Para Roma Com Amor (To Rome With Love) 4/5
Direção: Woody Allen Roteiro: Woody Allen
Elenco Woody Allen (Jerry)
Roberto Benigni (Leopoldo) Judy Davis (Phyllis) Alison Pill (Hayley)
Alec Baldwin (John)
Jesse Eisenberg (Jack)
Alessandra Mastronardi (Milly) Fabio Armiliato (Giancarlo) Penélope Cruz (Anna)
Ellen Page (Monica)
Para Roma Com Amor acompanha diferentes histórias ocorridas na capital italiana: um casal de jovens precisa lidar com a insistência do pai dela em transformar o pai dele em um astro de ópera; um estudante de arquitetura começa a ficar todo DENGOSO quando a amiga de sua namorada chega para visitá-la; um trabalhador comum de classe média de repente se torna muito famoso; e um casal recém chegado em Roma se depara com duas aventuras separadas: ela se perde na cidade e acaba encantada por um ator famoso, ele sem querer faz uma prostituta se passar por sua mulher na hora de conhecer os tios.
Após utilizar Paris para falar sobre nostalgia, Woody Allen viajou até Roma para falar sobre idealização. E, ainda que Para Roma Com Amor aborde o tema de forma bem mais superficial e por vezes óbvia, ele é bastante divertido, bastante engraçado, bastante cativante e bastante Penélope Cruz em vestido curto e apertado para conquistar o espectador.
Oscar de figurino é obrigação.
E Allen já começa bem através do monólogo do guarda de trânsito, que, ao fazer comentários sobre esse grande caixa automático em manutenção que é a vida, acaba amarrando todas as tramas em torno de um conceito geral (elas não necessariamente se cruzam). Além disso, o sujeito já faz uma apresentação do principal tema abordado no filme: ao falar que ele vê a vida se movimentando em uma rotatória de carros, indo pra lá e pra cá, já indica que as personagens que veremos a seguir estão confusas, em um momento de suas vidas onde ainda não têm certeza pra onde vão - algo que é reforçado ao longo da produção, com muitas delas pedindo informações de direção na capital italiana.
A partir daí, Para Roma Com Amor fica passeando pelas histórias, acompanhando a galerinha nas confusões que eles se metem. E é inevitável que algumas sejam mais interessantes do que as outras, mas a história envolvendo Leopoldo é particularmente fracassada, investindo em apenas uma piada repetida dúzias de vezes (a reação chocada do sujeito ao estouro da boiada dos paparazzis), embora Benigni tenha um timing cômico devastador (os trejeitos frenéticos dele são hilários). Allen até ensaia uma crítica à superficialidade e sensacionalismo da mídia, mas, tal qual um mergulhador medroso, não vai muito fundo.
Por outro lado, as outras tramas se beneficiam daqueles roteiros vitoriosos que o roteirista/diretor costuma fazer, apresentando personagens interessantes em situações interessantes e criando beleza através de diálogos épicos ("a situação faz o ladrão", "o que a mãe dele faz? Dirige uma casa para pessoas com lepra?"). Mais do que isso, a película aproveita para discutir o quanto determinadas fantasias nos atraem e acabam nos enganando: Jack enxerga em Monica apenas tudo que o atrai, deixando de perceber o lado superficial dela (que é acertadamente exposto pelo Jack mais velho a cada situação); Jerry acredita que, embora aposentado, sua grande contribuição ao mundo está para chegar, e agarra uma oportunidade sem realmente pensar na questão; Antonio e Milly se envolvem em tramas que, em suas mentes, vão mudar suas vidas (mas acaba não sendo bem assim); e até mesmo o Leopoldo entra nessa laia, já que, enquanto um sujeito de vida comum, acaba preso na fantasia de sair dessa rotina.
Assim, Para Roma Com Amor consegue girar o assunto sem parecer enfadonho, trabalhando sempre (quase sempre) com um roteiro divertido e inspirado, e que consegue ainda entregar sucesso em pequenos detalhes (percebam como os momentos em que Jack e Monica ficam mais próximos ocorrem durante tempestades, indicando caos, confusão). Claro, aqui e ali existem algumas coisas mais óbvias e preguiçosas, mas no geral o nível de desenvolvimento das histórias e dos diálogos é bastante fluido, engraçado, atraente, praticamente uma tarde de sábado com sol e cerveja.
Allen dirige o filme com a competência de sempre, investindo bastante em enquadramentos abertos para juntar turminhas na tela e mostrar a cidade - por isso, a produção possui uma mise-en-scene movimentada pacas, o que torna a troca de diálogos bastante dinâmica. A cidade de Roma é sempre fotografada com luz e tons claros, embora nem de longe seja mostrada com a mesma PAIXONITE de Paris em Meia-Noite em Paris (aliás, o fato de ser Roma não interfere muito na história). Contando ainda com uma trilha divertida, minimalista e adequada à locação (ou seja, italiana), Para Roma Com Amor só peca um pouco na montagem, que em determinados momentos se torna um pouco arrastada e tira o ritmo do filme (como na trama do Leopoldo).
Além do já citado Benigni, merecem destaque no elenco também o próprio Woody Allen (cuja neurose total resulta no timing cômico definitivo), Fabio Armiliato (que torna Giancarlo uma personagem carismática e divertida de forma extremamente natural), Alec Baldwin (o olhar cínico do John velho sobre as situações devia pedir em casamento a forma rápida e frenética com a qual o ator dispara as frases) e Judy Davis (que constrói uma química legal com Allen através de sua pronúncia seca e intensa dos diálogos). Na verdade, todo o elenco está bem afinado, o que é um dos principais motivos para o sucesso do longa - e convém citar que, além de talentosa, Alessandra Mastronardi é dona de uma beleza lacrimejante, que só não eclipsa o mundo todo pelos centímetros faltando no vestido vermelho usado por Penélope Cruz.
É curioso que, de todas as personagens, Jerry seja a única a manter a idealização de suas ações, e o faz apenas por pura questão de, bem, falta de conhecimento da língua italiana. Eu digo "curioso" porque o filme é mais uma vitória de Woody Allen, e, seja qual fantasia o diretor tivesse ao se afastar de Nova Iorque para filmar, após Match Point, Vicky Cristina Barcelona, Meia-Noite em Paris e este Para Roma Com Amor, ela certamente se concretizou.
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