A experiência de viajar sempre me pareceu algo meio intangível. Talvez Borges tenha conseguido captar ela no descomunal Atlas (o "talvez" é decorativo), mas o escritor argentino não apenas encadeava caracteres, ele os esculpia até formarem pequenos diamantes no formato da Scarlett Johansson, então é meio covardia citar o cara aqui. De qualquer jeito, a impressão que eu tenho é a de que, entre a narração literal das desventuras por terras e cervejas e ressacas desconhecidas e a expressão do impiedoso ataque aéreo de sensações vividas (normalmente descritas por hipérboles que, paradoxalmente, não revelam a exatidão desses sentimentos), algo se perde. Um não é o outro e o outro não é um, e, mesmo quando tentam se fundir, fica claro que pertencem a mundos diferentes. Pode ser que exista um meio aí, alguma forma de abrigar essas duas situações, que conduza ambas em direção ao sucesso, uma técnica literária que Zagallo leria e chamaria de "número 1". Na verdade, é certo que existe - afinal, Borges encontrou ela (mais uma vez, é dever lembrar que os cientistas ainda estudam para descobrir quem surgiu primeiro, Borges ou a escrita) -, mas, para nós que ainda vivemos naquele estado de marretar as teclas do computador na esperança de que formem frases grandiosas, ainda existem diversas pedras disfarçadas de palavras erradas pelo caminho.
Entretanto, a humanidade foi construída e moldada sob um dos aspectos mais edificantes da existência: teimosia. Assim, parto amanhã para encarar Las Vegas, Nova Iorque e Los Angeles nos olhos e dizer "truco!". Espero voltar com muitas fotos e palavras (as fotos ficarão melhores). |