Watchmen5/5
Direção: o visionário [/campanha de marketing] Zack Snyder
Roteiro: David Hayter e Alex Tse, baseados na genialidade absoluta de Alan Moore.
ElencoJackie Earle Haley (Rorschach)
Jeffrey Dean Morgan (Comediante)
Patrick Wilson (Coruja)
Malin Akerman (Espectral)
Billy Crudup + Photoshop intenso (Dr. Manhattan)
Mordi a
língua afu. Aparentemente, o diretor Zack Snyder deixou todas as suas chocarrices na aventura homoeróticavideogamística 300, tomando um porre de sobriedade antes de dirigir
Watchmen. E eu, que tinha apostado num fracasso maior do que a França na Copa de 2002, saí do cinema alucinado com o filme que acabara de assistir.
Watchmen é uma complexa e intrincada maxisérie de doze edições. Então, o simples fato dos roteiristas conseguirem transportar boa parte da história com fidelidade de conceitos e visual para um filme de menos de noventa horas é algo elogiável. É impressionante ver aquele mundo dos quadrinhos transferido para a telona, e não apenas reproduzido. Mesmo que as HQs tenham servido de referência para que o diretor construísse os planos, estes foram pensados enquanto cinema, agregando aos enquadramentos da
graphic novel movimento e som de forma natural. O resultado é uma atmosfera absolutamente crível, condizente com o tom pessimista (a guerra nuclear é quase uma personagem, pode-se dizer) da história. Melhor ainda, a ação foi colocada em segundo plano, tornando-se um coadjuvante necessário em uma trama que tem, como tema principal, algumas pessoas completamente transtornadas e divertidas e inteligentes e apaixonadas e colossalmente interessantes.
Tudo isso graças a um excelente roteiro. Mais focado nos seus protagonistas do que brasileiro em bunda, o
script abrange não apenas a trama de
Watchmen, mas as relações entre suas personagens. Utilizando os flashbacks de forma inteligente, o filme dá ao espectador informações importantes para entendermos cada um deles (Rorschach e o sequestro; o Coruja e seu uniforme; Dr. Manhattan e seu primeiro amor; etc.). De forma fluída, com idas e vindas, a película constrói cada um daqueles heróis, supers ou não. Eles vivem seus dramas e conflitos bem ali na nossa frente. Eles existem. E a decisão de sutentar o filme com isso é a decisão mais acertada que Snyder tomou em sua carreira, quiçá em sua vida.
Mas, claro, nem tudo é Libertadores: embora o Dr. Manhattan criado por uns e zeros seja bastante real na maior parte do tempo (e a decisão de manter o personagem grandiosamente azul, buscando a referência cultural do maior clube do mundo, é outro ponto positivo para o filme), em alguns momentos dá vontade de pegar o controle e jogar o Play 3 à nossa frente. São bem raros, é verdade, mas estão lá; o fetiche sexual de Zack Snyder pelas câmeras lentas
atrapalha joga no fundo do poço praticamente todas as cenas de ação (pelo menos são poucas), além de destoar bastante da "realidade" construída pela película; o terceiro ato é um tanto corrido e perde um pouco de grandeza na explicação; Rorschach não fala "brincadeira, né?" em determinado momento, frase genial e que definia ele nos quadrinhos; a trilha sonora tem altos e baixos a dar com pau.
São coisa que incomodam, mas não tiram o brilho de adaptar uma história difícil sendo constantemente
bombardeado e
amaldiçoado até a última geração pelo autor dela. Mas dessa vez há pouco do que reclamar.
Watchmen, o filme (e apenas uma benção do destino impediu que essa última expressão fosse usada como subtítulo, creio), faz jus à HQ e à fama que possui. Se Alan Moore assisitir à película, vai morder a língua, assim como eu. A diferença é que ele provavelmente vai usar a língua cortada em alguma maldição contra Hollywood.