Assistindo as transmissões de futebol pela televisão de hoje em dia eu sempre chego à conclusão de que qualquer eu pode ser comentarista. É a coisa mais fácil do mundo, basta um pouco de atenção e meia dúzia de frases prontas. Falando nisso, em breve nesta coluna não percam o manual do comentarista de futebol da TV.
Uma coisa que melhoraria muito a minha visão a respeito desse pessoal seria o abandono da pseudo-neutralidade que eles tentam passar. A gente sabe, fica claro que determinado narrador está torcendo para um time durante a transmissão, mas os caras insistem em negar isso.
Essa imparcialidade parcial tem que acabar! Imaginem que divertida seria a narração que fosse feita sem a preocupação de tentar esconder a paixão que o narrador certamente sente: "Bucha! Gol do meu time! Chuuuuuuuuuupa!''.
O Luciano do Vale, da Band, que é torcedor declarado da nada comprometedora Ponte Preta, disse certa vez que é muito mais gostoso narrar jogo da Seleção porque ele não precisa ficar se contendo e pode botar mais emoção nos seus comentários. Pra quê isso? Grita gol da Ponte Preta do jeito que tu tem vontade!
Outro dia, inclusive, dei muita risada quando um dos narradores da Globo se confundiu e chamou o Flamengo de Brasil.
A inspiração pra este post me veio nesse domingo de manhã, enquanto eu assistia ao Grandes Momentos do Futebol na TV Cultura. Eles mostraram os gols de um Flamengo 3 x 1 Vasco no tempo do Zico. Não foi mencionado o nome do narrador e eu também não consegui identificar, mas todos deviam seguir o exemplo do cara. Primeiro gol do Flamengo: indignado, se calou esperando a grande maioria flamenguista dos 175mil torcedores parar com o alvoroço para no fim disparar um "Não é possível! Menos de um minuto?" (O rubro-negro abrira o placar com 27 segundos de jogo.). E no terceiro: a mesma reação e um desanimado "pois é... 3 a 0...". Quando o Vasco diminuiu ele soltou um urro que parecia que o Vasco tinha feito um gol de título de Libertadores!
O telespectador repara no comportamento da equipe de jornalismo, sabe que puxam o saco de certos times. Se esse partidarismo fosse exposto abertamente e sem falsidade, talvez seria menos antipático da parte deles. Eu, pelo menos, diria: Quer torcer pro Curintia? Azar o dele!