Pois a sensação de profundidade, os detalhes, a estrutura das construções, dos animais, das plantas, tudo é tão crível que é quase inacreditável. Em nenhum momento o espectador duvida que aquele mundo digital realmente exista. Não lembro de nenhum outro filme que tenha atingido um grau de realismo tão grande com o CGI, e isso é até mais impressionante do que o 3D em si. E a riqueza proporcionada pelo planeta Pandora, com seu verde exuberante e sua flora colorida, dá à Cameron a oportunidade de ESTRAÇALHAR visualmente as pessoas, criando sequências que SALTAM AOS OLHOS (trocadilho obrigatório) e AQUECEM CORAÇÕES. Avatar eleva a categoria cinematográfica de "fotografia" um nível totalmente novo. Seja no colorido das florestas, ou no cinza das instalações militares (sempre com holografias surgindo aqui e ali), o filme consegue impressionar em cada quadro.

Mas de nada adiantaria toda essa parafernália se a história fosse fraca (mentira, adiantaria sim, mas ela não é). E embora a tramóia concebida por Cameron resvale nos lugares comuns, o roteiro é bem-escrito e bem executado, o que torna a narrativa extremamente fluída: se por um lado cenas grandiosas deixam o espectador totalmente em chamas, por outro momentos pequenos, como Jake em seu avatar mexendo na terra com os dedos do pé, constroem personagens TRIDIMENSIONAIS (trocadilho obrigatório) e fazem com que o público se identifique com elas. O diretor manja os macetes necessários para manter a bola rolando de forma interessante, e não se permite deslumbrar pelos efeitos especiais (mentira, se permite sim, mas sem esquecer da trama). Afinal, por mais que o filme seja bonito, ele não funcionaria se os protagonistas não cativassem a platéia (mentira, funcionaria sim, mas eles cativam).

Contribui para isso o excelente elenco e a absurda técnica de captura de movimentos - os avatares em CGI não são apenas parecidos com os atores, eles possuem trejeitos que os tornam únicos (James Cameron e os demais envolvidos venderam a alma ao diabo para conseguir tal façanha, fato). Quem ficou impressionado com o Gollum de Senhor dos Anéis e o Davvy Jones de Piratas do Caribe, vai bater a cabeça na parede após ver o que se passa em Avatar. Com atores supimpas, então, a coisa fica ainda mais fácil: Sam Worthington exala carisma o tempo todo, além de convencer no papel de líder (e reparem o "tédio" do ator enquanto está na forma humana, comparado à sua intensidade quando Na'vi) e ter uma excelente química com Zoe Saldana (outra que faz misérias, mesmo jamais aparecendo em carne e osso). E como é em torno dos dois que a história se sustenta, essa relação cria uma base sólida para que os outros aspectos possam funcionar. De resto, Sigourney Weaver faz bem a ligação entre Jake e os Na'vi, Stephen Lang cria um vilão assustador e intenso, e Michele Rodriguez exibe gostosice extrema sempre que está em cena.

É necessário ainda citar o design de som, a espetacular trilha, os figurinos, o pão com geléia que era servido entre as filmagens, enfim, praticamente todos os aspectos do filme ganhariam 99 no Winning Eleven. E todo o tempo que Avatar ficou em produção, todo o trabalho, toda a pesquisa, tudo isso convergiu de forma bíblica para apenas um objetivo: criar uma experiência cinematográfica inesquecível.

James Cameron é, de fato, o rei do mundo.

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