Anjos e Demônios (Angels & Demons)
3/5
Direção: Ron Howard
Roteiro: David Koepp e Akiva Goldsman, baseados em livro de Dan Brown
ElencoTom Hanks (Robert Langdon)
Ewan McGregor (camerlengo Patrick McKenna)
Ayelet Zurer (Vittoria Vetra)
Um professor de simbologia é chamado pela Igreja para investigar uma ameaça no Vaticano envolvendo sociedades secretas e mistérios. Quem falou que missa é um negócio monótono?
Dan Brown é um sujeito com uma imaginação batuta, que usa ela para criar histórias misteriosas e, mais do que isso, faz um trabalhão de pesquisa para que os "segredos históricos" de suas tramas soem minimamente críveis ao leitor. Infelizmente essa preocupação não encontra respaldo em seu texto, que é superficial e abraça convenções dos romances policiais assim como bêbados agarram gordinhas em festas às quatro e meia da manhã.
Isso ficou claro na adaptação do famoso Código DaVinci, onde o livro foi praticamente socado dentro de um roteiro do jeito que dava, resultando em um filme verborrágico, que não confia em suas imagens e muito menos em sua história. A real é que o Código meio que se baseava só em um grande secreto, e depois que ele era revelado a galera percebia que ainda havia uma trama a seguir. Não se decidindo por um lado (um filme mais centrado no segredo do Cálice Sagrado) nem por outro (um
thriller de ação), o diretor Ron Howard fez uma adaptação que não pegaria nem vaga na Sulamericana.
Anjos e Demônios, apesar de vestir as mesmas cuecas que seu sucessor (mudando apenas a roupagem), não tem uma grande fofoca a ser revelada. Então é barbada pro diretor se concentrar apenas na
caça ao tesouro intrincada história envolvendo sociedades secretas, códigos e personagens ambíguos. Pois ação é o que a continuação de Código DaVinci tem de sobra: logo nos primeiros minutos de projeção já somos apresentados ao primeiro assassinato da noite, e também à idéia de que roubar um tubo de antimatéria é o maior exemplo de facilidade que a história da humanidade já produziu. A partir daí é uma correria tresloucada, com Langdon descobrindo os esconderijos através de pistas astutas e convenções cinematográficas. Acompanhado pela doutora e por uma câmera sacolejante que provavelmente encheu a cara de Red Bull, o professor se envolve em tantas maracutaias que ninguém tem muito tempo pra prestar atenção nos eventuais furos do roteiro.
Isso beneficia a produção, que acaba se tornando um
thriller eficiente e coeso, estruturado em uma montagem ágil (os planos são curtos, mas claros e adequados à linguagem narrativa proposta, com raras exceções). Ron Howard já é macaco velho, faz apostas seguras de enquadramento, de coreografias, e por aí vai. Sabe que o
blockbuster é dirigido a um público que exige certo conservadorismo narrativo (curiosamente, a única cena mais "livre", um plano sequência que sobe por dentro de um cano no final do filme, é plasticamente muito semelhante ao penúltimo plano de Código DaVinci). Somam-se a isso sets e locações muito bacanas, habilmente fotografados, que levarão à loucura os pobres que não tem grana pra europear.
Como Robert Langdon, Tom Hanks pouco pode fazer além de ser sujeito das cenas de ação e uma enciclopédia de informações quando as coisas não estão em DEFCON 1. Mas o ator consegue dar um pouco mais de vida ao protagonista aqui e ali, e sua
persona já é o suficiente para encararmos o professor sabe-tudo como um cara legal. Já Ewan McGregor retrata bem a calma e a fé de sua personagem, fazendo o público realmente acreditar em suas intenções (que são avacalhadas pelo roteiro depois). O resto do elenco se limita a jogar a história pra frente quando necessário.
No final das contas,
Anjos e Demônios realiza o que se propõe a fazer, e de lambuja ainda mostra coisas interessantes que acontecem na eleição de um novo Papa. Se por um lado não acrescenta nada de novo ao gênero e é descartável, por outro não surra a inteligência do espectador com um bastão de beisebol, como anda comum em
blockbusters. Um filme nem muito bom, nem muito mau.