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Onde defendo as temperaturas de um dígito.
André - 27 julho 2013 - 18:07
Porto Alegre entrou em uma semana temática da era glacial, atingindo temperaturas de um dígito cuja sensação térmica é exatamente a de incredulidade sobre o aquecimento global. Isso perturbou profundamente as pessoas, que, do alto de três ou quatro blusões de lã, bradam impropérios contra o frio e o inverno e o vento e a sensação térmica e o governo (mas o governo é em qualquer estação), tornando o inverno basicamente uma versão com cachecóis do Twitter.

Mas há uma peculiaridade no frio, uma que jamais é analisada pelos nazistas da temperatura que exigem sempre um calor com sol ariano: ele desempenha um processo fundamental na formação do nosso ego. De acordo com aquele barbudo safado do Freud (acho que foi o Freud, pelo menos. Foi um desses psicanalistas aí, Freud, Lacan, Felipão, sei lá), esse processo começa quando terraplanamos o Complexo de Édipo, praticando bullying com o ID e reconhecendo e nos adaptando aos comportamentos sociais e à exigência deles.

O inverno é a solidificação absoluta disso tudo. Imaginem uma segunda-feira, seis e meia da manhã, termômetro na rua marcando quatro graus. O despertador toca e, após apertar três vezes o botão "soneca", uma pessoa percebe que é hora de dar início ao dia (se arrumar para o trabalho/aula/escolinha de futebol/etc). Mas é inverno. O frio desestimula e a cama cativa a alma da pessoa em um abraço quente e confortável, e de repente os quatro cobertores se tornam uma barreira intransponível com desenhos divertidos. Então, por um instante, por um abstrato e consternado instante, essa pessoa é possuída pela esperança de que algo aconteça para permitir que ela fique na cama - uma paralisação dos motoristas de ônibus, um blecaute de luz na cidade inteira, o dia do juízo final, qualquer coisa. É uma esperança fantasiosa, infantil, assumindo que o mundo é regido pela nossa vontade, e não pela vontade do destino, esse guri que toca a campainha das casas e sai correndo.

Inevitavelmente a pessoa percebe que o mundo está olhando para ela e dizendo "é, acho que não", que nada mágico vai acontecer para permitir o insólito romance entre cama e acamado, e levanta da cama para peitar o dia. O instinto de permanecer debaixo das cobertas e a fantasia de que a realidade é capaz de abrir uma exceção são suprimidos, resultando em um indivíduo que reconhece a causalidade como lei universal, entende que suas ações terão consequências, sabe pesar essas consequências e aceita seu papel como membro inequívoco da sociedade. Ele (ou ela) deixa a fantasia infantil para trás (talvez tenha uma recaída em algum filme da Pixar, mas acontece) através de um evento que ocorre quase diariamente durante a temporada.

Ou, como bem resumiu um dos maiores filósofos do nosso tempo (o pai do Calvin): frio forma caráter.
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