Os Outros Caras (The Other Guys)
4/5
Direção: Adam McKay
Roteiro: Adam McKay, Chris Henchy
Elenco
Mark Walhberg (Terry Hoitz)
Will Ferrel (Allen Gamble)
Samuel L. Jackson (P. K. Highsmith)
Dwayne Johnson (Christopher Danson)
Eva Mendes (Dr. Sheila Gamble)
Allen e Terry são dois policiais que, além de ofuscados pelos dois tiras alucinados mais famosos da cidade, sofrem bullyng por parte de seus colegas porque... bem, porque Allen é um ALMOFADINHA e Terry é tão estável quanto uma conexão discada. Entretanto, quando um caso extremamente complicado adiciona ambos como amigos no Facebook, os dois sujeitos ganham a chance de provar seu valor e se tornarem os novos heróis da região.
Ok, a fórmula é mais batida do que canela de gente estabanada: dois policiais com personalidades opostas, forçados a trabalhar juntos e investigando uma trama envolvendo aqueles que são os vilões mais comuns nos filmes policiais, os RICOS. Mas apesar de se apoiar nessa estrutura tradicional,
Os Outros Caras consegue desenvolver situações descomunais a partir das personalidades de seus protagonistas, tornando-se um filme verdadeiramente engraçado, ao invés de mais uma daquelas comédias "já sei, vamos fazer uma cena envolvendo escatologia, sexo e uma personagem estranha, porque escatologia, sexo e bizarrices são ENGRAÇADOS".
Em outros filmes essa gravata seria um pênis.
Os Outros Caras já começa situando o espectador em seu universo absurdo, com uma cena de ação tão épica que só pode ter saído de uma LATINHA DE CERVEJA - e o roteiro é maroto pra, na cena seguinte, fazer POUCO de sua sequência inicial, provando que, mesmo não sendo totalmente escrachada, a película realmente não se leva a sério. Aliás, a decisão de não fazer algo exageradamente exagerado é mais uma vitória do filme, que assim constrói seu humor através de pequenos momentos e diálogos supimpas (como nos rompantes de fúria total de Terry ou aproveitando a ingenuidade de Allen frente às perigosas convenções sociais). Aqui não há espaço para piadas que foram pensadas já imaginando o número de views que terão quando forem colocadas no YouTube. Tudo (tudo bem, QUASE tudo) entra na história de forma orgânica, sem desviar os dois bróders lá de suas características, o que faz o espectador não apenas rir mas também se importar com os caras. É um humor fresco, renovado, sem apelar para personagens que são metralhadoras de palavrões ou dar uma de adolescente e pensar em sexo o tempo todo. Mas infelizmente nem tudo na vida é Copa do Mundo, e em determinados momentos Os Outros Caras acaba cedendo a piadas que, de tão fáceis, parecem madrinhas de casamento bêbadas. Além disso, a trama principal acaba se tornando por demais complicada aqui e ali. Sim, o caso que eles tentam resolver não é prioridade do filme, mas as complicações e reviravoltas deixam a narrativa do filme se fazendo de difícil.
Mostrando que manja do riscado, o diretor Adam McKay (que frequentemente colabora com Will Farrel. Devem ser parceiros de CARTEADO e PEGAÇÃO NA NOITE) tenta sempre manter Terry e Allen no mesmo quadro, pois sabe que é na química entre ambos que o filme garante sua vaga na Libertadores (e tal escolha também ajuda a construir a proximidade entre as personagens). Também mostra ter a pegada viking necessária para os momentos de ação (a sequência inicial é absurda e muito bem coreografada) e confere dinamismo à película colocando uma ou outra cena onde a linguagem narrativa utilizada é temperada com SAZON (como, por exemplo, o sensacional momento semi-bullet-time no bar). Junto a toda essa balbúrdia vem uma direção de arte que leva a camiseta 10 e o nome Messi às costas pois, além de ser bem utilizada como piadas (o carro de Allen), sabe que os detalhes fazem a diferença num relacionamento - e aí podemos citar a sala fechada onde os caras trabalham (afinal, estão "presos" àquela posição), o figurino de Allen (que se torna menos engomadinho nos momentos onde ele se solta) e a sensacional, épica, BIGBANGUEANA ideia de colocar um pôster do Stallone Cobra na casa de Terry. A trilha, como não poderia deixar de ser, conta com muitos momentos de roquenrol, mas também funciona nos momentos onde subverte a expectativa do público para criar humor (tipo numa tensa perseguição de carro ao som de um pianinho alegre).
Mas de todas as qualidades de Os Outros Caras a maior é, sem dúvida, a química perfeita entre seus protagonistas: além de carismáticos ÀS GANHAS, Ferrel e Wahlberg se revezam com eficiência na hora de disparar piadas precisas, sem que apenas um fique como "o engraçado" e o outro dando apenas as deixas. Inclusive Ferrel se mostra totalmente contido (já que suas atuações normalmente são um pouco menos exageradas do que uma festa dada por Paris Hilton e Márcia Goldschmidt), enquanto seu companheiro ilustra bem a montanha-russa de emoções que é Terry (e o faz sem soar forçado, o que poderia comprometer as piadas envolvendo o sujeito). Samuel L. Jackson e Dwayne Johnson, embora apareçam pouco, transmitem à película o ar necessário de "uma vez eu acabei com dezoito bandidos enquanto escutava Marvin Gaye", e garantem assim a "sombra" na qual os protagonistas se mantém ao longo da projeção. Já Eva Mendes pouco pode fazer além de parecer gostosa, mas, é importante dizer, a moça se sai com perfeição na tarefa.
Inteligente e com uma pegada diferente da maioria das comédias blockbusters que andam pipocando por aí, Os Outros Caras não tem muita pretensão além de simplesmente fazer o espectador rir - e nesse caso o filme já pode bater o ponto e ir pra casa. Porque mesmo com suas falhas a película funciona, é engraçada, não se limita a ficar apenas em uma zona segura de comédia, aproveita o ótimo timing cômico de seus atores em cenas inspiradas. Então talvez seja seguro dizer que, tal qual seus dois protagonistas, o filme acaba sobrepujando com folga muitos dos atuais "heróis" do gênero.