Aqui em Porto Alegre - e em muitas outras cidades do Brasil, acredito - entrar em um táxi é mergulhar em um redemoinho de acasos, uma caixa de aleatoriedades, um roleta automobilística. Os táxis aqui certamente são movidos pela improbabilidade infinita que Douglas Adams tão inspiradamente criou. Uma vez dentro de um deles, as leis que regem o mundo externo são barradas e todas as dimensões e possibilidades de todos os universos possíveis se chocam dentro de um carro popular.
Um dia desses, fui obrigado a entrar em um desses buracos negros fantasiados de automóvel. Cauteloso, sentei no assento, dei o endereço ao motorista e coloquei os fones de ouvido, buscando minar qualquer possibilidade que o inesperado pudesse ter. Entretanto, não demorou muito e o taxista começou a reclamar vagamente dos tipos de pessoa que acabam pegando o táxi. Tentei ignorar, mas a insistência dele e a facilidade com que me rendo a convenções sociais tornou impossível. Ao menos parecia um tópico seguro, onde ele narraria causos de pessoas mal educadas e eu contribuiria com frases vagas do tipo "esses caras acham que são donos de tudo".
Mas, assim como acontece sempre que calculo o espaço necessário entre o meu joelho e a quina da mesa quando estou passando, eu estava enganado. O taxista desfilou sem pudor nenhum três histórias envolvendo sexo, misoginia, prostitutas, assédios sexuais, tudo isso DENTRO do táxi. Era como se o pequeno automóvel abrigasse uma temporada inteira de Game of Thrones. Ao chegar ao destino, precipitei-me para fora do veículo com a agilidade de um GUEPARDO e a coragem de uma GALINHA PARANÓICA. Mas melhor isso do que evitar que ele pudesse oferecer a novos passageiros uma quarta história. Afinal, existem duas criaturas no mundo que não confiáveis: impressoras e taxistas que soltam pérolas do tipo "sou um cara honesto, um cara trabalhador, um cara direito. Tanto que só uma vez deixei um casal fazer sexo no meu táxi".
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