Jamais experimentei uma solidão tão intensa quanto a de estar a milhares de metros de altura, em um avião, de madrugada e com as luzes da cabine apagadas. Mas não estou falando daquela solidão tradicional, que leva as pessoas a buscarem ajuda e ouvirem baladas do Bon Jovi. É uma solidão mais doce, reflexiva, que bate como um desprendimento de todo o resto do mundo. Uma dose de auto-suficiência quase inebriante. Nesse momento, lá no alto, olhando pela janela e enxergando nada além de um breu total, tive a sensação de que as coisas são suficientes por si próprias. Ou pelo menos estavam sendo. Ou talvez a gente consiga se sentir completo sabendo que não há absolutamente nada em volta, e que, nem que seja por um momento, nós conseguimos fazer o mundo tanto quanto o mundo nos faz. |