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Onde os azarados não tem vez
André - 01 fevereiro 2008 - 17:40
Finalmente, depois de muita espera, estréia no Brasil Onde os Fracos Não tem Vez, mais novo filme dos Irmãos Coen. Admirador que sou do cinema deles, tenho acompanhado há tempos o andamento da produção através de sites especializados - e cada vez mais minha expectativa em torno da película foi aumentando. Posso dizer que, junto com O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (este inexplicavelmente ausente das salas portoalegrenses), é a produção que mais me interessou nos últimos meses.

Planejei, portanto, assistir hoje de tarde e peliculosidar o filme logo que chegasse em casa. Mas se numa sexta-feira normal, as coisas já são complicadas, em uma de carnaval é ainda pior. Soma-se a isso o primeiro episódio de LOST em meses, e o inevitável acontece: eu saio de casa absolutamente em cima da hora para chegar na sessão.

Enquanto o carro disparava pela Av. Ipiranga, deixando para trás inocentes veículos que transitavam com a calma de um domingo, eu olhava o relógio de novo e de novo. Esperei tanto pelo filme que não queria perder um minuto da projeção. Cada segundo passado tornava o caminho ainda mais comprido e difícil. A tortuosa nuvem da incerteza pairava sobre minha cabeça.

Na frente do Bourbon, desci com a agilidade de um zagueiro do Gauchão e passei a percorrer a distância através de largos passos. Os seguranças do shopping olhavam para mim com um misto de dúvida e preocupação, mas não havia tempo para explicações. Não havia mais tempo para nada. Conforme eu subia a escada rolante, os segundos que faltavam desapareceram sem piedade. Mas apenas alguns metros me separavam da bilheteria, e pela primeira vez a vaga esperança foi se moldando para dar formato a uma vitória. O carpete, verde, agora era um tapete para o meu triunfo. Arfante, percorri o trajeto final em êxtase, deliciando-me com o sabor da conquista e agradecendo aos publicitários por colocarem tanta propaganda antes do filme. Embora cansado, rapidamente me recompus e falei à tia da bilheteria com a altivez que o momento requeria:

- Uma de estudante pra "Onde os fracos não tem vez".
- Hm.. - ela ponderou a questão por um tempo que pareceu um campeonato de pontos corridos - Não vai ter sessão às quinze e quarenta.

Não pude deixar de engolir em seco. Minhas entranhas se remexiam. O suor, que outrora representava um esforço vitorioso, agora identificava um nervosismo crescente. Em algum lugar do inferno, o diabo gargalhava.

- Como assim? Mas tá na programação, eu vi... eu vi no jornal! - resolvi apelar para um argumento imbatível - Eu vi na internet quando procurei no Google!
- Sim senhor, mas acontece que a distribuidora não entregou as cópias do filme para nós. Não temos como rodá-lo.

E, com isso, ela encerrou a conversa. Abalado, tive que digerir a informação. Não era possível. Claro, eu posso assistir ao filme depois. Claro, posso voltar aqui e atualizar a coluna na quarta-feira. Tudo isso é possível. Mas depois de tanto tempo de espera, de tanta expectativa, ser impedido por um evento tão improvável é frustrante. Minha odisséia foi em vão, graças a algum erro de logística ou cálculo errado de tempo.

De tudo, restou apenas a idéia para um post no blog. Para substituir a resenha de um filme aguardado e elogiado. E nada mais.

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