Indignado com os
protestos pela liberação do bronzeamento artificial, o sol manda umas partículas estranhas pra Terra. Isso faz com que o núcleo da nossa bolinha azul fique descontroladamente bêbado (aliás, a culpa é sempre do núcleo. Ele é o regime nazista dos filmes-catástrofe. Mas divago) e comece a atirar placas tectônicas pra todo lado à revelia. Enquanto isso, acompanhamos uma família tentando fugir da catástrofe e, no processo, curar suas próprias feridas (essa frase ficou profunda. Muito mais do que o drama familiar no filme, podem acreditar).
Nem Bin Laden, nem Carlos Chacal, nem Celso Roth: o terrorista mais procurado pelo FBI devia ser Roland Emmerich. Após dar um chute nas bolas da Terra em Independence Day e derrubá-la no chão em O Dia Depois de Amanhã, o diretor agora veio pra finalizar o planeta com este 2012. A escala de destruição gigantesca faz com que os ataques às torres gêmeas pareçam uma partida de gamão. É uma sucessão vertiginosa de CGI e maquetes sendo esmagadas - e o fato de ser uma série de "catástrofes naturais" permite que a galera utilize terremotos, vulcões, tsunamis, etc. É como uma criança cheia de açucar no sangue tendo uma cidade de miniatura pra brincar.
Entretanto, o manual do roteiro Hollywoodiano diz que tem que haver drama, e emoção. Aí da-lhe a enfiar cenas de pessoas se despedindo, chorando, câmera lenta, tudo isso sem nenhum carisma. São tentativas completamente apelativas de fazer o espectador se importar com alguém, quando, na verdade, todos os núcleos dramáticos possuem a força de uma Itaipú. Só o John Cusack consegue se salvar, com seu excelente timing cômico e sua espantosa capacidade de tornar um protagonista absurdo em uma pessoa crível. O resto é recauchutagem de outras películas onde os efeitos eram mais importante do que as personagens. Temos, por exemplo, a criança que chama o pai/mãe pelo nome (sério, vocês já conheceram alguém assim?), a criança que possui uma certa obsessão com algo irrelevante ("vamos dar uma tara por chapéus à uma das protagonistas, isso deve torná-la mais HUMANA"), o idealista que faz o discurso emocionado no final (no caso, um doutor provavelmente formado em CIÊNCIAS DISNEYCAS), o político malvado e gordo (jamais subestime o poder de ameaça de bochechas), e por aí vai. No meio de ondas gigantes, não há espaço para profundidade.
E por falar em ondas, é impressionante não apenas a qualidade dos efeitos especiais, mas também a capacidade que Roland Emmerich tem de destruir tudo sem pudor nenhum. Desde a sequência do trailer fugindo do vulcão, até uma arca de noé eletrônica batendo no Everest, passando pelos aviões atravessando nuvens de cinzas, tudo é colocado em uma escala gigantesca, sem com isso soar falso. A primeira das grandes sequências, onde John Cusack dirige alucinado uma limousine enquanto a cidade PEDE PRA SAIR e vai se destruindo sem sentido nenhum, é digna de receber um mosaico em um estádio de futebol. Tensa, frenética, liga todos os atributos AVENTURESCOS no nível 99, chegando perigosamente perto de fazer a própria tela de projeção e o cinema onde o filme está passando beijarem o solo.
O único porém com relação às cenas de ação é que a partir da metade elas deixam de impressionar tanto e tornam-se até relativamente burocráticas. Devia existir uma linha de grandiosidade, passando das rachaduras no chão até a destruição absoluta, para que o espectador ficasse sempre apreensivo com relação ao que está por vir. Digo, não existe muita coisa que vai arregalar os olhos de alguém que acabou de ver a cidade de Washington levar uma VACA de uma onda gigante. Ainda assim, esse fetiche pela tragédia que todos temos torna a experiência assaz divertida, principalmente quando conferida na telona (imagino que, no dvd, o filme deva passar de 2012 pra apenas 12).
Ah, e uma dica: prepare-se para sair rápido da sala. Com tanta água indo e voltando ao longo do filme, é inevitável a vontade de tirar água do joelho. E as filas do banheiro acabam sendo maiores do que as ondas de 1.500 metros que aterrorizavam a humanidade até alguns minutos antes.