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O lado branco da Força
Leandro Corrêa - 16 setembro 2007 - 18:47
Se existe algo que me dá mais medo do que lâmpadas fluorescentes são as pessoas que não tem medo de lâmpadas fluorescentes. Porque estas pessoas, certamente, não conhecem as propriedades anticoagulantes das substâncias que fazem funcionar estes perigosos tubos de vidro compridos e frágeis. Ferimentos que duram meses para cicatrizar e até hemorragias seríssimas são apenas duas das várias complicações que um acidente envolvendo tais artefatos malignos da vida moderna podem nos causar.

Mesmo sabendo disso, vocês não tem idéia do tamanho do pânico que me ocorre toda vez que uma lâmpada destas queima aqui em casa. Pensando nisso, tentarei dividir com vocês o que sinti na última batalha que travei contra este inimigo.

Perto das 23 horas de domingo passado, as lâmpadas da minha cozinha começaram a titubear antes de acender. Era o sinal de que algo terrível estava para acontecer. Sexta-feira, então, a profecia se confirmou e as irmãs "Phillips" entraram para o sono eterno. E foi assim, perdido em meio às sombras da escuridão, que me foi revelado meu fardo: ir ao supermercado comprar lâmpadas novas. Respirei fundo, peguei a carteira, liguei o carro e fui.

Lá chegando, me dei conta que a batalha seria árdua: por todos os lados, viam-se milhares de consumidores destemidos que se divertiam fazendo suas compras. Todos eles, claramente, sem a menor preocupação com a maldição dos gases de argônio e vapor de mercúrio das lâmpadas fluorescentes. Ao adentrar o território do setor "Chuveiros elétricos e luminárias", me aproximei com cautela de uma gôndola carregada de tais objetos e, como quem levanta alguns gramas de terror, fechei os olhos e peguei duas novas Phillips, R$ 7,50 cada (estavam em promoção).

Demorou algum tempo até que eu encontrasse confiança na força que deveria aplicar nas mãos para 1- evitar derrubar as lâmpadas e 2-, não estourá-las entre meus dedos. A imagem de milhares de cacos de vidro do mal perfurando meus pés e minhas mãos ainda me causa pesadelos. Naquele momento, porém, o suor escorrendo por minha testa já não me atrapalhava mais, bem como os batimentos cardíacos descontrolados que me acompanharam enquanto, feito um habilidoso cavalheiro Jedi com seus dois sabres de luz, me desviava dos inimigos em direção ao caixa.

"Toma cuidado, sua imprudente!", pensei em gritar para a cruel atendente, mas ela devia ter tanto calor humano quanto o leitor de código de barras defeituoso. Enquanto abria a carteira, ocorreu-me que se o prenúncio do juizo final vier acompanhado de um aviso sonoro aterrorizante, ele será igual a de várias lâmpadas fluorescentes se chocando.

Percebendo minha tensão, o ajudante do caixa destilou seu veneno de sarcasmo sorrindo e me ofereceu, num tom muito solícito, uma pequena e inútil sacolinha de plástico, como se dissesse "Acredite, é tão resistente quanto um carro-forte". Após encará-lo nos olhos como quem diz "Se isso fosse uma ogiva nuclear talvez eu aceitasse", voltei a me concentrar e segui para o estacionamento, lugar onde o destino me aguardava para o derradeiro desafio final: controlar o desespero de dirigir em segurança sabendo que, no banco de trás, eu dava carona para praticamente 2 dos 4 cavalheiros do apocalipse.

===

Continua no próximo domingo. Ou não.
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