"Vou te contar um segredo: o último ato é o que faz o filme. Surpreenda eles no final, e você tem um sucesso".
Esse é um dos tantos ensinamentos do roteirista Robert McKee, personagem interpretada por Brian Cox no ótimo Adaptação. Algumas pessoas podem até questionar o que o cara disse, mas os engravatados de Hollywood, depois que viram O Sexto Sentido com seu final e bilheteria espetaculares, não ficaram muito propensos a discordar.
A real é que todo mundo gosta do chamado final-surpresa. O cara ta lá, pensando que resolveu tudo, e de repente, de uma forma agathachristienesca , a percepção dele sobre o filme muda. Essa coisa de reviravolta no final dá tão certo que foi até utilizada como marketing: primeiro naquele lettering "Por favor, não conte o final deste filme" que acompanhava o teaser televisivo do genial A Vila; e também na divulgação do anti-genial O Amigo Oculto, pois os rolos que continham as últimas cenas chegaram nas salas de projeção apenas no dia da estréia, e escoltados por seguranças.
Aliás, O Amigo Oculto surge como exemplo perfeito do formulismo que Hollywood é capaz. É algo tipo "ei, se O Sexto Sentido teve uma reviravolta e deu dinheiro, vamos fazer outro filme que também tenha uma reviravolta e cujo título também comece com um artigo definido". Tudo bem, a obra estrelada por Robert DeNiro deu lá seus trocados para os produtores mas, peliculosamente falando, não passa de um fantasma (desculpem, não resisti) perto de O Sexto Sentido.
Isso porque, no final das contas, a reviravolta nada mais é do que um desfecho para o resto do filme. Ou seja, para ter um final foda, é preciso um roteiro muito bem trabalhado ao longo de toda a projeção. Não adianta simplesmente jogar a culpa no mordomo porque isso é coisa de novela: uma boa reviravolta é (normalmente) inesperada pois estamos atentos a outras questões da história e temos certeza de que ela vai seguir por determinado caminho. Quer fazer todo mundo soltar um "putaquepariu" na finaleira? Então, ao invés de escancarar isso, trabalhe para que o espectador não desconfie de nada. Afinal, de onde eu venho, a gurizada costuma ser surpreendida apenas quando não sabe o que vai acontecer - a menos, claro, que a idéia não seja fazer um filme com uma reviravolta, mas sim uma reviravolta com um filme (como é o caso de O Amigo Oculto). Aí não tem salvação.
A propósito, este texto não foi escrito pelo André, mas sim por mim, Fernando, irmão gêmeo dele.
Triha sonora de surpresa.
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