Um belo dia Frank Miller, autor das graphic novels Sin City e 300 de Esparta, estava de bobeira por aí quando foi abordado pelo diretor Robert Rodriguez. O cineasta mostrou uma curta história da Cidade do Pecado, filmada utilizando recursos próprios, e sugeriu a idéia de adaptar mais tramas em um longa-metragem - se o quadrinista não tivesse gostado do resultado, eles nem começariam o filme. E, na pior das hipóteses, Miller teria um vídeo legal que poderia mostrar pra gurizada.
Com orçamento de US$ 45,5 milhões, Sin City - A Cidade do Pecado não é exatamente um blockbuster. Na verdade, com sua censura alta, linguagem narrativa peculiar e enquadramentos "quadrinísticos", soa muito mais como uma aposta - quer dizer, não é exatamente o tipo de material que atrai muitas pessoas ao cinema, mas a vontade de rodar a adaptação foi tanta que Rodriguez se desligou do Director's Guild of America para poder contar com Miller como co-diretor. Além disso, não havia roteiro nem storyboard propriamente ditos, a não ser as páginas das graphic novels. O resultado foi uma obra que é única em termos de cinema e que arrecadou dólares suficientes para garantir sua continuação.
Do outro lado temos 300, adaptação que veio com status de "revolucionária" e 15 milhões de dólares a mais no orçamento. O diretor, Zack Snyder, manteve a censura 18 anos, mas mesmo com o sucesso de Sin City resolveu não apostar, transformando o filme em mais um blockbuster de 2007 (e nada de errado com blockbusters, muitos são bons): a obra é bastante comum em termos de estrutura, utilizando-se de convenções para não "espantar" o público, e mesmo seus recursos cinematográficos estão longe de ser inovadores (aliás, até mesmo a campanha de marketing, que propaga todos estes atributos revolucionários, foi bem comunzinha, embora inegavelmente eficiente). No final das contas, a obra de Zack Snyder é mais um Quarteto Fantástico (estou falando aqui da posição dos filmes no contexto cinematográfico atual).
Além do abismo de qualidade entre as duas películas (Sin City é uma obra-prima, 300 merece ser queimado nos projetores do inferno, na minha humilde opinião), a situação mostra como as "apostas" de Hollywood - as que dão certo, claro - acabam se tornando modelo para produções posteriores (Pânico - Lenda Urbana, Eu sei o que vocês fizeram no verão passado; Se7en - O Colecionador de Ossos, Jogos Mortais; Senhor dos Anéis - As Crônicas de Nárnia, A Bússola Dourada). E é interessante notar como os primeiros são sempre mais ousados, já que seus sucessores (normalmente) acabam incorporando algumas "regras" dos estúdios e produtores - talvez porque seja melhor prevenir do que remediar, mesmo. Mas eu não apostaria nisso.Marcadores: Peliculosidade |