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Coluna Filosófica
Kleiton - 08 agosto 2007 - 12:35
Em 2 de dezembro de 1970, Michel Foucault pronuncia sua aula inaugural no Collège de France, ao assumir a cátedra vacante de Jean Hyppolite. Essa aula acabou virando a obra A Ordem do Discurso (Loyola, 1996, 79 páginas). Uma obra com a qual tive contato alguns semestres atrás e que gosto de reler de vez em quando.

Nessa obra, Foucault analisa o que ele chama de "procedimentos internos e externos de controle e delimitação do discurso". Dentre os procedimentos internos, encontra-se o comentário. Foucault diz:

"Em suma, pode-se supor que há, muito regularmente nas sociedades, uma espécie de desnivelamento entre os discursos: os discursos que 'se dizem' no correr dos dias e das trocas, e que passam com o ato mesmo que os pronunciou; e os discursos que estão na origem de certo número de atos novos de fala que os retomam, os transformam ou falam deles" (p. 22, grifo meu)

Foucault diz que esse desnível desempenha dois papéis:

"Por um lado, permite construir (e indefinidamente) novos discursos (...) Mas, por outro lado, o comentário não tem outro papel, sejam quais forem as técnicas empregadas, senão o de dizer enfim o que já estava articulado silenciosamente no texto primeiro" (p. 25, grifo meu)

Esse discurso foi pronunciado em 1970, época sem internet, youtube ou marketing viral. Daí observamos campanhas como a The Art of the Heist, da Audi, executada em 2005, ou o recente buzz gerado pelo trailer do (supostamente chamado) Cloverfield, e nos damos conta que o ciberespaço não passa de um mero potencializador do "mundo real". Que o virtual não é um outro mundo, paralelo, mas que alimenta nossa vida cotidiana - e que também se alimenta dela. Que de 1970 pra cá, só houve o avanço técnico, porque a humanidade continua sendo a mesma, pensando da mesma forma, tratando os discursos do mesmo jeito.

Será essa tecnologia toda tão revolucionária assim?

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