Harry Potter e o Enigma do Príncipe (Harry Potter and the Half-Blood Prince)
5/5
Direção: David Yates
Roteiro: Steve Kloves, baseado em livro de J. K. Rowling (como se vocês não soubessem essa última parte)
ElencoDaniel Radcliff (Harry Potter)
Emma Watson (Hermione Granger)
Rupert Grint (Ronald Weasley)
Quando mais um ano começa em Hogwarts, Harry Potter e sua turminha do barulho precisam aprender a lidar com seus hormônios e com os nefastos Comensais da Morte rondando por perto - embora, todos saibam, problemas com mulheres fazem os inimigos do bruxo tão assustadores quanto o Botafogo. Paralelo a isso, o professor Dumbledore e Potter investigam o passado de Voldemort pra descobrir qual é a moral daquele sujeito.
Dizer que o filme literalmente já começa sombrio não seria exagero: o logo da Warner surge em meio a um céu nublado, e a primeira cena mostra o protagonista arrasado com tudo que aconteceu no
episódio anterior. Daí pra frente, a atmosfera da película mantém-se tensa até o final. Os sorrisos e brincadeiras nos corredores da escola foram substituídos por expressões sisudas. A câmera se esgueira pelos cantos, como se estivesse sempre à espreita. E a própria mágica já tornou-se algo corriqueiro, parte do dia-a-dia - se nos primeiros episódios da série ela era divertida, aqui os feitiços não possuem, digamos, intenções tão inocentes. Contribui para esse climão a fotografia, que capta boa parte das imagens de forma quase monocromática (com exceção de lugares mais confortáveis, como a casa dos Weasley), e a trilha melancólica que chora solenemente durante a projeção.
Todas essas decisões são acertadas, pois
O Enigma do Príncipe começa o segmento final da série (ainda virão mais dois filmes, que vão dividir
Relíquias da Morte, o último livro). Assim sendo, aumenta a carga dramática de cada cena, aumenta a pressão em cima dos protagonistas, aumentam as escolhas difíceis que cada um precisa fazer. O tom de urgência fica claro em duas sequências de ação desnorteantes: o ataque à casa dos Weasley (sem trilha, edição ágil, correria do cão, nível DEFCON 1 de suspense) e o quebra-quebra entre Draco e Harry (antes prerrogativa para piadas e situações engraçadas, agora o antagonismo dos dois leva a uma das cenas mais chocantes do longa). Sim, nesse filme não tem nada de
fair play, aqui vale carrinho desleal por cima da bola, cotovelaço quando o juiz não tá olhando, puxar cabelo, esse tipo de coisa. O buraco desce ainda mais quando vemos que Dumbledore, normalmente calmo e pacato como um funcionário público, fica ansioso e preocupado com o rumo dos acontecimentos. A perturbação da personagem mais sensata da série é sinal de que vem problema.
Foi um longo trajeto desde o divertido
Harry Potter e a Pedra Filosofal até este tenso
Harry Potter e o Enigma do Príncipe. E o mais impressionante é que foi uma mudança gradual, como se Harry, Ron e Hermione estivessem crescendo junto com seus fãs. Esta última película representa um ponto sem volta na vida das personagens, onde elas precisam enfrentar o fato de que nem sempre há um final feliz. Essa aproximação entre os bruxos e as pessoas comuns é que envolve o espectador com o filme. Os efeitos especiais são impressionantes, certo, mas é nos pequenos momentos onde o trio protagonista se comporta simplesmente como um bando de amigos que a história faz sua mágica.