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Só no hipnotismo
André - 08 maio 2013 - 21:20
Em Transe (Trance)
4/5

Direção: Danny Boyle
Roteiro: Joe Ahearne e John Hodge

Elenco
James McAvoy (Simon)
Rosario Dawson (Elizabeth)
Vincent Cassel (Franck)

Após cometer o vil e desprezível ato de roubar uma obra de arte, que só não é vil e desprezível quando é feito na internet, Simon sofre um daqueles ataques de "sujeito batendo na minha cabeça com uma arma" e esquece onde botou a dita-cuja. Mas os caras que pagarem ele pra roubarem a obra de arte (uma pintura, no caso) realmente querem saber onde ela está porque, sabe, eles pagaram pelo trabalho. Então levam Simon até uma moça que faz hipnose (uma hipnótica?), o que acaba desencadeando diversas sequências de de mistério, repletas de planos simbólicos e reviravoltas de reviravoltas de reviravoltas.

Em Transe possui uma trama entrecortada, que por vezes se passa na cabeça do protagonista, alterna espaços de tempo diferentes e outras coisas não-lineares. Pauta ideal para Danny Boyle, que curte uma narrativa mais rápida, frenética, uma narrativa com DDA algum desavisado poderia imaginar - entretanto, aqui ela funciona de forma inspirada, e Boyle conduz a película com um ritmo campeão. Ao menos até o final, quando é dada uma descarga em qualquer resquício de bom senso e a tentativa de surpreender o espectador de qualquer jeito pula para a lista de prioridades.

Vincent Cassel olhando para o roteiro do filme.

Mas vamos por partes, como diria um filme sendo transmitido na TV aberta. Aproveitando que temáticas envolvendo a mente abrem espaço para momentos onde a realidade não necessariamente é a realidade (embora normalmente seja), Danny Boyle investe em diversos recursos que criam uma atmosfera ligeiramente surreal, ainda que simultaneamente palpável (principalmente graças à fotografia escura, que sempre corre pra qualquer lugar onde tenha bastante preto): planos quadro-a-quadro (como stop-motion), camêra lenta, imagens desfocadas, transições fluidas (como a que vai do porão do bar para a casa de Simon), enquadramentos tortos e por aí vai. Além disso, os tradicionais planos curtos e a montagem ágil, que são tipo o RG do diretor, também dão uma mão nesse lance de surreal e etéreo e tudo isso mais que foi citado no parágrafo, pois se afastam diretamente de uma abordagem "realista".

Só que Danny Boyle, claramente envergonhado por ter vencido o Oscar por Quem Quer Ser um Milionário?, vai além e investe em simbolismos que fazem rimas entre temas e elementos da trama de forma puramente vitoriosa - por exemplo, o constante excesso de luz vermelha remetendo ao sangue do que Simon fez, a cena do futebol repetida, as luzes flutuantes em diversos lugares. É um trabalho cuidadoso, que vai se tornando mais visível conforme a história vai evoluindo, conforme a cabeça de Simon fica mais completamente tresloucada e perigosa e desprovida de sentido. O diretor ainda AGATHACHRISTEIA tudo ao deixar a câmera com frequência atrás de vidros, realçando a ideia de que nada é o que parece, e cria algumas sequências marcantes (quando Elizabeth toca uma gravação, por exemplo, que o áudio é calmo e os personagens estão intensos, ou a inspirada transição da trilha para a música no carro).

Infelizmente o roteiro, apesar de manter as coisas interessantes e brincar um pouquinho com aquela coisa chamada psicologia e tal, se acha muito espertalhão e acaba dando com os burros nas soluções comuns e desprovidas de qualquer resquício de inspiração: não só o filme começa com a tradicional e explicativa narração em off (há uma verdadeira epidemia de narrações em off no início de filmes, e ela precisa ser contida antes que alguma novela da Globo adote o recurso e o estrague para sempre), como não tem vergonha nenhuma na cara ao apelar para o momento onde a única personagem que sabe toda a história narra a balbúrdia do início ao fim, explicando cada ponto, se bobar até com alguma maldita nota de rodapé em alguns momentos (também conhecido como "Efeito Vanilla Sky") e, na tentativa de criar um final surpreendente, impactante, contrata um assassino profissional para dar cabo do bom senso - digo isso porque o desfecho torna tudo tão aleatório que a pessoa que realmente acreditar naquele planejamento é tipo a reencarnação da suspensão da descrença.

Mas ainda bem que a trilha atinge os pontos certos, sendo as vezes envolvente e as vezes mesclando-se com a ação em quadro (como o momento em que ela emula batidas de coração). Direção de arte e figurino também erguem as mãos em um high-five de sucesso (reparem como o figurino de Elizabeth sempre é monocromático e profissional), assim como o elenco: James McAvoy é carismático o suficiente para carregar o filme e, quando a cobra fuma, talentoso o suficiente para nos fazer acreditar que Simon realmente faz aquelas coisas; Rosario Dawson mantém movimentos contidos para dar a Elizabeth um ar sempre profissional, algo indispensável para levarmos a personagem a sério (e considerem que ela é uma hipnotizadora); e Vincent Cassel consegue ser ameaçador como Franck, ao mesmo tempo em que suas reações e entonações denotam a inteligência e até mesmo vulnerabilidade (até certo ponto) do sujeito.

Apesar de tudo, na maior parte do tempo Em Transe é envolvente e repleto de atrativos - com exceção de um ou outro tropeço que ele desce como cerveja no verão. Um belo esforço de Danny Boyle, que aqui utiliza seu talento e linguagem características (também conhecidos como TIQUES) a favor da história, e não o contrário. Pena que não gritou "corta" alguns segundos antes, evitando assim o desfecho embaraçoso, mas tudo bem, acontece. Não chega a hipnotizar a audiência, mas definitivamente prende a atenção.
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