Com o sucesso de Transformers 1 e 2, a fabricante de brinquedos Hasbro resolveu levar os famosos Comandos em Ação pra telona também. Então alguém sacou da cartola TRÊS roteiristas, que criaram uma história genial envolvendo nanotecnologia e a dominação do mundo e, claro, um generoso buffet de efeitos especiais (o título do filme devia ser CGI JOE, a propósito).
Na primeira cena do filme já somos informados do que vai acontecer nas duas horas subsequentes: nada de interessante. Porque G.I.Joe faz parte daquela leva de produções cuja campanha de marketing é REALMENTE mais importante do que a história, já que ninguém, em sã consciência, conseguiria sair do cinema sem arrancar as poltronas e jogar na tela durante a projeção. A única forma de chamar a atenção da gurizada é com uma campanha bem feita, que já diga para o público-alvo como a película é boa. Tipo aquela história do "Compre Batom", multiplicada por centenas de milhões de dólares investidos em publicidade.
E o que falar da história em si? Bem, ela segue os três atos que constam no manual dos filmes de ação: no primeiro, conhecemos os mocinhos DESCOLADOS e DURÕES, ainda que eventualmente COMEDIANTES SEM GRAÇA, e descobrimos que o fato deles não terem conseguido realizar uma missão é o suficiente para os colocar na melhor equipe do mundo (os G.I. Joe, não o Barcelona); no segundo, os mocinhos encontram outras pessoas DESCOLADAS E DURONAS, ainda que eventualmente COMEDIANTES SEM GRAÇA, e realizam suas primeiras missões com ajuda de computação gráfica DESCOLADA e DURONA; no terceiro, toda a galera vai pro confronto final com os vilões DESCOLADOS e DURÕES, ainda que eventualmente COMEDIANTES SEM GRAÇA, em um lugar DESCOLADO E DURÃO criado pelo photoshop e onde metade do orçamento do filme foi depositado. Eventualmente tudo vai abaixo, os mocinhos DESCOLADOS e DURÕES beijam as mocinhas DESCOLADAS e DURONAS e fica o gancho pra uma possível sequência DESCOLADA e DURONA.
O que acontece é que, mesmo dentro de uma estrutura pré-concebida, um filme pode ser original e divertido (a franquia Onze Homens e um Segredo está aí para provar a tese). Só que G.I. Joe possui uma profundidade de ZORRA TOTAL em todos os seus aspectos cinematográficos, levando uma pessoa a acreditar que havia um grande buraco negro sugador de criatividade durante a produção. Do elenco tão expressivo quanto uma entrevista de jogador de futebol até os aspectos técnicos de qualidade CARNAVALESCA, a película falha miseravelmente. Tudo bem que as "reviravoltas" da história sejam previsíveis, mas quando o espectador consegue antecipar o que vai acontecer nas sequências de ação, há algo errado. Tudo bem que flashbacks são um recurso muitas vezes necessário, mas quando a único contribuição que eles conseguem fazer é na ENFADONHICE da trama, há algo errado. De fato, pra um filme de ação com muitos tiroteios e explosões (tudo, absolutamente tudo explode, incluindo aí a cabeça do espectador), G.I. Joe não acerta uma - e quando uma película se promove através de seus efeitos especiais, sendo que o nível de realismo destes se aproxima bastante da definição "Playstation 2", há algo MUITO errado.
O pior é que os bonecos dos Comandos em Ação, as naves que se uniam pra formar bases ou que abrigavam veículos menores, a diversidade de personagens, o visual legal de grande parte deles, tudo isso estava à disposição do diretor. Com o apelo saudosista que esses brinquedos têm com uma parcela do público, somado ao apelo que qualquer filme com efeitos especiais têm junto aos adolescentes, dava pra iniciar uma longa e divertida franquia. Mas parece que sobrou ação e faltou comando para imprimir um mínimo de noção à película. E a produção provavelmente vai ficar tão esquecida quanto aqueles bonequinhos que estão no fundo dos nossos baús.