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André - 07 dezembro 2010 - 01:20

A Rede Social (The Social Network)
5/5

Direção: David Fincher
Roteiro: Aaron Sorkin, baseado em livro de Ben Mezrich

Elenco
Jesse Eisenberg (Mark Zuckerberg)
Andrew Garfield (Eduardo Saverin)
Armie Hammer (Cameron e Tyler Winklevoss)
Justin Timberlake (Sean Parker)

Como todo nerd, Mark Zuckerberg é inteligente, socialmente desajustado e irritante. Tentando compensar tudo isso ele inventa um site de relacionamentos, o Facebook, levando pro mundo virtual toda a experiência de uma faculdade, com exceção do sexo, álcool e bebidas (melhor ideia de todos os tempos, né?). Só que Zuckerberg ficou de PICUINHA com outras pessoas envolvidas na criação do dito-cujo, resultando em um monte de processos e gente de mal com ele - e, paralelo a isso, o site cresceu e virou modinha e arrebatou milhões de jogadores de Farmville ao redor do mundo.

A Rede Social é uma metralhadora de diálogos rápidos e personagens interessantes, utilizando-os para contar uma trama de poder, dinheiro, inveja, computadores, complexos de inferioridade e egos sensíveis. Ou seja, tudo aquilo que realmente constrói um relacionamento, seja virtual ou real. E faz isso com uma competência devastadora, trabalhando seus aspectos cinematográficos com uma vitória inquestionável para que o espectador aceite as motivações e características daquelas personagens.

Só assim mesmo pra acreditarmos que os caras criaram um SITE para atrair GAROTAS.

Já em sua primeira cena o brilhante roteiro de Aaron Sorkin, através de um diálogo campeão da Libertadores, nos apresenta o protagonista por inteiro, evidenciando sua inteligência, sua arrogância, sua falta de capacidade social, suas motivações, seus projetos de vida e seu complexo de inferioridade (fatalmente ele tem uma bandeira do Corinthians no quarto). A partir daí, a história desenvolve as conquistas de suas personagens paralelas à suas inseguranças (como quando, no meio da criação do Facebook, Eduardo conta a Mark que entrou para o clube Phoenix, ou quando Eduardo descobre que Sean Parker consegue negócios muito melhores que ele), e todo o crescimento do site acaba ofuscado pelas relações entre essas pessoas completamente neuróticas - assim, quando Zuckerberg fica de ciuminho porque acha que o Facebook é obra só dele, o espectador imediatamente associa essa reação a diversas situações ao longo da trama que, desde a cena inicial, indicavam a complexidade e necessidade de afirmação do rapaz. A Rede Social ainda conta com uma dinâmica sensacional, alternando cenas e até mesmo diálogos entre os processos judiciais e flashbacks dos acontecimentos (sempre polvilhado de frases tão certeiras quanto uma lei de Murphy e construídas com tanta inteligência e estilo que dá vontade de morar debaixo delas). E dentro de tudo isso Sorkin ainda consegue colocar, de forma orgânica, diversas críticas e questionamentos a respeito de privacidade, status, imagem e outros temas relevantes (como no momento em que uma advogada, ao saber que existem usuários do Facebook na Bósnia, diz "eles não possuem estradas, mas possuem Facebook"). Um verdadeiro buffet de personagens tridimensionais e situações representativas dos novos modelos de negócios, relações e PESSOAS.

Diretor que filma suas obras em DIAMANTE e depois os lapida, David Fincher mais uma vez mostra que, na escola de cinema, ele veste a jaqueta do time de futebol americano: além de extrair o máximo de seu elenco, Fincher investe sem dó em closes (é um filme quase só de diálogos, afinal) e enquadramentos elegantes, utilizando uma linguagem visual que anda de mãos dadas com o dinamismo do roteiro de Sorkin. Confia na inteligência do espectador (alguém menos confiante teria colocado um plano-detalhe no momento que Zuckerberg digita o endereço do site Facemash, por exemplo) e ainda tem a manha de completar seu trabalho com pequenos detalhes que engrandecem as cenas (Zuckerberg programando o Facebook enquanto morde um dardo na boca, antecipando o alvo que ele se tornaria; a ligeira falta de foco na derrota dos irmãos Winklevoss na regata, indicando a falta de foco dos caras na competição devido à balbúrdia judicial envolvendo o website; Zuckerberg saindo de bermuda e chinelo na rua em temperaturas abaixo de zero sem nem tremer, em um simbolismo claro da frieza do protagonista; o momento onde ele fala com Sean no telefone e percebe que seu agora último aliado e amigo não é um sujeito confiável, enquanto ao fundo alguém apaga as luzes da sede do Facebook deixando-o completamente sozinho; entre outras).

O diretor também acredita no ditado "diga-me com quem andas e eu te direi quem és", pois escolhe como companhia uma fotografia hábil em retratar tanto a indiferença do protagonista (utilizando cores frias quando ele está presente) quanto o caráter exclusivista dos clubes (captando um vermelho intenso, o que dá um climão de "seita secreta") e até mesmo a desilusão de Eduardo com seu amigo (em uma cena onde ele, debaixo de sombras, conversa pelo telefone com Zuckerberg). A direção de arte também entra pro "Greatest Hits", conseguindo fazer de Harvard um lugar ao mesmo tempo aconchegante e de certa forma opressivo - e vejam como até mesmo nas cenas dos processos judiciais há uma preocupação em definir as personagens: enquanto a sala onde os irmãos Winklevoss tentam o acordo possui um ar mais aristocrático, a outra sala, que abriga o processo movido por Eduardo, é vazia e decorada apenas com AR). Pra completar, a trilha em diversos momentos utiliza sons eletrônicos e em looping, que, remetendo aos barulhinhos que nossos computadores adoram fazer, ganha o prêmio de pertinência total.

Tratando-se de um roteiro de Sorkin, apenas o fato do elenco conseguir enunciar os sensacionais e rápidos diálogos sem morrer por falta de ar já seria motivo de exaltação. Mas, mais do que isso, a turminha dirigida por Fincher consegue compor a galeria de personagens de forma impressionante: como Mark Zuckemberg, Jesse Eisenberg aposta em uma certa inexpressividade que transmite a arrogância e inteligência da personagem, mas tem carisma suficiente para que o público não o odeie; Andrew Garfield ilustra bem os receios e a insegurança de Eduardo, conseguindo tornar ele um sujeito DO BEM sem soar apelativo demais; Armie Hammer é SAGAZ o suficiente pra deixar os dois gêmeos Winklevoss interessantes e até Justin Timberlake se mantém em um nível aceitável, mostrando que a descoberta de vida alienígena na Califórnia por parte da NASA não foi a coisa mais estranha do ano.

Independente de representar ou não os fatos de forma correta, como andam discutindo por aí, A Rede Social é um obra intensa, envolvente e que, como se essas qualidades não fossem o bastante, até mostra umas minas só de lingerie de vez em quando. Possui em seu centro uma personagem tão trágica quanto interessante, e à medida que a trama corre alucinada pela tela o público consegue sentir tudo que o Facebook custou para seu criador - sensação que é ampliada pela desnorteadora cena final, onde os principais temas do filme são amarrados com uma simplicidade cativante. Um desfecho intenso e melancólico perfeito para um protagonista que se importava mais com linhas de código do que com relações.

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