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Comendo ganância no café da manhã
André - 26 setembro 2010 - 18:51
Wall Stret - O Dinheiro Nunca Dorme (Wall Street: Money Never Sleeps)
4/5

Direção: Oliver Stone
Roteiro: Alan Loeb e Stephen Chiff

Elenco
Shia LaBeouf (Jake Moore)
Gordon Gekko (Michael Douglas)
Winnie Gekko (Carey Mulligan)
Josh Brolin (Bretton James)
Frang Langella (Louis Zabel)

Após ser preso por tocar o terror em Wall Street, Gordon Gekko sai do xilindró e busca uma reaproximação com sua filha - que, no caso, está namorando Jake Moore, também ele um dos engravatados de Wall Street. Daí os três e um monte de engravatados se envolvem em um monte de maracutaias com dinheiro e investimentos, enquanto Oliver Stone desfila algumas metáforas visuais e ideias anti-capitalismo.

É quase um choque ver tudo que mudou e não mudou nesse meio tempo entre o primeiro e o segundo Wall Streets (ambos dirigidos pelo tiozão Oliver Stone): saem os computadores estilo PENSE BEM e entra a tecnologia avançada, com monitores LCD e a filosofia "no disquetes allowed"; fica a turba de executivos espremidos em uma sala, falando ao telefone feito MOCINHAS e vomitando um bando de porcentagens e juros aleatórios. Ou seja, em vinte anos as máquinas evoluíram e o negócio não.

Com exceção do Michael Douglas, que pegou a Catherine Zeta-Jones nesse meio tempo.

A trama gira principalmente em torno de Jake, que começa a crescer no negócio e tem que lidar com a questão da ética frente à ganância total e exterminadora. O roteiro se sai muito bem ao interligar as intricadas relações entre empresas e personagens, construindo uma linha narrativa forte no meio de tanta balbúrdia, e também ao apostar em diálogos coerentes com a ambientação da história. Ou seja, deve ser o primeiro filme hollywoodiano que tem mais números do que palavrões nas falas - e se por um lado isso as vezes deixa o espectador desorientado feito Luxemburgo no Atlético-MG, por outro confere realismo ao filme (imagino que conversar com um corretor de Wall Street ao vivo resulte na mesma sensação). Ainda há espaço para ideologias STONEANAS no meio das frases, como "Num dia bom, estou bem. Num dia mau, estou bem. Que diferença faz?" e "é o mesmo que vender crack para crianças", o que deixa a coisa toda mais interessante. As únicas ressalvas são quanto a um otimismo infiltrado no final e ao romance entre Jake e Winnie, que nunca parece desenvolvido de forma correta, embora ela seja parte essencial da trama.

Oliver Stone aproveita toda essa coisa de "dinheiro é o canal, princípios é coisa de comunista" para jogar paisagens urbanas na tela como se não houvesse amanhã. Aliás, o cineasta fotografa os prédios de Manhattan quase com reverência, fazendo clara alusão àquela história de poder e símbolos fálicos e tal. A simbologia visual está bastante presente no filme, por sinal, seja de forma óbvia (as bolhas de sabão das crianças), desnecessária (as animações explicando blablablas científicos) ou totalmente genial (a câmera "caindo" do alto de um prédio antes da crise econômica; a recorrente utilização de espelhos e reflexos; o plano que mostra Gordon posicionado entre Winnie e Jake, pois o velhote é que havia se colocado no meio do relacionamento dos dois; a utilização da arquitetura dos prédios de Manhattan como gráficos de vendas; o óbvio mas ainda assim legal quadro de Saturno devorando seu próprio filho, que pode remeter à ligação entre Gordon e sua filha ou aos "tubarões" de Wall Street, que acabam devorados pelo mundo que os acolheu; e por aí vai). Além disso, Stone se diverte em alguns momentos com característicos planos-detalhe, cores destoantes, personagens desfocados e outros artifícios (mas coisas bem pontuais e sutis. Nada do FESTERÊ que é Assassinos por Natureza, por exemplo). O cineasta é bem acompanhado por uma fotografia que realça as cores sóbrias (afinal, são locais de trabalho onde pessoas insensíveis só querem ganhar dinheiro. Tipo a CBF) e uma direção de arte extremamente vitoriosa - reparem como alguns detalhes conseguem diferenciar o caráter das personagens, como a gravata-borboleta de Louis Zable (que o torna um velho simpático), o terno levemente roxo de Bretton James (que o deixa mais maléfico) ou as constantes situações onde Jake aparece vestindo roupas comuns e não terno e gravata (que o torna uma personagem mais "casual", e, dessa forma, faz com que a galera se identifique facilmente com ele).

Por falar em Jake, Shia LaBeouf mais uma vez veste a camiseta número 10 e não sente o peso: totalmente à vontade como condutor da história, o pirralho consegue transmitir com trejeitos econômicos as sensações e pensamentos do protagonista, além de ter caido em um caldeirão de carisma quando nasceu. E ainda por cima é amparado por uma Carey Mulligan que retrata bem a vulnerabilidade de sua personagem, um Michael Douglas totalmente "eu como quem eu quiser, pego a grana que quiser e consigo o novo Twitter a hora que eu quiser" e um carismático Frank Langella. Só Josh Brolin eventualmente tropeça no caricaturismo, mas como ele enfrentou Javier Bardem em Onde os Fracos Não Têm Vez, damos um desconto.

Ao longo de toda a projeção as personagens de Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme buscam repetir o que outras personagens fizeram em Wall Street - Poder e Cobiça. Um ciclo que nunca acaba. E a narração em off ao final, explicando que insistir em uma mesma ação esperando resultados diferentes é insanidade, mostra o motivo da crise de 1929, da crise de 2008 e de todas as outras que virão: porque assim como a bolsa de valores, seres humanos não fazem sentido nenhum.
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