Um dia qualquer desse inverno cinzento fui até o SINE resolver situações envolvendo o seguro-desemprego (uma expressão que me incomoda, devo admitir: as expressões "desemprego" e "seguro" me parecem heterogêneas, misturando-se com tanta naturalidade quanto "ônibus" e "pontualidade". Mas divago), o tipo de empreitada que costuma consumir tempo e paciência em proporções generosas.
Ao chegar lá, logo percebi sinais daquela característica intrínseca aos brasileiros que alguns estudiosos gostam de denominar "fila". Entretanto, não havia ninguém ali para organizar a dita-cuja - havia apenas uma nada sorridente funcionária distribuindo senhas enquanto o tédio estuprava seu rosto. Ou seja, a fila formou-se sozinha. Uma entidade independente, construída por pessoas de diferentes valores e que, em nenhum momento, ficou maior do que o espaço permitia. Isso mesmo. Sem absolutamente nada que a orientasse, a fila respeitou a diagramação espacial do lugar de uma forma irrepreensível. Sabem aqueles vídeos do Discovery que mostram centenas de peixes nadando entre si em um espaço não maior do que um prato, sem que nenhum LAMBARI acerte o outro? Foi mais ou menos o que aconteceu no SINE.
O brasileiro já nasce com a habilidade de se adaptar a um ambiente onde essa configuração sequencial é necessária. Está no seu DNA. Ou seja, não somos o país do futebol, nem do carnaval: somos o país da espera - da espera nas filas de shows, de bancos, de instituições de ensino, de tribunais, de hospitais. E de "país da espera" pra "país do futuro", tudo que precisa é um bom insight. |