Demorou. Mas enfim, um ano depois de formado - um ano mais uma semana graças à gripe suína - voltei pra escola. Voltei imaginando que a empolgação de ver de uma vez por todas como era o curso iria influenciar de maneira superlativamente positiva minhas impressões sobre a faculdade, do mesmo jeito que alguém morto de fome chega em um restaurante e come qualquer a la minuta mal cozida como se fosse a comidinha da mamãe.
E logo na estréia não pude deixar de valorizar minhas origens. Antes de começar a aula de terça-feira, passei na secretaria pra descobrir em que sala seria ministrada a primeira aula do meu curso de pós-graduação. Mas quando cheguei lá, minhas dúvidas só se multiplicaram. O atendente, ao invés de me responder a pergunta objetivamente, rebateu-a com uma nova pergunta. Odeio esse hábito nas pessoas!
Ele disse: - ''Claro que posso ver em qual sala vai ser a aula, tu só precisa me dizer que aula é.'' Ao perceber minha reação reticente, ele completa: - ''Tu sabe que aula tu vai ter?'' E o fabicano legítimo responde da forma que lhe é peculiar: - Não, tu tem como ver aí no sistema pra mim? Nem mesmo o atendente expressou surpresa e, de forma inacreditavelmente natural, fez a consulta e me orientou. Parece que ele tinha visto a minha ficha e sabia exatamente o tipo de estudante com o qual estava lidando.
Não preciso dizer que na aula seguinte, na quinta-feira, o protocolo se repetiu. E dessa vez ele até me chamou pelo nome. Ele falou um ''Oi Thiago" que intrinsecamente se mostrou uma abreveiação de ''Oi Thiago, quer que eu veja no sistema qual é a tua próxima aula?", mas ele não me poupou de fazer a pergunta.
Passei pelas luxuosas salas Citibank e Petrobrás para chegar na sala indicada por ele, a enfabicada sala 3. É, o patrocínio faz toda a diferença! E ao contrário dos remédios, uma sala de aula de grife é visivelmente superior a uma sala de aula genérica.
Quanto às aulas, parece que o pessoal está bem a fim de estudar e tal, o que pude notar foi uma escacez preocupante de publicitários no curso. De uma forma que me atiçou a vontade de levantar da cadeira e voltar na secretaria pra dizer pro atendente que pós-graduação não tinha trote e que ele podia tratar de me passar a informação correta e me mandar pro curso de Especialização em Comunicação Publicitária.
Mas essa sensação passou quando o professor começou a falar. Ouvi termos que só se ouvem numa aula de comunicação, e experimentei um orgulho lúdico de poder compreender uma porcentagem do discurso um tanto maior do que a média da turma.
Na primeira das aulas, na hora que a turma se apresentou e eu disse que era fabicano, o professor exclamou profunda satisfação ao informar que conhecia um nome de quem me deu aula na graduação. Meu pensamento de ''ah não, lá vem mais papers'' foi interrompido com a revelação de que não se tratava de quem eu estava pensando. Meu alívio me abandonou horas depois, quando soube que o trabalho final será de fato um Paper.
A segunda aula foi melhor ainda! E a cadeira vai girar em torno da semiologia. Olha o que eu acabei de escrever! Nunca achei que conseguiria escrever um parágrafo, uma frase ou até mesmo uma palavra entusiasmada sobre semiologia. Mas eu vou tentar explicar: imaginem que semiologia não fossem calhamaços sobre ícone e signo, imaginem que fosse uma matéria de cursinho, com direito a todas aquelas piadas e encenações que fazem o vestibulando esquecer que está prestes a encarar o maior pesadelo de sua vida até então.
Chega de escrever, é hora de ler. Sim, porque apesar dessa impressão positiva da primeira semana, o que não faltou foi tema pra casa.