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A seleção brasileira das Olimpíadas
André - 16 agosto 2012 - 13:51
É 17 de julho de 1994, um domingo. Em algum momento da tarde, Roberto Baggio, o craque, o melhor do mundo, o cara com o rabo de cavalo esquisito (que George Lucas copiaria anos mais tarde na nova trilogia de Star Wars), recebe a bola um pouco à frente da intermediária, vira e desfere um chute firme contra o gol. A um continente de distância, eu, a inocência de apenas 10 anos latejando no coração, senti meu estômago realizar uma sequência de movimentos que certamente lhe dariam o ouro em alguma competição olímpica de ginástica.

Como vocês com certeza sabem, o chute foi facilmente defendido por Taffarel, que espalmou a redonda para escanteio. Mas, se há algo que não esqueço, é a tensão daquela tarde. O Brasil precisava vencer, seria trágico se não o fizesse. Apesar do barulho da torcida, da televisão, da família em volta gritando, na minha cabeça aqueles foram momentos de puro silêncio, quebrado apenas por algumas notas esparsas de violão, como em um duelo de faroeste. Tensão essa que foi dilacerada por todos aqueles centímetros que separaram a cobrança do Baggio do gol, desencadeando um efeito dominó de gritos, comemorações e voltas de carro pelas ruas com bandeirinha na janela.

De lá pra cá, minha relação com a seleção brasileira de futebol foi se deteriorando até chegar ao ódio extremo e absoluto com aquela seleção ANTICRISTO de 2010, comandada justamente pelo capitão do tetracampeonato, mas que, enquanto técnico, se mostrou um ótimo amante do fracasso. E não sei dizer exatamente o porque disso: talvez seja o peso da velhice. Talvez porque a seleção se tornou pura vitrine, talvez porque a CBF tem passe livre em buffet de MARACUTAIAS, talvez porque os jogadores prefiram ficar pensando em novas comemorações do que se entregar para a equipe brasileira. Talvez por tudo isso junto. Assim, não é apenas uma questão de não torcer pelo Brasil: eu torço CONTRA a seleção brasileira de futebol em 90% das vezes.

Mas aquele sentimento antigo, lá de 94, foi resgatado recentemente. Não pelos mauricinhos do futebol, porta-vozes dos cortes de cabelo ruins, mas sim pelas talentosas, dedicadas e coxudas gurias da equipe de vôlei de quadra. Que fez, contra a Rússia, a partida mais sensacional do ano até aqui (em qualquer esporte). Que explodia de alegria a cada ponto, que ficava nervosa antes dos momentos decisivos, que entrava em quadra disposta a parir um continente para poder vencer. Esse tipo de coisa não se compra. Diversas empresas pararam para ver a já citada partida contra a Rússia. Pessoas se abraçaram ao final. A seleção de vôlei entregou à torcida não uma vitória, mas um sentimento.

Fico lembrando da imprensa brasileira tirando sarro do Beckham, em 2006, dizendo que (após a eliminação da Inglaterra para Portugal, nas quartas-de-final) "Felipão fez Beckham chorar". Ora, não é justamente isso que falta para o futebol brasileiro? Essa entrega sem hesitação, essa paixão absoluta? Essa característica meio indefinível, mas ainda assim tão clara de se perceber? A CBF e seus técnicos e seus jogadores a dispensaram sem pensar duas vezes, preferindo dar mais atenção às transações milionárias, aos amistosos caça-níqueis, ao design das camisetas, aos moicanos e às comemorações ridículas com dedo na boca.

Enquanto isso, a equipe feminina de vôlei se jogou em quadra (literal e metaforicamente), disputando todos os pontos como se fossem o último antes da medalha. Houve decepção no início, sim, mas nunca resignação. O resultado foi um time avassalador, que reunia técnica e paixão como poucos e saía de quadra exaurido, sem nada mais a doar. O futebol pode ser o melhor esporte do mundo, mas, em 2012, o mundo trocou os pés pelas mãos. Pois nem a medalha de ouro é o suficiente para representar tudo que essas moças jovens, saudáveis, altas, baixas e apaixonadas fizeram.
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