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Eu quero um chapéu!
André - 22 maio 2008 - 02:17
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal
5/5

Direção: Steven Spielberg
Roteiro: David Koeppe

Elenco
Harrison Ford (Henry Jones Jr.)
Shia LaBeouf (Mutt)
Cate Blanchett (Irina Spalko)
John Hurt (Professor Oxley)

Indiana Jones corre atrás de um tesouro enquanto desfila tiradas engraçadas, seduz moçoilas, sobrevive a situações impossíveis e arrecada milhões de bilheteria mundo afora.

Um dia antes da estréia do filme, achei curioso a inexistência de uma campanha de marketing mais agressiva. Só então me dei conta: não precisava de uma. Dezenove anos de espera por um filme já criam expectativa suficiente.

E que filme. Spielberg e Lucas colocaram Indy no final dos anos 50, no meio da paranóia comunista, fazendo assim com que o arqueólogo seja prejudicado pelo seu próprio governo. O resultado é interessante, e não modifica muito a estrutura da série, que ainda mantém a aventura absoluta em primeiro plano - tanto é que com poucos minutos de projeção a correria já começa, enquanto Henry Jones Jr. toca o terror nos russos (sim, aqui os nazistas foram substituidos pelos inimigos da Guerra Fria).

Sem delongas, o filme já reune Indy e Mutt (bem interpretado pelo carismático Shia LaBeouf, que consegue passar intensidade quando necessário e tem um bom timing cômico), trazendo à película aquele "conflito" entre juventude e experiência, que provavelmente seria feito com o pai do protagonista se Sean Connery não tivesse recusado o papel (o que tornou necessária algumas mudanças emergenciais no roteiro). O importante é que a química entre os dois funciona, criando ali um núcleo familiar que dá força à atmosfera despojada e engraçada da produção, seja nos momentos tranquilos ou nas cenas de ação.

Aliás, é aí que Spielberg mostra o domínio impressionante que possui das câmeras: mantendo a ação sempre em foco, o diretor trabalha com planos mais longos, criando sequências de aventura que fazem Matrix parecer uma apresentação de dança infantil (não há como assistir à perseguição de jipes sem erguer os braços em comemoração). São uma demonstração incrível de coreografia, sincronia e enquadramento, atingindo um nível desumano de adrenalina. Da mesma forma, até as cenas onde nada explode e ninguem briga são desenvolvidas com estilo: o primeiro plano onde o Dr. Jones aparece, mostrando a silhueta dele pegando e vestindo o famoso chapéu, é de uma elegância digna no título de sir, e pode muito bem servir como assinatura de toda a série.

Claro, nada estaria completo sem o mal-humor cativante de Harrison Ford. Recriando com perfeição todos os trejeitos do arqueólogo (principalmente o franzir de sombrancelhas ao proferir, irritado, alguma tirada cômica), ele nos faz voltar no tempo e lembrar do herói da trilogia inicial - o que faz a diferença, pois já conhecemos aquela personagem. Indiana Jones faz parte do imaginário de quem assistiu aos primeiros filmes, e a interpretação de Ford traz à tona aquelas características que nos fizeram gostar tanto do sujeito. Rever nosso "velho amigo" na telona já é emocionante o suficiente para que o ator mereça todos os prêmios do gênero.

Mas nem tudo são flores, e determinadas passagens (e escolhas do roteiro) acabam incomodando bastante. O McGuffin que move a trama destoa bastante dos anteriores, mesmo fazendo certo sentido quando consideramos a década na qual a película ocorre. Uma sequência envolvendo cipós e outra envolvendo índios são completamente desnecessárias, e soam forçadas. As formigas gigantes convencem menos do que o Celso Roth. O professor interpretado por John Hurt não faz sentido nenhum, e expõe buracos grandes na história (por quê ele voltou? Como ele sabia qual era a chave se não havia conseguido da primeira vez?). A cena final, embora divertida, poderia ser eliminada sem problemas, o que facilitaria até em uma possível continuação (malditos "finais felizes"). Tudo isso, somado, acaba minando um pouco da empolgação que o filme se esforça tanto para construir.

Entretanto, o simples fato de fazer o espectador ouvir no cinema a [adjetivo a ser inventado] trilha composta por John Williams é o suficiente para dizer que valeu muito a pena. E a espera.

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