Tal qual recipientes de vidro contendo líquidos dentro, os sonhos são escorregadios. Com frequência, ao acordar, lembramos apenas de flashes do que sonhamos (e que, na maior parte das vezes, são semelhantes a alguma cena de algum filme do David Lynch. Mas divago). O que fica realmente marcado são as sensações: o medo, a tensão, a alegria, tudo isso continua no nosso sistema mesmo depois que abrimos os olhos, e é o que usamos para descrever ou definir a experiência.
Há exatos cinco anos Porto Alegre abrigou o maior evento de sua história: diretamente de Seattle, trazendo na bagagem chuva e uma torre com um disco voador no topo, o Pearl Jam veio até a cidade para realizar um show no Gigantinho (eu escrevi "show", mas um termo mais apropriado seria uma onomatopéia do tipo "CABUM"). Desde o início, com Long Road, até o acachapante final, com Yellow Ledbetter, a coisa toda foi um passeio por tudo aquilo que torna a música algo tão cativante, ao mesmo tempo íntimo e público. Pra uma pessoa como eu, então, que desde a adolescência tem "Pearl Jam" tatuado no coração, o show teve proporções épicas. Proporções gremistas, eu diria. Foi como presenciar o Big Bang, mas um que, ao invés de átomos e matérias, expandiu canções espetaculares pelo universo (no caso, o sistema solar foi formado por Habit, Daughter, Animal, Betterman, Baba O'Riley, Do The Evolution, Crazy Mary, Jeremy e Alive, com Given to Fly fazendo as vezes de Sol).
De coisas factuais, palpáveis pela memória, lembro de pouco. Apenas alguns flashes, momentos específicos, situações pontuais. O que eu realmente me recordo, e que uso pra definir a importância desse evento na minha vida, foi a sensação de ficar com um arrepio na espinha e lágrimas nos olhos durante duas horas. Mais do que os fatos, o que ficou de verdade foram as sensações. E isso talvez seja a prova definitiva de que ir a um show do Pearl Jam, em Porto Alegre, foi a realização de um sonho. |