A tentativa da humanidade de compreender o futebol de forma racional, através de números e estatísticas, nada mais é do que prova do nosso amor pela ciência, pelo conhecimento. Entretanto, como qualquer forma de arte, o futebol deve sempre ser observado de forma subjetiva. As motivações, os contextos, as nuances, os quases, os antes, os depois, as brigas, os gritos, as decepções, tudo deve ser avaliado. É onde o autor do gol às vezes não é o herói do gol, pois o jogo permite que a genialidade se espalhe por todos os lados do campo, a todo momento. Quantos carrinhos já não sobrepujaram a muralha da China? Quantos lançamentos já não obliteraram os grandes romances? Quantas vezes um espaço de um centímetro, com frequência conquistado mais por vontade do que por técnica, derrubou nações e consagrou outras? Não, não: a matemática pode ser a linguagem universal, mas o futebol fala uma língua própria, despida de racionalidade, lógica, significado. A ciência jamais conseguirá compreender o esporte porque ele existe apenas enquanto ele mesmo, um eterno arquétipo destinado a falar apenas a língua dos apaixonados. Tentar definir o futebol com números é como tentar definir a vida com números: um esforço simpático, mas fadado a deixar de fora o que é mais importante.
Li certa vez que, se Deus existe, ele existe enquanto um círculo, pois o círculo, com todos os seus pontos equidistantes do centro, é a forma mais perfeita que existe. Ao olhar a reverência com que Ozil, Schweinsteinger, Fabregas, Pirlo, Ronaldo, Sneijder, Chiellini, Marchisio, Iniesta, Van Persie, Rooney, Nasri, Ribery, Xavi e tantos outros tratam a bola, e a forma mágica como ela define os destinos de muitos, começo a achar que existe algo de verdade nesse pensamento. |