Ted
4/5
Direção: Seth McFarlane
Roteiro: Seth McFarlane, Alec Sulkin e Wellesley Wild
Elenco
Mark Wahlberg (John Bennett)
Mila Kunis (Lori Collins)
Seth McFarlane (Ted - voz)
John Bennett é um garoto solitário e desprezado pelas crianças da vizinhança. Até que um dia, achando que o mundo é um filme da Disney, ele deseja que Ted, seu ursinho de pelúcia ganhe vida - o que acaba acontecendo. Anos depois, John é um adulto infantil, preguiçoso e sem rumo na vida, mas que pega a Mila Kunis, o que anula todos os outros defeitos, e continua com a parceria de seu amigão Ted para fumar maconha, ver Flash Gordon e disparar tiradas politicamente incorretas.
Aliás, "politicamente incorreto" é uma palavra que define bem Ted (vejam bem, eu escrevi "politicamente incorreto", e não "nojeira + sexo". Achei melhor explicar porque algumas pessoas confundem os dois, né Todo Mundo em Pânico?). É como se o filme começasse 20 anos após um "final feliz" da Disney, elaborando como seria a situação e subvertendo completamente aquele conceito de história fantástica. E o melhor, faz isso com personagens assaz carismáticas, CGI anabolizado e fuzilando tudo com diálogos vitoriosos.
Zé Colmeia completamente obliterado.
Claro, ajuda bastante o fato de Ted ser um ursinho de pelúcia completamente sarcástico, boca suja, tarado e viciado em cultura pop, entre tantas outras características que ele compartilha com adolescentes do mundo todo. Mas desde o início Ted já mostra ter o DNA do humor definitivo, metralhando tiradas épicas já na narração inicial ("se reúnem para bater nos garotos judeus"). Aliás, é um filme que se apoia bastante nos diálogos, fugindo, na maior parte das vezes, daquele humor óbvio (também conhecido como "seria engraçado se a gente colocasse uma senhora de idade mostrando o dedo do meio!"), mas isso de forma alguma diminui o ritmo da película - a troca de frases certeiras e o bom elenco aniquilam qualquer vestígio de verborragia e deixam a produção bem dinâmica. É alguém despejando alguma sacada esperta o tempo todo, sempre pegando o espectador de surpresa. Sabem aquele tipo de comédia que não só faz o cara rir, mas também deixa ele com vontade de SER UM URSINHO DE PELÚCIA QUE ARMAZENA DIÁLOGOS CERTEIROS SOBRE O UNIVERSO? Ted é assim.
A produção, entretanto, não esquece de que o público precisa gostar das personagens para se envolver na história. John e Ted são extremamente infantis, sim, e bastante agressivos, mas a relação entre os dois sempre soa verdadeira. Há uma clara cumplicidade ali, desenvolvida na forma como se chamam, como se tratam, nas piadas internas e por aí vai. Da mesma forma, Lori não é uma versão de cabelo escorrido do Sauron, como costuma acontecer com frequência nessas histórias: ela entende a relação entre o namorado e o ursinho de pelúcia (que frase bizarra, essa) e até se insere nesse dinâmica, só passando a iniciar uma briga quando vê que está realmente sendo colocada de lado. Assim, é um trio cativante, carismático, deixando o espectador sempre ansioso pra saber o que acontecerá com eles.
Infelizmente Hollywood, esse garoto travesso que gosta de capturar passarinhos, exerce uma influência pesada em tudo que se aloja por ali, e o diretor/roteirista Seth McFarlane não conseguiu fugir disso: apesar do humor inteligente em 90% da projeção, o filme eventualmente mergulha na piscina da obviedade, achando que o público é composto apenas por adolescentes bêbados e que só colocar alguém/algo simulando sexo com alguém/algo é engraçado. Além disso, a ausência de um conflito maior, que resultasse em um clímax mais grandioso, claramente forçou a galera a atirar ali no meio uma traminha envolvendo sequestro e tal, que até tem momentos engraçados, mas cuja única função e não fazer sentido nenhum e roubar tempo (tempo que poderia ser usado no desenvolvimento do conflito entre John e Lori, por exemplo, cuja briga também soa um pouco forçada). E não podemos nos esquecer do final tipicamente hollywoodiano, embora tentem disfarçar com uma ou outra tirada boa (não adianta maquiar, dá pra ver claramente que naqueles momentos o filme levantou os braços e se rendeu ao formulismo). É uma pieguice que não combina com o resto.
Trabalhando em uma produção que se concentra bastante em diálogos, Seth McFarlane utiliza uma linguagem bastante simples, deixando que o texto e os atores sejam o grande diferencial (mas merece ser parabenizado por uma sensacional luta que acontece em determinado ponto, coreografada com extrema vitória). E não dá pra deixar de citar o fatal trabalho de CGI, tornando Ted crível em todas as cenas, na interação com os atores, apostando em detalhes tanto nos planos mais abertos como em closes. Em nenhum momento dá pra duvidar que aquele boneco está realmente ali, falando e fumando maconha. Por pouco não levantei da poltrona com uma tocha na mão e acusei todos os envolvidos com o filme de bruxaria.
Contando ainda com ótimas atuações de Mark Wahlberg (sempre com os olhos arregalados e uma expressão perdida, ilustrando o lado infantil do protagonista), Mila Kunis (sempre carismática e humilhando a própria Afrodite) e do próprio Seth McFarlane (na parte da voz, claro), além de um design de som bacana (notem como os efeitos sonoros fazem toda a diferença na hora da briga), Ted é uma produção que consegue ser criativa, original, engraçada e divertida. Poderia ser mais se em alguns momentos não tivesse se acomodado tanto, mas tudo bem, dessa vez passa. Até porque ver um ursinho de pelúcia tirar sarro de um gordinho correndo já é algo que vale o preço do ingresso.
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