Há um tempinho, a Sony chegou no Brasil com o seu terno Armani e dentes de ouro e anunciou, para o infortúnio de milhões de, abre aspas, gamers, fecha aspas (porque gamers não é a mesma coisa que jogadores. Gamers é descolado. É maroto. É passível de ser vendido em camisetas e adesivos) que o seu Playstation 4 custaria R$ 3.999 na terra do futebol e da garrafada d'água no Justin Bieber. Claro que a galera chiou e protestos foram organizados e hashtags foram criadas e a Sony, ciente da incapacidade canarinho de resistir ao consumismo por mais que o produto custe uma faculdade, manteve o preço e divulgou uma equação matemática dizendo que infelizmente eles estão de mãos atadas, que a culpa é dos impostos, das estradas, dos custos, que e é isso aí, que estão fazendo o melhor, que são as vítimas e que bola pra frente.
Entretanto, o que à primeira vista parece um movimento onde a Sony baixa as calças do usuário e passa vaselina e toma quinze viagras se mostra na verdade um panfleto que é basicamente um passo a passo de como a vaca vai pro brejo. Pensem a respeito. O valor do videogame é ridículo, e não digo aqui ridículo como um sinônimo estranho/hipérbole de caro, mas sim ridículo no sentido de patético mesmo, quase engraçado (dá até pra imaginar uma fictícia cena de um fictício Corra Que a Polícia Vem Aí onde o saudoso Frank Drebin vai comprar um videogame, descobre que ele custa quatro mil e pergunta "Quatro mil? Mas por que é tão caro?" e o cara responde "Porque tem um 4 no nome ao invés de um 3"). A taxação em cima do produto é claramente e desproporcionalmente exagerada. Os custos de distribuição, graças à ausência de um Velho Oeste tupiniquim que inevitavelmente obrigaria a construção de ferrovias, exibem uma logística intrincada para algo simples, característica bem típica das personagens de comédias pastelão. A cara de pau da Sony em ter a cara de pau de fazer uma explicação bastante questionável enquanto embolsa uma margem morbidamente obesa, claramente não dando a mínima para o que quer que seja, é a cereja nesse bolo de desvirtualização total. A coisa toda é tão absurda que olhos mais desatentos poderiam pensar se tratar de uma sátira.
Mas claro, nada de sátiras, a Sony está tão séria quanto possível e os consumidores também (deve ser o maior número de gente séria quando do anúncio de algo divertido da história). Afinal, estamos falando de mercado, de salários, de status, de poder de aquisição, de justo e injusto, e não dá para encarar todas essas coisas importantíssimas como um jogo - perdão, um game.
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