Bares, restaurantes e outros recintos culinários mundo afora se aproveitam do fato de que, nessa realidade de temperos e acompanhamentos, há só uma unidade métrica para a quantidade de comida no prato: a porção. E ela está sempre presente. No happy hour, na janta, na entrada, na saída, no "beliscar alguma coisa". O prato principal é o líder, é por ele que praticamos o capitalismo desenfreado, mas o dito-cujo é sempre seguido cegamente por diversas porções - arroz, pão, batata-frita -, que, juntas ou separadas, estão sempre gravitando em torno do prato principal (que provavelmente tem medo de ficar sozinho. É a versão alimentícia de uma tia tomando uísque com Red Bull).
O grande problema, claro, é que ninguém sabe exatamente quanto é uma porção. Não existe uma medida pré-definida. Tal qual a arte e os horários de ônibus em Porto Alegre, a porção é subjetiva. É uma unidade de medida que significa uma coisa para cada pessoa, depende do que essa pessoa acredita, existindo assim em um plano puramente espiritual e desprovido de evidências materiais - basicamente, é uma questão de fé (talvez a porção tenha surgido na repartição do pão na última ceia. Reflitam). O engajamento da sociedade em tal métrica inexistente é tão demente que inventaram até a meia porção, uma metade de algo que não se sabe o que é, cinquenta por cento do infinito, como alguém que dá direções dizendo "ah, claro, sim, isso fica logo ali passando o exato centro geográfico do universo".
A conclusão inevitável é que a porção falha miseravelmente em sua empreitada métrica, servindo apenas como ornamento para as expressões pessoais que vão realmente definir o quanto foi servido ("é bem servido", "vem pouco", "dá pra duas pessoas", "é tipo uma rave pra gordos"). Ainda existem aqueles que tentam encontrar alguma luz nessa escuridão, mas, data a já comentada subjetividade de coisa, acho que podemos aplicar aqui a lógica do copo: se a pessoa acha que uma porção é pouco, é pessimista; se acha que é bastante, é otimista.
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