Imaginem que, após uma intensa festa com seus amigos Johnny e Natasha, o Sujeito X tem duas opções de caminho pra retornar à sua casa: o primeiro é descer até o mar, nadar alucinadamente, dar a volta no lettering "Oceano Atlântico", chegar aos Estados Unidos da América, ser identificado como imigrante ilegal e, assim, deportado para o Brasil em um bote inflável que tem o Faustão como animador; o segundo é atravessar a favela da Rocinha de madrugada, sozinho e desarmado. Qual deles vocês acham que o Sujeito X escolheria?
O primeiro, claro. Pois bem. Então um dia o Don Corleone da Rocinha, os comandantes de todas as instâncias da polícia, até mesmo o Pedro Bial, chegam para o Sujeito X e falam algo como "caro interlocutor, tais impropérios desferidos contra a área de alta densidade demográfica conhecida como Favela da Rocinha não passam de inverdades para manter curiosos afastados, pode se aventurar pelos corredores daquelas humildes moradias que, prometemos, absolutamente nada lhe acontecerá". Basicamente, garantiram que o Sujeito sairia dali com o cu inteiro. Vocês acham que ele se aventuraria?
É claro que não. Porque o medo do lugar foi construído durante anos e anos e anos, através de dados, estatísticas, histórias, boatos, manchetes. Mesmo que se passem dez verões sem uma notícia sobre sequer uma briga de torcedores ali, a situação continuará a mesma, e um transeunte qualquer vai preferir apostar numa vitória do Grêmio fora de casa a circular pela Rocinha.
A Gripe A está chegando nesse estado. Ninguém sabe se ela é realmente devastadora ou não, e na real isso não importa mais: o que se sabe é que ela mata e está por aí. Então estamos todos devidamente assustados. Qualquer pessoa que tossir ou espirrar já vai tocar um sininho na nossa cabeça que soa "Gripe A", qualquer pessoa usando máscara vai conseguir abrir um buraco em fila de banco. Já existe um princípio de pânico por causa da doença. E, com esse medo já instaurado, não há como retornar ao momento pré-terror.
O interessante é que, com a Gripe A, algumas pessoas dizem que os jornais estão exagerando, enquanto outras dizem que eles estão evitando noticiar tudo. Temos dois lados completamente diferentes que concordam em discordar do que está sendo dito. Ironicamente, há informação em tudo que é canto, mas falta conteúdo. Sem conteúdo, não há como manter o público decentemente informado.
Ou seja, quanto mais informação, menos informação. |