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Osso duro de roer
André - 12 outubro 2007 - 21:40
Tropa de Elite
5/5

Direção: José Padilha
Roteiro: Rodrigo Pimentel, Bráulio Mantovani e José Padilha

Elenco
Wagner Moura (Capitão Nascimento)
Caio Junqueira (Neto)
André Ramiro (André Matias)
Fernanda Machado (Maria)

Contundente.

O capitão de uma força especial da polícia, cansado da guerra diária contra o tráfico, está prestes a sair da equipe - mas, para isso, precisa encontrar um substituto a altura, alguém tão honesto, inteligente, incorruptível e impiedoso quanto ele.

Ao longo de quase duas horas de duração, Tropa de Elite busca abordar não o problema da venda de drogas, mas sim os problemas que surgem a partir do tráfico e da corrupção da polícia. Em uma narrativa coesa, persegue todos os aspectos que levaram a situação a esse extremo, onde uma "polícia especial" tem carta branca para entrar nas favelas e fazer o que bem entender.

O ritmo frenético e a câmera na mão, sempre chacoalhando, combinam com a urgência do tema: as favelas, cuja quantidade absurda é mostrada através de planos aéreos, tornam-se verdadeiras zonas de guerra. Os becos e corredores são sempre cheios de sombra, aumentando o clima de claustrofobia, enquanto os tons de amarelo ajudam a criar uma sensação de pobreza e desolação. Contrastando com os cortes secos e rápidos das cenas de ação, o diretor prefere mostrar os diálogos em um plano só, enquadrando todas as personagens ou pulando a câmera de uma para outra - e esses momentos de "calmaria" só acentuam a tensão, como se algo estivesse prestes a acontecer.

Mas o grande trunfo do filme é mesmo a amplitude do seu raciocínio: ao invés de focar em um evento isolado, consegue mostrar como o problema 1 leva ao problema 2, que leva ao problema 3, que volta ao problema 1... a idéia aqui não é apresentar respostas, mas sim explicitar como cada coisa, por menor que possa parecer, é uma engrenagem que ajuda o tráfico a continuar funcionando - e aí vão desde os policiais corruptos até os estudantes e seus baseados. Seguindo essa lógica, a obra surge como um espelho da realidade, fazendo o espectador confrontar seus próprios sentimentos e ideais sobre as situações mostradas. É fácil, por exemplo, aceitar a narração em off do Capitão Nascimento e chegar a conclusão de que os policiais do BOPE têm o direito de julgar, condenar e executar um suspeito. Mas é certo? É fácil também dizer que a polícia "é violenta e já chega descendo o pau sem motivo nenhum". Mas as coisas são assim mesmo?

É nessa fuga dos discursos convencionais que a película se torna extremamente pertinente, criticando e até ridicularizando as respostas prontas. Ao invés de se render à frases como "tem que matar tudo mesmo" ou "policial é tudo violento", o diretor joga na cara das pessoas o quão simplistas e frágeis são esses argumentos, dando ao espectador a oportunidade de realmente questionar as bases da situação. Apresenta os integrantes do BOPE não como heróis ou vilões, mas sim como produtos da necessidade: o Capitão Nascimento do filme não é a solução, apenas uma tentativa de reduzir os sintomas. Há muito mais no complexo sistema tráfico/polícia do que as análises superficiais que são feitas constantemente, e enquanto esses dianósticos precipitados levam a resultados negativos, as pessoas continuam morrendo. À toa, como diria o Capitão.

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