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Sanguinolência desenfreada e nerds vão salvar Hollywood
André - 27 junho 2010 - 17:34
Kick-Ass - Quebrando Tudo (Kick-Ass)
5/5

Direção: Matthew Vaughn
Roteiro: Jane Goldman e Matthew Vaughn, baseados na graphic novel de Mark Millar e John Romita Jr.

Elenco
Aaron Johnson (Dave Lizeski/Kick-Ass)
Lindsy Fonseca (katie Deauxma)
Chloë Grace Moretz (Hit-Girl)
Nicolas Cage (Big Daddy)

Dave Lizewski é um nerd comum, que gosta de quadrinhos, pornografia online e é apaixonado pela mina mais gata do colégio. Daí ele tem um rompante de WATCHMEN, põe um uniforme massa e resolve virar um super-herói de verdade, mas a cobra acaba fumando pro lado dele quando uma máfia da pesada resolve tocar o terror pra cima do guri. E pra não bater as botas, o quase-super-herói conta com a ajuda de vigilantes com mais experiência no ramo e sequências de ação obliterantes.

Kick Ass é diversão absoluta do início até o final. Um barril de cerveja cinematográfico. Um filme que consegue misturar com extrema competência os absurdos do mundo dos quadrinhos com os absurdos da vida real e ainda ser coerente, cativante e original. Uma experiência tão intensa que, ao sair do cinema, o público provavelmente vai correr até uma loja de brinquedos e comprar uma fantasia do Batman para sair na rua desafiando trombadinhas.

Girls just wanna have fun.

A trama em si não oferece muitos atrativos, e até mesmo se perde quando busca uma abordagem dramática e pesada para as motivações de Big Daddy. Mas no que diz respeito às personagens e à forma como a história se desenvolve, há pouco a fazer além de aplaudir de pé: mesmo em um universo claramente absurdo, Dave é um protagonista extremamente crível, e a preocupação do roteiro em expor pequenos detalhes de seu comportamento (que à primeira vista pareceriam irrelevantes) contribui com isso. Da mesma forma, seus companheiros de tela conseguem se diferenciar sem soar estereotipados, construindo uma galeria de personagens insanas e divertidas e com suas particularidades (inclusive nas coreografias de luta: enquanto a do Kick-Ass é meio "atrapalhada", a da Hit-Girl é bonita e divertida e a do Big Daddy é direta e funcional). Assim, mesmo que o plot não seja lá um poço sem fundo de criatividade, o espectador fica roendo as unhas pra saber o que vai acontecer com aquelas pessoas que ele recém conheceu. E até mesmo as brincadeiras com certas convenções quadrinhísticas e cinematográficas (como uma narração em off falando sobre morte) são colocadas de forma orgânica na película, sem comprometer as cenas (abraço, Shrek).

Aos bons diálogos e encadeamento de acontecimentos do roteiro soma-se um apuro visual ÀS GANHAS, que auxilia a conferir ao filme uma dinâmica digna da seleção holandesa de 74. Apropriando-se do mundo dos quadrinhos sem medo de ser feliz, o diretor traduz para a tela elementos daquele universo, mas o faz de forma VITORIOSA - e apenas a sensacional "animação graphic novel" que mostra um evento importante já justifica todo o TITITI em torno do filme. Que possui sequências de ação absolutamente devastadoras, coreografadas visando apenas a destruição total de inimigos (e clichês) e espalhando sangue pelos cantos como se não houvesse amanhã (e se você não aguenta violência gráfica, vá assistir a um filme de maricas, tipo Comando Para Matar) - destaque para um momento onde Hit-Girl toca o terror na bandidagem emulando DOOM e uma cena em uma pequena biblioteca. Tomado de assalto por transições inspiradas, Kick-Ass ainda possui na bagagem uma direção de arte que tem sucesso extremo ao traduzir aspectos visuais dos quadrinhos para o cinema (aliás, reparem como a casa de Dave é parecida com a vizinhança de Peter Parker em Homem-Aranha, ou como os uniformes conseguem ao mesmo tempo tirar sarro dos uniformes dos heróis e parecer eficientes).

Já o elenco está mais unido e comprometido do que a seleção do Dunga: como Dave, Aaron Johnson transmite carisma alucinado, e é fácil torcer por ele; Lindsy Fonseca é tão linda que fatalmente Deus a colocou no seu portfólio; e Nicolas Cage constrói um Big Daddy ao mesmo tempo "abobado" e letal, que o espectador consegue ao mesmo tempo respeitar e aceitar como piada. Entretanto, a dona desse filme é Chloë Grace Moretz, que torna assaz plausível toda a inocência e força destrutiva da Hit-Girl, conferinado às cenas de ação da personagem um caráter ao mesmo tempo cômico e assustador, sem deixar de lado a MEIGUICE de seu relacionamento com Big Daddy.

E qualquer filme que coloque uma pirralha de peruca rosa espancando marmanjos e faça o espectador, sem nem hesitar, aceitar isso como natural àquele universo, sem dúvida nenhuma merece a aprovação de toda e qualquer comunidade cinematográfica.

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