Tron - O Legado (TRON: Legacy)
3/5
Direção: Joseph Kosinski
Roteiro: Edward Kitsis e Adam Horowitz
Elenco
Jeff Bridges (Kevin Flynn/CLU)
Garett Hedlund (Sam Flynn)
Olivia Wilde (Quorra)
Depois de visitar o mundo virtual no primeiro filme, Kevin Flynn tornou-se pioneiro entre os nerds e montou uma muito bem sucedida empresa de softwares e games (e pioneiro também porque ele teve um filho, ou seja, foi um nerd que FEZ SEXO). Mas daí num belo dia de 1989 ele some e nunca mais volta pra casa, e dez anos depois seu filho, já crescido, acaba engolido pelo mesmo sistema virtual, onde precisa não apenas sobreviver mas também encontrar seu pai e salvar o mundo.
Tal qual os programas de auditório transmitidos aos domingos, este Tron - O Legado é muito mais centrado no visual do que no conteúdo. O que não é um demérito, claro - e considerando que o filme anterior buscava exatamente essa abordagem, tá tudo em casa. E a película ainda consegue ser uma das primeiras a usar o 3D de forma pertinente, colocando as tais 3 dimensões em campo apenas quando Sam entra na Grade, e deixando o mundo real em 2D (ou talvez Deus tenha obrigado os produtores a mostrar a Olivia Wilde em 3D).
Me joga na parede e me chama de usuário.
A trama do filme trabalha com temas bastante conhecidos pelos espectadores, porque daí não precisa perder tempo explicando: tem o vilão que manda em todo mundo e quer mandar em mais gente ainda, o herói por acaso, a mocinha corajosa e gostosa, o sujeito que ensina sobre o mundo novo e por aí vai. Infelizmente isso deixa tudo muito na superficialidade, e as informações que ficamos sabendo a respeito daquele PENSE BEM VITAMINADO respeitam o mínimo necessário para que a história siga nos trilhos (ou então são citadas sem nenhum sentido ou raciocínio em cima, tornando-se, bem, ininteligíveis. Mais ou menos como aqueles textos bonitos que não dizem absolutamente nada). As personagens tornam-se praticamente unidimensionais, cuja unica motivação é o mantra "vamos dar o fora daqui", deixando o filme meio que como um videogamezão. Ao mesmo tempo, Tron - O Legado possui uma trama central forte, permitindo que o espectador consiga ver sempre o "ponto de chegada" e entender as ações tomadas pelas personagens, deixando assim espaço para a ação e o CGI total. E em alguns momentos a obra até acena com conceitos que parecem interessantes, mas logo todos eles são vítimas da tecla "Delete".
Contando com efeitos especiais claramente ANABOLIZADOS, Tron - O Legado é um deleite visual tão intenso que merecia no mínimo a capa de alguma Playboy. O mundo dentro da Grade é impressionante, ao mesmo tempo opressivo e hi-tech, ameaçador e fascinante, além de claramente possuir uma caracterização marcante (coloque doze mundos de ficção científica lado a lado e você saberá facilmente qual deles pertence a Tron). E diretor não tem medo de explorar seus recursos, utilizando a câmera lenta com propriedade dentro de ótimas sequências de ação (a das motocas é sensacional) e gerenciando bem a COSTURA entre o CGI e a galerinha real (a já citada cena da motos, por exemplo, ganha emoção porque eventualmente vemos o rosto dos atores atrás dos capacetes). Ainda há de se RETUITAR o brilhante trabalho da direção de arte, que mantém uma unidade com o filme original ao mesmo tem em que consegue modernizar as estruturas dentro da Grade (e vejam o sucesso que fizeram ao colocar o recinto de Kevin Flynn todo branco e mobiliado, contrastando violentamente com o preto impessoal daquele mundo), e a trilha da dupla francesa Daft Punk, que cria o climão necessário através de sons e músicas eletrônicas. Pertinência total.
O maior problema da película é o seu ator principal, que aparentemente teve quaisquer vestígios de carisma e expressividade EXORCIZADOS de sua pessoa. Isso faz de Sam uma daquelas tias chatas que vêm de longe pra reunião de família: a gente aceita ela como parte do contexto geral, mas torce pra que não fiquem muito tempo. Até porque Olivia Wilde, além de tornar a espetacular direção de arte obsoleta no que diz respeito a "traços perfeitos", possui uma presença muito forte em cena e conquista facilmente o espectador, conferindo à Quorra intensidade e até mesmo ingenuidade (ela volta e meia baixa um pouco a cabeça quando conversa com um dos Flynns, como numa reverência). Já Jeff Bridges embarca na diversão absoluta ao compor Kevin Flynn como um hippie-tecno-nerd-filósofo-jedi, e é incrível como o filme ganha vida cada vez que ele está em cena. Bridges fatalmente caiu num caldeirão de carisma quando era pequeno, e é graças ao seu talento que Tron - O Legado ganha alguns pontos no atributo "dramaticidade".
No final das contas, o filme puxa pro lado da diversão descompromissada, o que coincidentemente também é uma grande característica dos jogos de videogame (os bons, pelo menos). Havia bastante espaço na Grade para elucubrações filosóficas e reflexões, embora isso inevitavelmente fosse levar a livros como Entendendo Tron, A Psicologia das Luzinhas que Riscam a Tela e por aí vai. De qualquer jeito, Tron - O Legado funciona dentro de sua proposta BLOCKBUSTERIANA, oferecendo ao espectador uma película fácil, envolvente e de visual bonito. E vou dizer, eu não me importaria de visitar o mundo de Tron novamente - principalmente se a Olivia Wilde estiver de anfitriã por lá.