Depois de uma noite etílica sem tanta patifaria quanto se esperava, mas repleta de erros gramaticais...
O telefone toca antes das dez da madrugada. Balbucio que estou dormindo, mas a insistência é tamanha que fui obrigado a me submeter à clássica situação de apoiar o telefone no rosto para não precisar tirar as mãos de baixo da coberta, e tentar articular frases ainda sob um estado semi-consciente e de olhos fechados.
No outro lado da linha amigo 1 assustado e com ar grave de preocupação me dizia que amigo 2 estava ‘muito mal’ em casa e precisava ser levado a um hospital. Mas como seu carro estava com pneu furado, queria saber se eu poderia fazer o serviço.
Prontamente saltei da cama e caí nas roupas, corri pro carro pegando um copo de achocolatado* nesse meio tempo. Transformei meu carro em uma ambulância e não tomei conhecimento das sinaleiras que cruzavam meu caminho.
Ao chegar na casa do amigo 2, deduzi que a preocupação do amigo 1 devia ser com o estofamento do meu carro. Amigo 2 estava mal e apresentava um grande e ameaçador potencial de fazer muita sujeira, mas não estava tão mal assim, dava até umas risadas.
No hospital, percebi uma inversão de valores. Enquanto eu, me formando para vender, estava exercitando meu lado salva-vidas; o pessoal do hospital, formado para salvar vidas, manifestava seu lado vendedor.
Na entrada, o estacionamento lembra o de um shopping, inclusive com botão na cancela para retirar um ticket – só faltou uma gravação com voz de criança psicótica desejando boas compras e feliz dia dos pais.
No atendimento, a pergunta não é “o que você está sentindo?” e sim “qual o seu convênio?”. Dependendo da resposta, as feições da atendente variam. E se a resposta é nenhum, o 'cliente' ouve uma lista de tarifas e é orientado a se dirigir ao caixa**. Antes de ser chamado pelo médico, o paciente ainda tem que preencher um cheque e deixar como caução, como quando a gente aluga um carro.
Tudo isso eu presenciei repetidas vezes nas quase duas horas em que esperei amigo 2 voltar da consulta. Eu também não estava me sentindo muito bem, achei até que era o ambiente hospitalar que me fazia mal; mas então lembrei da noite anterior e das poucas horas de sono que a separavam daquele momento. A conclusão me tranqüilizou: é a velha conhecida ressaca.
Não foi de todo ruim aquela espera, tem muita medica gata naquele hospital. Só que a melhor de todas era uma paciente que, portanto, não tava pra jogo... Ative-me então aos desenhos animados matinais da TV.
*Para dias pós-noitadas o cataclisma14 recomenda suco de uva, nunca achocolatado.
**Notem a ausência de aspas na palavra caixa. |