Uma inevitável ida ao dentista essa última semana me lembrou de alguns aspectos. Pequenos eventos que, quando somados, constroem aquela fascinante atmosfera, parecida com um mascarado e sua serra elétrica perseguindo adolescentes em um filme de terror:
- O ventinho. Todo mundo odeia as brocas e pinças, mas isso já é esperado quando se vai ao dentista. Agora, aquele ventinho quieto ali no canto, quando se empolga, dá um choque nos dentes e um frio na espinha que dura horas;
- O fato do dentista puxar conversa enquanto ta com uma broca alojada na tua boca. A lógica é mais ou menos o seguinte: tu tá com uma broca na boca, certo? E tem um cara tentando conversar contigo ao mesmo tempo, certo? E apenas o fato de tentar dialogar enquanto seu interlocutor está com a LARINGE exposta mostra que o sujeito não bate muito bem da cabeça, certo? Pois é esse sujeito que não bate muito bem da cabeça que tá controlando o objeto giratório e cortante dentro da tua boca;
- A anestesia. Começa que a expressão implica na existência de uma seringa, o que já não é nada louvável. Aí quando a agulha dessa seringa tem dois centímetros e meio de tamanho e IRROMPE (sim, a palavra é IRROMPE) inteira na tua bochecha, o desembarque na Normandia parece uma partida de Banco Imobiliário. E quando o dentista finalmente PRONUNCIA que "essa anestesia é ruim, a agulha tem que entrar inteira na bochecha e ela não funciona 100%", tua cabeça já começa a inventar palavrões - como "filho de um CUZARALHUTASEFODER". Então, o cara solta "ok, já deve estar anestesiado... se doer tu grita, certo?";
- O medo de morrer envenenado. É tanta substancia e algodão e metal e etc que tu simplesmente fica com medo de engolir saliva para evitar uma possível morte por ENVENENAMENTO DENTAL dez minutos após deixar o consultório.
- A indescritivelmente repulsiva sensação de sofrer por tanto tempo e, ao final, desembolsar uma grana para pagar o cara. |