Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire) 2/5
Direção: Danny Boyle Roteiro: Simon Beaufoy, baseado no livro de Vikas Swarup
Elenco Dev Patel (Jamal) Resto (personagens ainda mais irritantes do que o protagonista)
Jamal é um garoto indiano que está prestes a vencer o programa "Quem Quer ser o Cover de Show do Milhão?", onde cada resposta certa dá a ele uma quantia considerável de VERDINHAS (eu nunca ganhei sequer um centavo por responder as coisas certas no colégio. Mas divago). Só que daí o apresentador manda a polícia prender e torturar o pirralho pra ver se ele está trapaceando e, pior, torturar o espectador com uma série de flashbacks murrinhas e novelescos.
Em seu filme anterior, Caiu do Céu, o diretor Danny Boyle conseguiu narrar uma bonita e singela história sobre imaginação e outros sentimentos edificantes. Quem Quer Ser... , imagino eu, devia ser um Caiu do Céu ainda maior e mais intenso - entretanto, na ânsia de fazer algo notável, o diretor se perdeu nas curvas do destino e acabou DANDO COM OS BURROS N'ÁGUA.
Pra começo de conversa, o filme tem um caráter completamente episódico: a cada pergunta que o apresentador faz, Jamal se lembra do evento que o levou a saber a resposta. O esquema torna-se previsível lá pelos dez minutos de filme (não fica antes porque há uma perseguição CIDADE DE DEUS COVER na favela indiana), e a partir daí todo e qualquer suspense morre abraçado com o Juventude na série C. Toda vez que a narrativa volta para o "presente", não há como evitar a sensação de que o FAUSTÃO vai aparecer dizendo que a película retorna depois dos RECLAMES DO PLIM-PLIM.
E como estamos falando aqui de uma história inspiradora, que precisa tocar o coração das pessoas, apenas colocar um pobretão na crista da onda pra ganhar uma bolada não é o suficiente. Não, a coisa vai mais além. O diretor simplesmente odeia o protagonista, e joga pra ele toda sorte de acontecimentos devastadores. Além de viver na miséria absoluta, o pequeno Jamal tem que aprender a mendigar com um sujeito que cega os olhos das crianças, ser torturado, apanhar de policiais, enfrentar um apresentador cínico e, eventualmente, torcer pelo Botafogo. Absolutamente todas as pessoas da história, começando pelo irmão do cara, sacaneiam ele sempre com um sorriso MAQUIAVÉLICO na boca. A vida de Jamal faz o terremoto do Haiti parecer nada mais do que uma coreografia do É O TCHAN.
Como resultado disso, o espectador simplesmente não dá a mínima pra ninguém que aparece em cena. Ora, se as situações que o protagonista enfrenta chegam a ser absurdas de tão exageradas, ninguém vai levá-las a sério - e nisso toda a construção dramática beija o chão e não levanta mais. Claro, o diretor Danny Boyle acredita que está fazendo uma nova Lista de Schindler, e acaba por investir numa fotografia levemente granulada e seca, tentando tornar as tramóias (que caberiam bem se fosse uma fábula) mais reais e torcendo o LÓBULO FRONTAL de quem está assistindo. Em nenhum momento o tom da narrativa fica claro; logo, as cenas mais pesadas não nos chocam, e as cenas mais leves não conseguem criar uma atmosfera de felicidade convincente.
Aliás, é necessário aqui um questionamento ético: cabe um filme de um grande estúdio pegar o sofrimento de um povo como atrativo para contar uma história CHINFRIM e desprovida de quaisquer convicções políticas e/ou sociais? Lembram do termo Cosmética da Fome? Pois parece que Danny Boyle dorme com ele debaixo do travesseiro.
Independente de seus deslizes, Quem Quer Ser... jamais torna-se cansativo ou enfadonho. A edição é ASTUTA, frenética, e mantém a galera presa na narrativa, junto com os enquadramentos menos convencionais e as transições inspiradas. Mas tirando isso, é tudo televisão de domingo à tarde. E o Oscar que o filme recebeu, desbancando o LACRIMEJANTE O Lutador, é daqueles mistérios que a humanidade passará anos tentando desvendar, como o assassinato do Kennedy e o título da Grécia na Euro 2004. Marcadores: Peliculosidade |