Hoje, ao subir em um ônibus, aproximei o meu cartão do validador(sic) para passar, como sempre faço. Mas a infame máquina retribuiu minha gentileza com um "Uso Indevido" sorridente, escrito em fonte quadradona e fundo verde, mais parecendo um comando de DOS digitado em um quadro-negro. Ciente de que meu cartão possui carga suficiente para comprar uma empresa de ônibus, aproximei-o novamente, obtendo a mesma resposta. Ligeiramente alterado, esfreguei o cartão na fuça daquela caixa de circuitos prepotentes, e... o validador(sic) teimoso e provavelmente na TPM continuava de birra. A essas alturas, a cobradora falou que havia esquecido de desbloquear o dito-cujo. Ela fez o que devia ser feito, e aí sim a máquina colaborou.
Existem alguns pontos que chamam a atenção nesse pequeno causo. Primeiro: quem aquela maldita CAIXA DE PANDORA acha que é pra dizer que eu estou usando indevidamente o MEU cartão? Se o cartão é MEU, eu posso até escovar os dentes com ele e ninguém tem nada a ver, muito menos um Pense Bem recauchutado com ilusões de grandeza e poder. Chega a ser irônico o homem ter construído máquinas justamente pra impedir o seu livre arbítrio. Consigo imaginar uma nova adaptação de Senhor dos Anéis onde Gandalf, mostrando para o Balrog enfurecido um validador(sic) com a mensagem "Uso indevido", grita "You shall not pass".
Segundo: se tivesse algum problema com o meu cartão - que possuía sim carga suficiente -, eu teria que pagar com dinheiro. Mesmo deixando de lado a paranóia que me atinge toda vez que abro a carteira em público, imaginando que os olhares alheios convergem na direção dela para ver quantas notas saltitam alegremente ali, ainda assim poderia ter problemas. E se o dinheiro guardado ali fosse pro almoço? E se eu tivesse a quantia exata para adquirir algum objeto de consumo pelo qual tenho muito apreço? E se estivesse levando o dinheiro para ajudar entidades carentes, como o Grêmio?
Fosse o transporte coletivo old school, era só dar uma outra fichinha e papo encerrado. Nada de burocracias eletrônicas. Mas vieram as máquinas, e veio o futuro, e é tudo tão limpo e brilhante e piscante que não tem como dizer "não". Pelo menos os assentos dos bancos ainda não são virtuais. Ainda.